Publicada em 1959, "O rinoceronte" teve como ponto de partida, como o próprio dramaturgo então admitiu, a ascensão nazi na Alemanha e do fascismo em Itália, assim como a sua expansão, nos anos de 1930, à semelhança do regime da Guarda de Ferro imposto na Roménia de 1940 a 1944.

Um tema "mais do que atual, atualíssimo mesmo", disse à agência Lusa o ator e encenador Ricardo Aibéo, que dirige "O rinoceronte", numa alusão aos perigos decorrentes dos fenómenos de massa e ao crescimento das ideologias populistas de extrema-direita. "Embora prefira que seja o público a tirar ilações", acrescentou.

A "rinocerite" é uma doença que atinge uma pequena cidade, transformando os habitantes em conformistas e uniformizando-lhes o pensamento até os converter em rinocerontes. Esta é a premissa da peça que chega ao Teatro do Bairro, interpretada por David Almeida, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Graciano Dias, Rita Durão e Sofia Marques, além do próprio Ricardo Aibéo.

Com um ponto em cena, funcional por "auxiliar" num texto longo, a peça acaba por contrariar a suposta "brincadeira" a que parece propor-se de início, e acaba por se revelar um caso sério de análise política e social, através dos momentos de humor causados tanto pelo insólito como pelo absurdo das situações.

Seja no som gutural da primeira personagem que se transforma no grande mamífero que dá título à obra, seja na subentendida transformação que alastra pelos habitantes locais, como uma grande epidemia, "O rinoceronte" expõe a facilidade com que setores ou ideologias totalitários, que se querem dominantes, manipulam a seu favor, e os perigos da indiferença, do alheamento ou do mero conformismo perante esses processos.

A tradução de Luís Lima Barreto, ator do antigo Teatro da Cornucópia desde a fundação até ao seu encerramento, foi o que levou os sete atores a juntarem-se de novo, depois de a companhia ter cessado atividade em dezembro de 2016, disse o encenador à Lusa.

Com luz e som de Rui Seabra, fotografia de Bruno Simão, gestão administrativa de Patricia André e apoio à produção de Leonardo Garibaldi, "O rinoceronte" é uma produção da Sul - Associação Cultural e Artística e foi viabilizada através de uma candidatura pontual ao fundo Garantir Cultura.

No Teatro do Bairro "O rinoceronte" terá récitas de terça-feira a sexta, às 21:30, e, ao sábado e domingo, às 18:00, até ao próximo dia 26.

Nos dias 04 e 05 de março, às 21:00 e às 16:00, respetivamente, estará em cena na sala Experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada.

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