“É importante, de vez em quando, recordarmos aquilo que é nosso. A história do Ramo Grande é muito interessante, porque foi o que projetou economicamente o concelho, desde que era o celeiro da ilha, quando era chão de trigo, até depois quando chegaram os ingleses e quando foi transformado em campo de aviação, depois com a vinda dos americanos e até aos nossos dias”, avançou, em declarações à Lusa, a coordenadora artística das festas Judite Parreira.
De sexta-feira ao dia 13, a Praia da Vitória celebra as suas maiores festas com espetáculos musicais, cortejos, tradições, marchas populares, exposições, tauromaquia, desporto e gastronomia, entre outras atividades.
Um dos pontos altos do programa é o cortejo de abertura, no sábado à noite, que atrai milhares de pessoas às principais artérias da cidade.
Este ano, com o tema “Do trigo dourado aos pássaros de ferro”, as festas assinalam a chegada à Terceira, em 1943, dos militares da Royal Air Force, que construíram uma pista de aviação nas Lajes.
“É uma forma de valorizar a nossa história e ao mesmo tempo homenagear as pessoas que viviam naquela zona e que tiveram de sair das suas casas para serem alojadas no bairro construído para o efeito, na Aldeia Nova”, salientou Judite Parreira.
Na altura, como imortalizou Vitorino Nemésio, no poema “Cantiga ao Campo das Lajes”, a população teve receio da mudança: “Cimento não dá pão alvo, como dava o nosso trigo”.
“As pessoas ficaram assustadas com o facto de destruírem os campos de trigo, no sentido de que iriam ficar ainda mais pobres, porque já eram pobres na altura, mas verificou-se o contrário depois. O cimento acabou por dar mais pão do que o trigo”, sublinhou a coordenadora artística.
Professora e atriz, Judite Parreira ficou, este ano, encarregue de organizar o cortejo de abertura, o desfile infantil e a marcha oficial.
Durante meses, trabalhou “ao lado” de dezenas de pessoas, que deram forma aos carros e roupas desenhados por João Pedro Andrade para o cortejo de abertura e ao desfile infantil criado por João Mendonça.
Mais de 90 pessoas participam no cortejo de abertura, que retrata o tempo em que os terrenos onde está hoje instalada a base das Lajes davam trigo, a chegada dos ingleses e a chegada dos americanos, mas olha também para o futuro do concelho.
“Continuamos a ter um aeroporto excecional, continuamos a ter terrenos agrícolas muito bons e temos um mar enorme à nossa frente que não é devidamente explorado, mas que tem potencial para isso. Eu acho que o desenvolvimento da Praia tem de assentar nestes três pilares e nos jovens com muito talento, que - tenho a certeza - vão voltar a fazer da Praia um concelho de futuro e desenvolvido”, sublinhou Judite Parreira.
Segundo a coordenadora artística, o cortejo destaca três personagens para homenagear as mulheres que naquela altura começaram a trabalhar fora de casa e ganharam “uma certa independência económica”: “as empregadas domésticas, as costureiras e as telefonistas”.
A situação financeira do município da Praia da Vitória, que organiza as festas, obrigou a uma contenção de despesas, mas “com boa vontade e muito trabalho” Judite Parreira espera conseguir manter o orçamento do ano anterior, sem afetar a qualidade dos cortejos.
Espera também que as condições meteorológicas não afetem, como em 2022, a adesão da população.
“A nossa baía é muito apelativa, muito convidativa. Temos muitos emigrantes cá, temos turistas, acho que a Praia vai estar cheia de gente, mais linda ainda daquilo que já é”, rematou.
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