“Falei com o embaixador [de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro] que me confirmou o passamento da Celina [Pereira] e estou a aguardar mais informações, nomeadamente as questões do funeral e todos os detalhes”, disse o ministro.

Sem avançar mais detalhes sobre as causas e a hora da morte, Abraão Vicente disse que já falou também com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que também manifestou a sua tristeza e o seu pesar pelo falecimento da cantora, aos 80 anos.

“Neste momento inicial, todos os contactos estão a ser feitos para o senhor embaixador em Portugal que está a passar a informações para sabermos como é que nós podemos organizar aqui, para sabermos se podemos participar, estar presentes, honrar a memória da Celina”, continuou o governante.

Definida por Abraão Vicente como um “grande vulto da cultura cabo-verdiana”, o ministro disse à Lusa que Celina Pereira é ainda um “figura incontornável” não só da cultura, como artista de palco, mas também como investigadora.

“É alguém que, ligando a diáspora a Cabo Verde, tinha uma ligação muito especial com Cabo Verde, com a Boa Vista e com São Vicente, mas uma pessoa que se notabilizou pela forma pedagógica, pela sua entrega à causa cabo-verdiana, também como escritora e como amante da cultura total cabo-verdiana”, prosseguiu.

Para o titular da pasta da Cultura de Cabo Verde, Celina Pereira encarnava o espírito não só da diáspora, mas também da imigração cabo-verdiana e da eterna ligação da diáspora com as raízes no país.

Abraão Vicente sublinhou que Cabo Verde perdeu a primeira pessoa que verbalizou a ideia de se candidatar o género musical morna a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o que acabou por acontecer há precisamente um ano.

“O que fizemos no ano passado foi concluir o sonho de toda uma geração e Celina, com certeza, está no pelotão da frente dos que mais batalharam e mais fizeram para que o dossier de candidatura da morna tivesse sucesso no ano passado”, declarou.

O ministro disse que no ano passado gostaria que a cantora estivesse em plena saúde para fazer parte da comitiva que se deslocou a Bogotá, na Colômbia, o que seria “um prémio merecido para ela”.

Abraão Vicente garantiu que a cantora já está perpetuada na memória coletiva de Cabo Verde, estando entre as figuras que foram homenageadas recentemente na Casa da Morna, em São Nicolau, e será uma das “figuras centrais” da mesma estrutura projetada para a ilha da Boa Vista.

“Celina Pereira estará sempre entre as figuras a lembrar e a marcar como parte da daquilo que é o percurso do folclore cabo-verdiano”, concluiu o ministro nas declarações à Lusa.

Natural da ilha cabo-verdiana da Boavista, sobrinha de Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde, Celina Pereira viu o seu primeiro 'single' "Bobista, Nha Terra/Oh, Boy!", editado em 1979, mas só em 1986 lançou o primeiro disco "Força di Cretcheu" (Força do Meu Amor), que inclui histórias e cantigas de roda, brincadeira, casamento e trabalho.

Seguiu-se depois "Estória, Estória... No Arquipélago das Maravilhas" (1990), "Nós Tradição" (1993), "Harpejos e Gorjeios" (1998) e "Estória, Estória... do Tambor a Blimundo" (2004).

Em 2003, Celina Pereira foi condecorada com a medalha de mérito - grau comendadora - pelo Presidente português, Jorge Sampaio, pelo trabalho na área da educação e da cultura cabo-verdiana.

Em 2014, foi galardoada com o Prémio Carreira na 4.ª edição do Cabo Verde Music Awards (CVMA).