Em declarações à agência Lusa, dias antes do começo do festival no sábado, Tiago Rodrigues frisou que a edição deste ano do certame terá “dois momentos fundamentais”: O primeiro será a “grande quantidade de espetáculos em língua espanhola” – a língua convidada desta edição -, com espetáculos oriundos de Espanha, Argentina, Chile, Peru, Uruguai, contando ainda com a participação de artistas provenientes da Bolívia, do México e da Colômbia.
Outro dos enfoques do festival vai estar nas criações de artistas franceses a partir de património cultural de língua espanhola, como a encenação de “Quichotte”, por Gwenael Morin, protagonizada pela atriz e cantora francesa Jeanne Balibar.
Uma das linhas fundamentais da programação deste ano reside no facto de haver “um artista cúmplice”, no caso a “grande figura da dança contemporânea europeia, Boris Charmatz”.
Charmatz vai apresentar “três criações, todas ligadas à ideia de transmissão”, indicou Tiago Rodrigues.
A oficina de dança “Cercles” (“Círculos”), no Estádio de Bagatelle, em cujo relvado se juntarão 200 pessoas, amadores e profissionais, para aprenderem a dançar juntas, foi outro dos momentos altos do certame destacados por Tiago Rodrigues.
Na 78.ª edição do festival, que decorre até 21 de julho, Tiago Rodrigues destacou ainda o regresso de “um dos grandes emblemas do teatro francês”, a Commédie Française, a mais antiga companhia em atividade no mundo, que vai levar ao palco a peça “Hécuba, não Hécuba”, escrita e dirigida pelo português.
Sobre a escolha do destaque dado a uma língua em particular, Tiago Rodrigues afirmou que o convite é feito também à “história dessa língua, a geografia e os povos ligados a essa língua, mas também a riqueza as complexidades históricas dessa língua”.
Até porque o que interessa ao convidar uma língua estrangeira “é, por um lado, dizer que a partir do Festival de Avignon não [se vê] necessariamente o mundo separado em nacionalidades ou em fronteiras, mas ligado ou organizado ou desorganizado por línguas”, enfatizou Tiago Rodrigues.
Daí que caiba a uma “das grandes artistas espanholas de hoje", a encenadora Angélica Liddell, abrir o evento com a peça “Dämon – O funeral de Bergman”.
Tiago Rodrigues elencou, por exemplo, o espetáculo “Solilóquio”, do argentino Tiziano Cruz, que dá a conhecer a fricção do seu povo com a língua espanhola enquanto colonizadora, “que ameaçou de extinção o seu povo e a sua língua”, ou a presença da uruguaia Tamara Cubas, com "Sea of Silence".
O festival vai contar também com “Història d’un senglar”, de Gabriel Calderón, uma peça totalmente falada em catalão, no que é uma estreia em Avignon.
A presença dos portugueses Miguel Fragata e Inês Barahona com “Terminal – O Estado do Mundo” foi outra das peças destacadas por Tiago Rodrigues, que admite a possibilidade de a língua portuguesa vir a ter lugar como convidada do festival.
“Certamente, a língua portuguesa no futuro, no que depender de mim, sendo eu diretor do Festival de Avignon, terá o seu lugar como língua convidada”, sublinhou.
Ainda ao nível da programação, o diretor do certame destacou o regresso do polaco Krzysztof Warlikowski, uma década depois, com “Elizabeth Costello. Sept leçons et cinq contes moraux”, a partir do texto de J. M. Coetzee.
Questionado sobre se houve algum espetáculo que gostasse de apresentar nesta edição que não tenha conseguido, Tiago Rodrigues disse que não: “Conseguimos o que queríamos, mas ainda não estou de barriga cheia, porque isto é um processo”.
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