Os advogados de Amber Heard afirmaram esta terça-feira que a atriz viveu um inferno durante o seu casamento com Johnny Depp, ator convertido, segundo eles, num "monstro" pelo consumo de drogas e álcool, com "ataques de raiva" que terminaram em agressões verbais, físicas e sexuais.

Ambos se acusam de difamação num julgamento perto de Washington que partiu de uma coluna publicada no Washington Post em 2018, na qual Amber Heard descreveu-se como uma "vítima de violência doméstica" assediada pela sociedade após ter denunciado Depp dois anos antes.

Os advogados do ator de "Piratas das Caraíbas" denunciam acusações falsas que tiveram um efeito "devastador" na sua carreira.

Elaine Bredehoft, advogada de Amber Heard

Amber Heard "amou o lado de Johnny que vemos nos filmes, carismático, charmoso, generoso. Esse é o homem por quem ela se apaixonou", disse a sua advogada Elaine Bredehoft ao júri.

"Mas, infelizmente, o monstro apareceu e esse monstro aparecia quando bebia ou usava drogas", acrescentou, mencionando cocktails de álcool, medicamentos, cocaína, ecstasy e cogumelos alucinogénios.

Johnny Depp tinha nele "uma raiva enorme" que o transformou num "demónio" e "foi durante esses episódios de raiva que ele atacava verbalmente, psicologicamente, fisicamente e sexualmente" Amber Heard, explicou Bredehoft.

Ela relatou várias cenas de violência, principalmente em março de 2015 na Austrália, onde Depp filmava o quinto "Piratas das Caraíbas".

Maquilhagem

Christie Dembrowski, a irmã mais velha de Johnny Depp, durante o seu testemunho

A atriz nunca se separava do seu kit de maquilhaagem para esconder os hematomas no rosto, disse a advogada, que planeia mostrar ao júri "fotos chocantes" de Heard com "contusões, lábios partidos, cabelo arrancado".

"Vão ver o verdadeiro Johnny Depp, para além da passadeira vermelha, da fama, do dinheiro e das fantasias de pirata", havia dito anteriormente outro advogado da atriz, Ben Rottenborn.

Do outro lado, o advogado do ator, Benjamin Chew, denunciou que "Amber Heard mudou para sempre a vida e a reputação de Depp e irão ouvi-lo contar o terrível impacto que isso teve na sua vida", afirmou, dirigindo-se ao júri.

Segundo ele, Heard acusou o seu marido de violência em 2016 para se vingar por ele ter pedido o divórcio.

Dois anos depois, no seguimento do "movimento #MeToo" e "pouco antes da estreia do filme 'Aquaman'", no qual participou, a atriz "escolheu recordar ao mundo essas acusações venenosas num jornal conhecido a nível mundial", apontou.

A irmã de Depp, Christi Dembrowski, descreveu no seu depoimento um relacionamento conjugal tóxico com uma jovem "sempre conflituosa", que "exagerava" os problemas de drogas e álcool do marido e o chamava de "velho gordo".

"Dior é classe e estilo, e tu não tens estilo", teria dito em certa ocasião, quando conversavam sobre um contrato de publicidade com a marca, contou Christi.

Liberdade de expressão

Amber Heard esta terça-feira no tribunal

Na sua coluna no jornal, Amber Heard, de 35 anos, não cita Depp, de 58, que conheceu em 2009 e com quem se casou em 2015.

Um ano depois, pediu uma ordem de restrição, afirmando que o ator tinha batido nela. Mas desistiu dessas acusações como parte do acordo de divórcio, que foi finalizado em 2017.

Após a publicação da coluna, Depp, que nega a agressão, entrou com uma ação de difamação contra Amber Heard, pedindo 50 milhões de dólares por danos.

A atriz, por sua vez, entrou com um processo de difamação em que pede 100 milhões de dólares pela continuação dos "abusos" e "assédio" que Depp lhe impôs durante o casamento.

O ator entrou com a ação no estado da Virgínia, onde o Washington Post é impresso e onde o marco legal é mais favorável às denúncias de difamação do que na Califórnia, onde os dois atores residem.

Este caso centra-se principalmente no âmbito da "Primeira Emenda" da Constituição dos EUA, que confere a Amber Heard "o direito de dizer as palavras que disse", respondeu Rottenborn, e pediu ao júri que "confirme e proteja" esse direito.

Os dois ex-cônjuges assistem ao julgamento, transmitido ao vivo pela televisão, e que durará semanas. A lista de testemunhas é digna de filmes de Hollywood, como o multimilionário Elon Musk, os atores James Franco e Paul Bettany, e a atriz Ellen Barkin.

Este julgamento recorda o realizado em 2020 em Londres, quando o ator processou a editora do tabloide The Sun por um artigo que o apresentava como um marido violento.

Depp admite ter abusado de drogas e álcool, mas insiste que nunca bateu numa mulher.