O cineasta francês Benoît Jacquot, acusado de violência sexual pela atriz Judith Godrèche, será apresentado à justiça francesa na quarta-feira após 48 horas sob custódia policial, enquanto o cineasta Jacques Doillon, também acusado pela atriz, foi libertado sem acusação, apurou a France-Presse na terça-feira junto de fontes próximas do caso.
Benoît Jacquot “poderá finalmente expressar-se perante os tribunais”, reagiu a sua advogada, Julia Minkowski, que denunciou uma custódia policial “questionável”.
“Uma audiência em liberdade deveria ter sido decidida”, acrescentou.
Para Marie Dosé, advogada de Jacques Doillon, “nenhum dos critérios legais pode justificar esta medida” de custódia policial “36 anos” depois dos factos denunciados por Judith Godrèche.
O seu cliente “deveria ter sido ouvido no âmbito de uma audiência livre dada a antiguidade dos factos, a sua prescrição adquirida há mais de duas décadas, e o inevitável arquivamento do processo que encerrará esta investigação”, acrescentou em comunicado.
As duas advogadas denunciaram os “ataques à presunção de inocência” dos seus clientes e a cobertura mediática destas medidas.
Segundo fontes próximas do caso, esta custódia policial poderia permitir acareações entre os realizadores e algumas das atrizes que os acusam, incluindo Godrèche.
No início de fevereiro, a atriz de 52 anos provocou uma nova tempestade no #MeToo francês ao acusar sucessivamente Benoît Jacquot de violação e a seguir Jacques Doillon de agressão sexual, e apresentar as queixas correspondentes na Justiça.
A investigação da Procuradoria de Paris centra-se em alegados crimes como violação de um menor com menos de 15 anos por uma pessoa com autoridade, violação, violência doméstica e agressão sexual de um menor com menos de 15 anos por uma pessoa com autoridade.
Jacquot e Godrèche começaram o relacionamento na primavera de 1986, quando ela tinha 14 anos, e viveram juntos abertamente até à separação em 1992, chegando a comprar um apartamento em Paris.
Godrèche descreveu a relação como de "dominação" e "perversão".
Os pais da atriz concordaram em dar-lhe emancipação legal para continuar aquela relação, que ficou conhecida na comunicação social e no mundo do cinema.
Duas outras atrizes denunciaram Jacquot: Julia Roy por agressão sexual, e Isild le Besco, no final de maio, por violação de menor de 15 anos e violação, alegadamente ocorrido entre 1998 e 2007.
Jacquot, realizador com mais de 50 filmes e filmes para TV em seu nome, como "L'école de la chair" (1998),"Sade" (2000), "Adeus, Minha Rainha" (2012), "3 Corações" (2014), "Diário de Uma Criada de Quarto" (2015) e "Eva" (2018), disse que precisava estar “apaixonado” pelas suas atrizes para filmá-las.
Ele trabalhou com pesos pesados consagrados como Catherine Deneuve e Isabelle Huppert, mas também com Virginie Ledoyen - conhecida internacionalmente pelo 'thriller' de 2000 "A Praia" - e Le Besco quando era adolescente.
Em 2015, ele descreveu o seu trabalho como “empurrar uma atriz para ultrapassar um limite... a melhor maneira de fazer tudo isso é estar na mesma cama”.
Já Doillon tem trinta filmes no seu currículo, com destaque para o premiado "Ponette" (1996) e "La drôlesse" (1979), "A Pirata" (1984), "O Pequeno Criminoso" (1990), "Le jeune Werther" (1993) e, mais recentemente, "O Casamento a Três" (2010) e "Rodin" (2017).
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