Francisca Cortesão fundou Minta & The Brook Trout há 15 anos, é ela que habitualmente assina e interpreta as composições, liderando uma formação maleável, da qual fazem parte Mariana Ricardo, Margarida Campelo e Tomás Sousa. Ao vivo juntar-se-á Afonso Cabral.

"Demolition Derby" foi trabalhado entre 2018 e finais de 2020, ou seja, o processo de trabalho das maquetas, os ensaios, a produção e a gravação foram intermitentes por causa de uma pandemia e de meses de confinamento.

"Fiquei mais tempo eu só com as músicas do que é costume. Quando nos juntámos foi uma alegria. Houve ali um período de seca, mas assim que acabámos de gravar e fazer a pós-produção, voltámos a confinar. E houve uma parte final de gravação que foi feita à distância. Logisticamente complicou-nos bastante a vida", explicou Francisca Cortesão.

Sobre as oito canções do novo álbum, Francisca Cortesão descreve-as como "um bocadinho apocalípticas", umas mais dramáticas que outras e numa mesma medida de contenção: "As músicas, às vezes, são recados que dou a mim própria. Faço essas observações. Não tentar corrigir-me e estar sempre bem disposta e ter pensamentos mais lavados".

"Demolition Derby", que tem trabalho gráfico do ilustrador Bernardo B. Carvalho, remete também para um desporto dos Estados Unidos, de corridas de veículos danificados, que chamaram a atenção de Francisca Cortesão pela bizarria, pela aliteração do nome e porque a essência do desporto lhe remete para a vida.

"Pareceu-me uma coisa que englobava, por um lado, a fase meio tumultuosa em que eu estava na altura em que escrevi grande parte destas músicas e, por outro lado, a minha irritação constante com aquilo que estamos a fazer com o mundo: comprar coisas para deitar fora, comprar coisas para deitar fora e estragando cada vez mais o mundo. Houve ali um 'clique' qualquer quando eu vi a imagem [das corridas] e disse 'é mais ou menos o sítio onde eu estou’", resumiu.

Francisca Cortesão, que nasceu no Porto em 1983 e vive em Lisboa desde o final da adolescência, que um dia ainda ponderou ser jornalista, mas decidiu dedicar-se apenas à escrita de canções e à tradução, terá sempre este álbum associado a um tempo ensombrado.

"Uma das coisas que gosto neste trabalho, não só com Minta, mas com outros projetos, é que trabalho com gente de quem gosto muito, e há este lado muito gregário de estarmos sempre juntos a ensaiar, vamos tocar e jantar fora. Tudo isso desaparece e o que sobra é uma sombra muito estranha e tenho muitas saudades disso", desabafou.

Além de Minta & The Brook Trout, Francisca Cortesão faz parte dos They're Heading West, toca com Lena d'Água, com o guitarrista Bruno Pernadas, está no projeto Mão Verde, com Capicua e Pedro Geraldes, e tem ainda em preparação outro com Sérgio Nascimento e Isabel Minhós Martins. E tudo isto foi engolido pela paralisação do setor da Cultura.

"O meu ano de 2020 ia ser, se calhar, o ano com mais concertos desde 2010, desde o tempo em que tocava com o David Fonseca. Nuns casos foram adiamentos e noutros casos foram cancelamentos, sem retorno, sem remarcação e sem compensação para nós. A nível financeiro foi complicado para muita gente e para mim também foi um bocadinho", admitiu.

Francisca Cortesão recorreu, "pela primeira vez na vida", à Segurança Social e recorda meses pouco produtivos: "Houve uma altura um bocado frustrante e nada produtiva, só estava irritada por não ter trabalho. (...) E eu não sei lidar com isso, pelo lado financeiro e pelo lado 'o que é que uma pessoa faz à cabeça' se não pode ir ao cinema, não pode ir a concertos, não pode ir a museus, não pode estar com amigos, não pode ir trabalhar".

Com o plano de desconfinamento em marcha - as salas de espetáculos reabrem na segunda-feira -, Minta & The Brook Trout apresentarão o novo álbum em concerto a 24 de maio, no Teatro Maria Matos, em Lisboa.

"Quem sabe como é que vai ser o ano?", pergunta a cantora. Mas, "se tudo correr como está previsto, até setembro vai acontecer muita coisa".

Por via das dúvidas, Francisca Cortesão continuará a preencher o calendário de trabalho a lápis. "Marco tudo a lápis na agenda para depois apagar. Tem sido mais apagar do que marcar, e apagar o reagendamento do reagendamento".