Nascido em 1942 numa comunidade no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, ‘Bituca’ (como é carinhosamente chamado desde criança por fazer bico quando contrariado e também em referência aos índios botocudos) deparou-se cedo com o primeiro desafio imposto pela vida. Depois de perder a mãe (vítima da tuberculose) e ser abandonado pelo próprio pai, foi entregue aos dois anos à avó materna, que residia na cidade mineira de Juiz de Fora.
Aos seis anos, Milton foi viver em Três Pontas, após ser adoptado pelo bancário e professor de matemática, Josino Campos, e pela professora de música, Lília Campos. Aos 13 ganhou o seu primeiro violão e, para alegria de todos, nunca mais parou de tocar e cantar.
Para dizer adeus ao público, o músico incluiu Portugal na digressão final, lembrando a sua primeira passagem pela Europa no início de 1980. Segundo ele, a ‘terrinha’ já o recebia de braços abertos. Desde então, o artista nunca mais deixou de se apresentar por cá. "Portugal sempre fez parte da minha vida. E é um dos lugares onde mais gosto de fazer concertos em todo mundo. sFaço sempre questão de cantar para os fãs portugueses", explica.
Hoje, aos 79 anos e pronto para iniciar "A última sessão da música" em solo lusitano, Milton Nascimento confessa que não quer parar de escrever. "Posso dizer que sou muito feliz por ter tido a sorte de cantar (e também de compor) ao lado de grandes ídolos e amigos, como Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Gal Costa, Mercedes Sosa, Pat Metheny, Peter Gabriel, James Taylor, Cat Stevens, Joe Anderson, Paul Simon, Duran Duran, Bjork e Esperanza Spalding", relembra.
E isso, de não querer parar de produzir, fica evidente quando pensamos no presente. A canção "Me Corte Na Boca Do Céu A Morte Não Pede Perdão" foi a mais recente parceria de Milton em "Sobre Viver", o novo álbum do rapper Criolo. No mês passado, "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC’s, foi eleito o nono melhor disco brasileiro já lançado na história, numa lista onde o próprio Milton aparece em primeiro lugar com Clube da Esquina.
"Pra mim, o mais importante é a música tocar o coração das pessoas. Se for rap, rock, não importa o rótulo, se emocionar já valeu à pena”, elucida ao responder se a poesia e o ritmo do rap podem inspirar a revolução brasileira.
A respeito dos trabalhos de artistas portugueses, Semente da Terra (nome de batismo concedido a Milton Nascimento pelos índios Guarani-Kaiowá) diz que, seja fado ou outros estilos musicais, existem nomes que nunca ficariam de fora da sua lista.
"Independente do género, enão posso deixar de citar Carminho, António Zambujo e, mais recente, a Maro", pontua.
Ciente da cronologia construída em seis décadas de dedicação à arte de compor e cantar, Milton ainda encontrou o ponto certo em que “as portas do mundo se abriram” para receber um talento lapidado pela superação.
"Outro acontecimento que marcou muito a minha carreira foi esse, de quando Wayne Shorter me convidou para gravar com ele, nos Estados Unidos, o disco 'Native Dancer', considerado um marco na WORLD music. Com isso, as portas do mundo se abriram. Através desse disco com Wayne, minhas músicas chegaram até Stan Getz, George Duke, e Sarah Vaughan.”, finaliza.
Milton Nascimento atua em Lisboa (dia 23 de junho, no Coliseu dos Recreios), Castelo Branco (dia 26, no Cineteatro Avenida), Porto (dia 29, na Casa da Música) e Évora (3 de julho na Feira de São João).
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