João Barbosa, que se apresenta como Branko, um dos fundadores dos Buraka Som Sistema, esteve em Amesterdão, São Paulo, Nova Iorque, Cidade do Cabo e Lisboa, em gravações com mais de vinte artistas, para compor uma espécie de mapa musical com a mais recente música nascida em ambiente urbano.
"Procurei cidades com um tipo de atividade e de diversidade cultural que tivesse cenas musicais novas, desde Amesterdão, com o 'bubbling', a São Paulo, com o novo 'baile funk', à Cidade do Cabo com 'gqom', o 'house' da África do Sul", disse Branko à agência Lusa.
Com o computador cheio de sons, ritmos e 'loops', o produtor português serviu de elo de ligação entre todas as cidades e os músicos convidados a gravar, embora nem todos tenham entrado no alinhamento final de "Atlas".
Os cantores, instrumentistas, rappers e produtores que entraram neste disco são de várias coordenadas geográficas e com uma base cultural e musical diversa; muitos são desconhecidos do grande público e provam, segundo Branko, a riqueza musical que está abaixo da superfície da música atual.
Nas gravações participaram Princess Nokia (Porto Rico), Skip & Die (África do Sul/Holanda), Alex Rita (Dinamarca), Cícero Rosa Lins e Mc Bin Laden (Brasil), Mayra Andrade (Cabo Verde) ou Kalaf (Angola).
Habituado a viajar pelo mundo a solo ou com os Buraka Som Sistema, Branko não tem tempo para estadias prolongadas, mas conta que "o radar está sempre alerta" para descobrir pessoas e coisas novas.
"É uma obsessão musical. Passo horas na Internet, a fazer pesquisas, no SoundCloud. Os meus pais tinham a 'Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura', com onze ou doze volumes e lembro-me de pensar que estava ali o mundo todo. Acho que tento fazer isso, criar uma enciclopédia mental, tenho essa necessidade de catalogar ritmos e tipos de 'loops'", afirmou.
Para fazer "Atlas", que sai com o selo Enchufada (a editora que fundou), Branko contou com a parceria de Red Bull Music Academy, estrutura que tem estúdios de gravação espalhados pelo mundo e para a qual gravou uma série de curtos documentários sobre a feitura do álbum.
É nesses vídeos, que têm estado a ser divulgados diariamente esta semana, que Branko diz que Lisboa tem assistido a uma revolução cultural.
"Acho que Lisboa conseguiu impor alguma personalidade musical no mundo, através do fado, claro, mas também com uma música que vem dessa mistura entre África, Europa e Brasil", afirmou Branko à agência Lusa, citando Batida, DJ Marfox, DJ Nigga Fox e os próprios Buraka Som Sistema, como alguns dos protagonistas.
Branko estará esta semana em São Paulo e no Rio de Janeiro para duas atuações, e, na próxima semana, no dia 10, atua na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.
Entre setembro e outubro andará em digressão pela América do Norte e América do Sul, enquanto os Buraka Som Sistema preparam a digressão de despedida, marcada para 2016, coincidindo com os dez anos de existência do grupo.
"Foi uma decisão ponderada. Demorou o verão todo a ser tomada e não significa o fim. Vamos tentar sair da nossa pele de banda, olhar para a nossa música e ver se é essencial o que estamos a fazer", disse.
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