"Nós chegámos à conclusão, e olhando para o mercado editorial português, de uma franca ausência de muitas autoras a editar livros em Portugal. Sabemos que a questão é transversal a outras áreas que não são a literária, mas por que não debater este tema da visibilidade na literatura", perguntou a diretora do Amadora BD.

Para responder a esta questão, o Amadora BD propõe uma exposição coletiva de quatro mulheres da banda desenhada - Joana Mosi, Patrícia Guimarães, Elléa Bird e Blanche Sabbah -, numa parceria com o festival de banda desenhada de Lyon, enquadrada na Temporada Cruzada Portugal-França.

Comissariada por Sara Figueiredo Costa, a exposição intitula-se "4 Quartos (E são nossos!)", dando visibilidade a trabalhos daquelas quatro autoras portuguesas e francesas, e será uma das peças centrais da 33.ª edição do Amadora BD.

A cenografia desta exposição é ainda inspirada na obra "Um quarto só seu", da escritora Virginia Woolf, que remete para a emancipação das mulheres, porque "viver da banda desenhada e da literatura é um luxo em Portugal", disse a diretora.

Tal como aconteceu em 2021, o festival tem o núcleo central da programação no Ski Skate Amadora Park, com exposições, encontros de leitores com autores e uma pequena zona de 'gaming', além de mostras previstas para a galeria Artur Bual e para a biblioteca Fernando Piteira Santos.

Serão mais de dez exposições programadas este ano pelo Amadora BD, com destaque para uma dedicada à novela gráfica "Balada para Sophie", de Filipe Melo e Juan Cavia, premiada no festival em 2021. No pavilhão central do festival estará um piano em diálogo com os desenhos originais de Juan Cavia e com a narrativa ficcional desta banda desenhada.

O Amadora BD associa-se ainda aos 60 anos da criação do super-herói de BD Homem-Aranha, com uma exposição de cerca de 50 originais provenientes de coleções privadas dos Estados Unidos, entre as quais do artista norte-americano Bob McLeod, que marcará presença no festival.

Sobre a programação desenhada para este ano, Catarina Valente sublinhou a atenção que é dada ao álbum "Les Portugais", com argumento de Olivier Afonso, francês filho de emigrantes portugueses, e desenho de Chico (nome artístico do autor francês Aurélien Ottenwaelter). Ambos estarão presentes no festival.

A exposição revela desenhos originais do álbum, editado em setembro pela Ala dos Livros, e conta com cenografia de Carlos Farinha, lusodescendente, autor de elementos criativos com recurso a malas de viagem.

"Temos três lusodescendentes a trabalhar em conjunto sobre um conteúdo que infelizmente ainda é muito atual em França. Os portugueses ainda continuam a ser tratados como 'les portugais' e 'les portugais' é um termo altamente pejorativo para a comunidade portuguesa", sublinhou Catarina Valente.

No recinto central do festival haverá outras exposições, nomeadamente uma dedicada à série "Armazém Central", de Régis Loisel e Jean-Louis Tripp, uma individual do artista português Nunsky, a propósito do álbum "Companheiros da Penumbra", e outra de Hugo van der Ding, intitulada "Versailles na Amadora".

Fora do Ski Skate Amadora Park, o festival passa pelas exposições dedicadas a André Carrilho e António Jorge Gonçalves (ambos na Galeria Artur Bual) e ao artista luso-brasileiro Jayme Cortez (1926-1987).

Pela primeira vez, o Amadora BD terá um espaço próprio dedicado ao 'gaming', para responder "à quantidade de solicitações do público que visitava o festival", reconheceu Catarina Valente.

A diretora sublinhou que esta área será complementar ao foco do festival - que é a banda desenhada -, mas que se propõe ser "uma experiência que passa pela realidade virtual, pela 'arcadas', pelos videojogos, 'cosplay' e mangá", que têm tido um "publico cada vez maior".

O Festival Amadora BD termina no dia 30 e voltará a contar com sessões de autógrafos com autores e apresentação de novidades literárias, entre as quais "Vistam todas as flores", do brasileiro Marcelo Quintanilha, pela editora Polvo, "Kong the King 2", de Osvaldo Medina, pela Kingpin Books, e "Dragomante volume 2: Prova de Fogo", de Manuel Morgado e Filipe Faria, pela A Seita.

Durante o festival serão ainda anunciados os vencedores dos prémios anuais de banda desenhada.

A organização, a cargo da Câmara Municipal da Amadora, espera superar os 18.000 visitantes da edição de 2021.

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