
“Questiono o quão difícil parece ser para os luso-americanos, este grupo étnico vibrante e disseminado, chegar ao mainstream da literatura americana, como outros grupos étnicos chegaram”, notou Frank X. Gaspar, filho de emigrantes açorianos que cresceu em Provincetown, Massachusetts.
“Somos escritores vibrantes e temos histórias interessantes. A diáspora portuguesa é algo que pode alimentar a literatura para sempre”, continuou. “Mas parece que somos marginalizados”.
Organizada pelo Centro de Estudos Portugueses da UMass Lowell, a sessão intitulada “Sea, Sentimento and Saudade” destacou a obra dos dois poetas lusodescendentes, incluindo leituras escolhidas do novo livro de Millicent Borges Accardi, “Through a Grainy Landscape”.
“É intrigante para mim que antes dos anos oitenta e noventa foi por uma espécie de acaso que escritores [luso-americanos] chegaram ao mainstream”, afirmou a poetisa.
“As coisas estão melhores agora”, considerou, referindo que nos últimos anos conheceu “centenas” de escritores e artistas lusodescendentes. “Se há uma chave mágica é a união”, disse, falando de “construir uma comunidade” e “formar novas alianças” para cinzelar o espaço da literatura luso-americana.
A escrita de ambos os poetas é fortemente influenciada pela experiência de emigração dos pais e avós, que deixaram Portugal para procurar uma vida melhor nos Estados Unidos.
“Sempre fiquei impressionado com a coragem que é necessária para ir embora, ir para outra terra e começar uma vida nova, aprender uma língua nova”, disse Frank X. Gaspar. “Estas pessoas fizeram-no com coragem e humildade”, afirmou. “Foi encantador crescer português em Provincetown”.
Mas nem Gaspar nem Accardi falam bem português, algo que tentaram corrigir mais tarde na vida adulta.
“Nós assimilamos. Essa é a razão pela qual falo tão mal português”, disse Frank X. Gaspar. “A língua desapareceu na minha geração.”
Accardi anuiu, contando que “não havia a noção de lares bilingues” e que, embora ela quisesse aprender português, não teve essa oportunidade enquanto crescia.
“A assimilação passa por começar do zero e talvez a língua fosse considerada uma coisa negativa”, disse. Falar português “era como se fosse um defeito”.
A histórica assimilação dos emigrantes portugueses pode ter dado menor visibilidade à cultura luso-americana, o que influenciou a visibilidade da sua literatura.
“Mesmo nos meus estudos de história mundial não apanhei qualquer autor português”, referenciou Frank X. Gaspar.
O poeta lembrou uma visita a uma grande livraria com autores de todo o mundo onde não conseguiu encontrar qualquer de origem portuguesa. “Qual é o problema que temos aqui?” questionou. “O que é estamos a fazer de errado?”
Frank Sousa, diretor do Centro de Estudos Portugueses que moderou a sessão, disse que existe agora uma “massa crítica” de autores luso-americanos e que este poderá ser um momento de transição.
O professor também lembrou que a tradição de grande literatura por escritores de origem nórdica ou irlandeses-americanos tendeu a dissipar-se, porque com as gerações os descendentes deixam de ser considerados étnicos e são apenas grandes autores americanos.
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