Os Gojira encerraram a primeira noite do VOA - Heavy Rock 2022, com toda a expertise adquirida nos seus mais de 25 anos de estrada.
Com o sol a pôr-se mais tarde na temporada de verão, a banda alemã Kreator (que está a celebrar 40 anos de atividade este ano) trouxe o seu trash metal aniquilador a Portugal de forma altamente vigorosa, mais uma vez.
Os pontos mais impactantes da atuação, que começou pouco depois das 19h00 programadas, ocorreram ao som de 'Awakening of the Gods' e 'Flag of Hate', as quais fizeram com que três rodas enormes se abrissem no meio do público em circle pits ensandecidos.
O grupo está em digressão para divulgar o seu novíssimo álbum, 'Hate Über Alles', que foi lançado a 10 de junho. E a faixa-título foi a escolhida para apresentar o novo trabalho ao público metaleiro - com muito boa aceitação, por sinal.
Depois, foi a vez dos Megadeth, que brindaram a todos os ávidos pelo virtuosismo do speed e do heavy metal. O arranque, com 'Hangar 18', colocou toda a gente a mover-se.
'Dread and the Fugitive Mind', 'The Threat Is Real Play' e 'Angry Again' deram andamento a todo vapor e mantiveram a ligação aos espectadores de forma incessante.
Houve projeções com representações gráficas relacionadas com a temática das canções, criando uma envolvência absolutamente contagiante.
Ao fim de 'Dystopia', o renomado guitarrista brasileiro Kiko Loureiro foi aclamado pelo público. Aos gritos de "Kiko, Kiko, Kiko" uma longa salva de palmas veio com o devido reconhecimento pela tecnicidade louvável do músico nos seus solos primorosos.
No entanto, o tema que mais mexeu com os assíduos seguidores dos Megadeth foi mesmo 'Symphony of Destruction' (do álbum 'Countdown to Extinction' de 1992).
O vocalista e guitarrista, Dave Mustaine, olhou de um lado ao outro, respirou fundo, aproximou-se do microfone e disse: "Eu não quero ir embora!"
Porém, ele já havia ressaltado um pouco antes que vai estar de volta muito em breve, tendo em conta que no dia 2 de setembro deste ano vai sair 'The Sick, the Dying… and the Dead!' (o tão aguardado décimo sexto álbum de estúdio da banda norte-americana).
A derradeira foi a famigerada 'Holy Wars… The Punishment Due' (do início dos anos 1990) que, claro, teve um gostinho bom de 'até já'!
Chegou então o momento de aguardar a montagem da imponente estrutura de palco dos franceses Gojira. E após 17 minutos de atraso (das 23h00 estabelecidas no cronograma do evento), foi a vez de a espera acabar e finalmente podermos ouvir as harmónicas de guitarra entre o rufar da caixa na introdução de 'Born for One Thing' (que também abre 'Fortitude', o mais recente álbum do grupo, de abril do ano passado).
Sem tempo para assimilar o arranque repleto de energia deste regresso às atuações ao vivo de Joe Duplantier (na voz e na guitarra base), Mario Duplantier (na bateria) Christian Andreu (na guitarra) e Jean-Michel Labadie (no baixo), a pesada e poderosíssima 'Space Time' veio praticamente adjunta à intro.
Só então é que Joe saudou os seus espectadores dizendo: "É disto que se trata, muito obrigado por nos receberem. O próximo tema é chamado 'Backbone'!"
A seguir presentearam-nos com as magníficas 'Stranded', 'Flying Whales' e 'The Cell'. E aí o vocalista tentou falar um bocadinho de português: "queres mais chá?" (foi o que saiu, com muito custo, com a clara intenção de ter dito "querem mais uma?" ou "já querem mais?"). Só que toda a gente aplaudiu o esforço na mesma.
Ele então voltou ao inglês e perguntou se queríamos ouvir mais um tema velho, do primeiro álbum ('Terra Incognita', de 2001). Obviamente um uníssono geral de "yeah" foi respondido de prontidão. Assim, 'Love / Remembrance' foi iniciada numa atmosfera eufórica. Seguida por 'Hold On', 'Grind' e 'Silvera' o concerto continuou infalível.
Ainda houve tempo também para 'Another World' (que teve a sua animação do videoclipe oficial reproduzida no grande ecrã, posicionado atrás dos músicos), além da emblemática 'L'enfant sauvage', da mais nova 'The Chant' e, por fim, da emocionante 'The Gift of Guilt'.
Esse segmento fez com que o público clamasse por mais. E aos gritos de "Gojira", o encore surgiu com as aguardadíssimas 'New Found' e 'Amazonia' (ambas constam do álbum 'Fortitude', o mais recente do grupo). Sendo que essa última traz a temática das queimadas criminosas ocorridas na região amazónica brasileira. O ano de 2021 foi o terceiro ano com o pior índice de queimadas registradas no Amazonas, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe). Entre janeiro e novembro do ano passado, para se ter uma ideia, foram registados mais de 14 mil focos de incêndio.
Em junho, mês passado deste ano, o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira foram assassinados, esquartejados, queimados e tiveram parte dos seus corpos enterrados na mata. A segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari, tem sido um local de matança de indígenas para o avanço ilícito do garimpo.
Infelizmente, não só a floresta está a arder, mas todos os que se dispõem em defesa dos povos originários do território hoje conhecido como Brasil.
E os membros do Gojira sabem da importância iminente que temos ao nos assegurarmos de que 'o pulmão do mundo' continue a propiciar-nos uma Terra em que possamos habitar.
Força, Gojira!
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