
A defesa do ex-magnata do cinema Harvey Weinstein, novamente julgado por agressões sexuais e violação, pediu na terça-feira aos jurados a absolvição do seu cliente perante as acusações de "mulheres com sonhos destruídos", mas o Ministério Público deixou claro que ele as "violou".
O outrora todo-poderoso produtor de Hollywood, de 73 anos, voltou ao banco dos réus após um tribunal de apelo do estado de Nova Iorque anular, em 2024, uma pena de 23 anos alegando erros processuais no primeiro julgamento.
"Se há alguma dúvida sobre o caso, têm que descartá-lo", pois as suas acusadoras "são todas mulheres com sonhos destruídos", disse o advogado de defesa Arthur Aidala sobre as mulheres que depuseram contra Weinstein.
Mas a procuradora Nicole Blumberg trouxe o júri "de volta à realidade".
"Estamos aqui porque ele violou três pessoas", lembrou aos 12 membros do júri que decidirão o destino do antigo produtor.
Após as alegações finais das partes, provavelmente na quarta-feira, o juiz Curtis Farber, do Tribunal Penal de Manhattan, dará as instruções ao júri, que poderá retirar-se para deliberar sobre a culpa ou não de Weinstein, que já cumpre outra pena de 16 anos, imposta por um tribunal de Los Angeles, também por agressão sexual.
Weinstein, cuja queda provocou em 2017 o início do movimento #MeToo, que revelou abusos sexuais no mundo do trabalho, comparece desde 15 de abril num tribunal em Nova Iorque após a anulação, no ano passado, da sua condenação em 2020 a 23 anos de prisão.
O cofundador da produtora Miramax é acusado pela antiga assistente de produção Mimi Haley e pela ex-modelo polaca e aspirante a atriz Kaja Sokola de agressões sexuais em 2006, e de violação pela atriz Jessica Mann, em 2013.
"Foi violação"
A defesa alegou que as relações foram consentidas, tratando-se de uma "transação", um "teste do sofá" entre mulheres jovens que "utilizam a sua beleza, os seus encantos" e um homem mais velho que lhes podia abrir portas.
Mas a procuradora Blumberg respondeu: "Não houve transação", "foi violação".
Para a defesa, a prova da sua teoria é que todas continuaram em contacto com o produtor após as alegadas agressões, o que elas não negaram.
"Todas mantiveram" as relações com ele, porque "sabiam que precisavam estar do seu lado", argumentou Blumberg. "Temiam as represálias" do produtor de sucessos de bilheteira como "Pulp Fiction" e "A Paixão de Shakespeare".
E "enterraram o seu trauma como se nada tivesse ocorrido", acrescentou a procuradora.
Sokola relatou no julgamento, entre lágrimas, que foi agredida sexualmente pela primeira vez pelo magnata quando tinha 16 anos, um caso que já prescreveu. Depois sofreu outra agressão aos 19, pela qual ele está a ser julgado.
"Disse-lhe para parar [...], mas ele não me ouviu", disse a polaca, que passou por problemas de saúde mental.
Miriam Haley declarou que havia implorado, em vão, ao produtor para não ser forçada a manter relações sexuais.
Weinstein, que tem aparecido diariamente numa cadeira de rodas, fisicamente abatido, mas a rir e a brincar com a sua equipa jurídica, é acusado de agressão sexual em primeiro grau contra Haley e Sokola, e de violação em terceiro grau contra Mann.
Haley e Mann foram as denunciantes iniciais que o levaram a julgamento em 2020.
Mais de 80 mulheres acusaram Weinstein de assédio, agressão sexual ou violação, incluindo atrizes consagradas como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Ashley Judd.
Oito anos após as primeiras acusações, que causaram um alvoroço mundial, e a nova realidade política nos EUA, os advogados do réu esperam que o clima atual lhe seja mais favorável.
Em 2020, quando aconteceu o seu primeiro julgamento em Nova Iorque, havia manifestações quase diárias contra a violência sexual à frente do tribunal.
Comentários