Os advogados da armeira de "Rust" responsabilizaram Alec Baldwin, esta quinta-feira (22), pelo disparo fatal no set do western, durante os argumentos de abertura do julgamento de Hannah Gutierrez, que o Ministério Público caracterizou como "pouco profissional e desleixada".
A diretora de fotografia Halyna Hutchins morreu depois de ser atingida por um tiro saído da arma que Baldwin, protagonista da longa-metragem, manuseava durante um ensaio da rodagem no estado do Novo México, em 2021.
A responsável pelas armas do filme, Hannah Gutierrez, também conhecida como Hannah Gutierrez-Reed, responde à acusação de homicídio involuntário, crime que naquele estado americano pode ser penalizado com até 18 meses de prisão.
Baldwin, que também é um dos produtores de "Rust", enfrentará ainda o seu próprio julgamento por homicídio involuntário no mesmo tribunal na cidade de Santa Fé.
O ator de 65 anos declarou-se inocente e insiste que não puxou o gatilho. Além disso, argumenta que, enquantoator, deveria poder contar com a equipa técnica no local das gravações.
Mas Baldwin foi o centro dos argumentos da defesa de Gutierrez, que é a primeira pessoa a ser julgada pela tragédia e também se declarou inocente das acusações contra ela.
"O senhor Baldwin, um dos principais produtores, protagonista do filme, ele realmente controlava o set. Vocês vão ouvir que ele violou algumas das regras de segurança mais básicas no manuseio de armas", disse o advogado Jason Bowles.
O Ministério Público abriu o caso caracterizando a armeira de 26 anos como consistentemente "pouco profissional e desleixada".
O procurador Jason Lewis afirmou que Gutierrez não verificou adequadamente a arma de Baldwin, que com frequência se apressava ou saltava os procedimentos de segurança, e rotineiramente deixava pistolas e munições desacompanhadas no set.
Um técnico da cena do crime disse que foram encontradas balas reais soltas juntamente com outras falsas em cima de um "carrinho de utilidades" e em cartucheiras usadas pelos atores, incluindo Baldwin.
"Os indícios mostrarão que a arguida tratava os protocolos de segurança como se fossem opcionais", disse Lewis.
'Estão bem?'
Os procuradores mostraram imagens, extraídas da câmara corporal de um dos polícias, dos últimos minutos de vida de Hutchins, onde ela é vista no chão da capela que fazia parte do set enquanto era tratada por paramédicos.
Ao lado dela, o realizador Joel Souza, que sobreviveu após ser atingido de leve pelo mesmo tiro, é ouvido a queixar-se da dor enquanto Hutchins, em silêncio, é levada para uma ambulância.
Um segundo vídeo mostra Gutierrez em pânico repetindo "Oh, meu Deus", "Desculpem", e "Estão bem?", enquanto entrega a arma à polícia. Ela então é encaminhada para uma viatura e começa a hiperventilar.
Uma das principais questões à volta da morte de Hutchins é como uma bala real chegou à arma de Baldwin.
Os procuradores apresentaram uma foto de Gutierrez em que ela segura uma bala dentro de um cartucho, mais de uma semana antes do incidente.
"Isto significa que as balas reais não poderiam ter sido [...] fornecidas por outra pessoa senão pela senhora Gutierrez", alegou Lewis.
Mas a defesa contestou, dizendo que não era possível distinguir entre uma bala real e uma cenográfica apenas por fotos.
"Bode expiatório"
O julgamento é a mais recente tentativa de responsabilizar alguém pela tragédia que chocou Hollywood.
Bowles, em nome da defesa, disse que houve falhas nos indícios recolhidos pela polícia, e que os produtores do filme queriam fazer de Gutierrez um "bode expiatório".
Segundo ele, Gutierrez tinha duas funções: além de ser armeira, assumiu o cargo de assistente de contra-regra. Cumpria tarefas como enrolar "cigarros para cowboys", o que comprometia o seu tempo a tratar da segurança das armas, indicou.
Os indícios mostrarão que ter uma "armeira a meio tempo" num filme com tantas armas era "uma ideia terrível, mas foi o que fizeram", afirmou Bowles.
"O senhor Baldwin é um dos principais produtores" de "Rust", lembrou o advogado.
O julgamento de Gutierrez deve durar duas semanas, enquanto Baldwin pode ser chamado ao tribunal nos próximos meses.
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