A 2.ª edição do f/est Amarante – Festival Internacional de Fotografia, que inclui, além de exposições, oficinas, conversas e atividades de rua, começou na sexta-feira, mas a mostra “As I was dying”, um dos destaques desta edição, é inaugurada hoje, ficando patente até 28 de agosto.

Nesta exposição são mostradas imagens de lugares, “onde Paolo Pellegrin foi e continua a ir, afetados por desastres – como o tsunami na Indochina e o terramoto no Haiti – e guerras”, contou à Lusa a diretora global de exposições da Magnum Photos, Andréa Holzherr.

“Ele entende como a sua missão ter de documentar, para a história da humanidade, todas as coisas más que fazemos uns aos outros. Então é sobretudo guerra, rebeliões sangrentas. O tipo de coisas em que muita gente fica ferida ou morre”, referiu.

Andréa Holzherr afirmou que Paolo Pellegrin “se vê como um arquivista destes acontecimentos”. “Para que não nos esqueçamos”.

O fotojornalista italiano começou a trabalhar em finais década de 1990, início de 2000 e, desde então, “foi a muitos sítios onde se registaram eventos que atingem a humanidade de uma forma dramática, que fazem desalojados, que matam pessoas, que magoam pessoas”.

A primeira guerra que Paolo Pellegrin fotografou foi a do Kosovo. A última, a da Ucrânia, onde está atualmente.

A guerra que está em curso “não está incluída na exposição”. “Mas estamos a tentar ter uma imagem da Ucrânia, para colocar na entrada da exposição”, contou Andréa Holzherr.

Além de imagens da guerra do Kosovo, “As I was dying” inclui também imagens de conflitos no Médio Oriente como Iraque, Líbia, Gaza, Palestina e Líbano, e da chamada ‘Primavera Árabe’.

Paolo Pellegrin é um dos cerca de 60 membros da Magnum Photos, “que é uma cooperativa, pertence aos fotógrafos”.

“Cada um tem uma parte, mas não paga por ela, teve de a ganhar”, afirmou Andréa Holzherr. Para chegar a membro da agência, os fotógrafos têm de passar por um processo, que dura vários anos, em que o seu trabalho vai sendo avaliado pelos associados.

“Tens de ter um trabalho consistente, ser uma pessoa de comunidade. Precisas de ser independente, mas também social para fazer parte de uma comunidade de fotógrafos. Tentamos vender o trabalho deles, mas fazem o que querem e onde querem”, explicou.

A Magnum Photos foi criada em 1947 e os seus 75 anos estão contados na mostra “Magnum Photos 75 years”, que também é inaugurada hoje e fica patente até 28 de agosto.

“Fizemos de maneira a que seja uma exposição ‘faça você mesmo’. Disponibilizamos os ficheiros, com os ‘qr codes’ e as pessoas podem imprimir [as imagens] e mostrá-las onde quiserem”, explicou.

Em Amarante, a exposição “estará espalhada na cidade toda e será criada uma espécie de um jogo, porque algumas placas serão muito grandes e outras muito pequenas, algumas estarão em paredes e outras em postes de iluminação”. “Será uma espécie de caça ao tesouro, as pessoas têm que procurá-las”, disse.

“Magnum Photos 75 years” inclui imagens captadas por todos os membros da agência, desde 1947 até hoje.

A exposição “começa com a criação da agência, e depois para cada ano temos a história de um ou dois fotógrafos”, terminando com a guerra na Ucrânia.

O resultado é “uma combinação de história: a história da Magnum, a história dos fotógrafos e também a história do mundo, e, obviamente, a história da Fotografia”.

Em 75 anos muito mudou, “hoje em dia qualquer pessoa é fotógrafa”, mas “quanto mais fotos há, menos valem”.

“Mas há uma maneira profissional de fazer fotografia, que os amadores não podem fazer. Ir a algum lado e contar uma história com fotografia, não é uma tarefa fácil. A boa fotografia está a tornar-se muito rara”, considerou Andréa Holzherr.

O trabalho dos fotográfos da Magnum “não é tanto da atualidade, é mais sobre a história maior, o contexto histórico”.

“Os nossos fotógrafos trabalham sobretudo em trabalhos longos. Temos muitos fotógrafos que não estão pela primeira vez na Ucrânia. Estiveram lá nos anos 1990, quando o muro de Berlim caiu, nos primeiros problemas com Donbass e estão de regresso”, contou.

Além das exposições “As I was dying” e “Magnum Photos 75 years”, estará também patente na 2.ª edição do f/est “As Bravas”, do fotojornalista Paulo Pimenta.

A organização destaca também a presença no festival, para uma conferência, da artista performativa Ágata Kay, protagonista do livro “Agata”, da fotógrafa da Magnum Bieke Depoorter.

A programação, que pode ser consultada em www.fest-amarante.com, inclui ainda conversas sobre fotografia e conflito ou fotografia e influência nas redes sociais.