“Disfarça, que lá vem Sartre” é “um romance muito bem concebido e deu-nos um especial prazer premiar uma obra de um autor brasileiro que vive em Lisboa, o que foi uma segunda alegria. Parece-me muito importante estarmos atentos à diáspora brasileira que se concentra na cidade”, afirma no comunicado da autarquia o editor Manuel Alberto Valente, que presidiu ao júri desta primeira edição do prémio.

Além, de Manuel Alberto Valente fizeram parte do júri o ex-presidente da Câmara de Lisboa João Soares, o vogal da Cultura da junta de Freguesia e coordenador do prémio, Ricardo Dias, a crítica literária e ensaísta Maria João Cantinho e a escritora Alice Vieira.

Ao galardão, criado em homenagem ao jornalista, escritor e olisipógrafo Armando Baptista-Bastos (1934-2017), que viveu no bairro de Alfama, candidataram-se 30 títulos.

A obra vencedora centra-se na estadia do filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980) no Recife, no Brasil, em 1960, onde esteve acompanhado pela escritora Simone de Beauvoir (1908-1986) que ficou hospitalizada por ter contraído tifo.

“Durante esse período, Sartre foi alvo das mais rocambolescas peripécias, de que o autor nos dá conta numa linguagem elegante e depurada que acompanha a riqueza lexical e construtiva de todo o texto. Muito bem contextualizado, em termos históricos, sociais e políticos, o romance de Álvaro Filho permite-nos também conhecer melhor a realidade do Brasil no tempo do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira”, refere o júri.

Álvaro Filho é um escritor e jornalista, nascido no Recife em 1973 que, desde 2016, vive em Lisboa, onde é cronista e repórter no jornal 'on-line' Mensagem de Lisboa, depois de ter colaborado com os jornais O Corvo e Diário de Notícias, a par de vários órgãos de comunicação social brasileiros, em 25 anos de profissão.

Filho é autor de cinco romances, entre os quais, o mais recente, “Alojamento Letal”, cuja ação narrativa decorre em Alfama, onde viveu, e que “narra de forma ácida e irreverente a caça de um 'serial killer' que elimina os ‘velhinhos do bairro’ para liberar os apartamentos ao alojamento local, numa reflexão sobre a galopante gentrificação e especulação imobiliária”, escreve a Junta de Freguesia.

O autor venceu o Prémio Hermilo Borba Filho, em 2016, e o prémio de Melhor Ficção, em 2019, da Academia Pernambucana de Letras, com “Meu Velho Guerrilheiro”. O seu conto “Otelo” valeu-lhe o prémio Rogério Rodrigues de Crónica Jornalística, este ano.

Álvaro Filho, no mesmo comunicado afirma-se “satisfeito” por ter sido distinguido com o prémio e realça a “coragem e sensibilidade em perceber que o português do Brasil é uma das vozes que compõe, não só o cenário cultural de Lisboa, mas também da própria freguesia” de Santa Maria Maior, onde residiu.

As candidaturas para a segunda edição do Prémio Armando Baptista-Bastos vão estar abertas a partir de 1 de janeiro até 30 de abril, próximos.

A Junta de freguesia colocou, no âmbito das celebrações do 10.º aniversário da sua criação, uma placa no prédio onde viveu Baptista-Bastos, no n.º 46 da rua Norberto Araújo.