A fuga “que constituiu uma humilhação para a ditadura, mostrou a vulnerabilidade da cadeia de Peniche e a determinação dos resistentes” aconteceu em 17 de dezembro de 1954, data em que António Dias Lourenço (1915-2010) escapou da cela disciplinar do Forte de Peniche, situada no Fortim Redondo, denominada “O Segredo”, recorda o MNRL numa nota sobre a nova mostra temporária.
Com a exposição “O Segredo de António Dias Lourenço” pretende-se “comemorar esta fuga histórica e desvendar um pouco do segredo da vida de um dos mais respeitados resistentes ao regime”, referiu o MNRL.
A mostra, com inauguração marcada para as 15h00 do dia 19, tem ainda como objetivo “consciencializar as novas gerações de que a Liberdade que usufruem hoje assenta nas vidas daqueles e daquelas que fizeram da resistência ao fascismo o seu propósito”.
Considerado um homem “multifacetado, determinado e imaginativo”, António Dias Lourenço foi preso por duas vezes num total de 6.200 dias e, em ambas, torturado. De acordo com o museu, adotou “um ligeiro sorriso constante” para que os torturadores não lhe vissem o sofrimento.
Após o 25 de Abril de 1974, desempenhou um papel interventivo na implementação da democracia, sendo deputado constituinte, deputado na Assembleia da República, membro do Comité Central do Partido Comunista Português (PCP) e diretor do jornal Avante!.
Nascido em Vila Franca de Xira em 25 de março de 1915, António Dias Lourenço foi torneiro mecânico e aderiu ao PCP com 17 anos, tendo passado à clandestinidade em 1942, “assumindo a responsabilidade de tipografias e do aparelho central da distribuição da imprensa do Partido”, como recordou o PCP aquando da sua morte.
Membro do Comité Central entre 1943 e 1996, participou na organização das greves de julho e agosto de 1943 e maio de 1945, assinalou o PCP, que lembrou ainda os 17 anos que Dias Lourenço passou nas cadeias da ditadura.
Em 1949 foi preso e esteve em Caxias e no Aljube antes de ser mandado para Peniche, onde “eram comuns os castigos aos presos, colocados por longos períodos no ‘Segredo’, um pequeno espaço sem luz, localizado junto à muralha”, lembra o Museu do Aljube, no seu ‘site’.
“Foi durante um desses castigos que Dias Lourenço pôs em marcha o plano de fuga, cortando a almofada inferior da porta do ‘Segredo’ com uma faca. Os 15 dias de castigo não seriam, no entanto, suficientes para terminar a empreitada e Dias Lourenço fez por lá voltar. Na noite de 17 de dezembro de 1954 concluiu a tarefa de cortar o postigo. Saiu para o exterior e com corda feita de cobertores iniciou a descida para um mar de dezembro, frio e revolto”, conta a história publicada no ‘site’ do museu.
O problema, entre outros, é que “a corda de cobertores era demasiado curta e Dias Lourenço deixou-se cair para o oceano”, tendo nadado para terra, “com as dificuldades acrescidas pela maré que o empurravam para longe da costa, e graças à solidariedade dos trabalhadores de uma carrinha de peixe, que aceitaram escondê-lo e levá-lo ao Bombarral”.
A fuga foi contada no filme precisamente com esse título, de Luís Filipe Rocha, em 1977.
A exposição pode ser visitada até ao dia 25 de março de 2025, de terça-feira a domingo, entre as 10:00 e as 18h00.
O MNRL, na Fortaleza de Peniche, no distrito de Leiria, foi criado em 2017 e veio a abrir portas a 25 de abril de 2019, com a exposição "Por Teu Livre Pensamento", que antecipou os conteúdos do museu em construção.
A fortaleza, classificada como Monumento Nacional desde 1938, foi uma das prisões do Estado Novo, de onde se conseguiu evadir, entre outros, o histórico secretário-geral do PCP Álvaro Cunhal, em 1960, protagonizando um dos episódios mais marcantes do combate ao regime ditatorial.
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