"Que este atentado seja uma lição para todos os homossexuais. Quando vos perguntam se vos podem abrir um buraco novo, nem sempre devem responder sim". Foi esta a piada de Rui Sinel de Cordes sobre o ataque na discoteca gay Pulse, em Orlando, na Flórida, que foi alvo de críticas nas redes sociais, inclusive por parte de outros humoristas.

Num longo texto partilhado no seu site oficial, Sinel de Cordes confessa estar cansado das "inúmeras tentativas de denegrir" a sua imagem. "Ao longo dos últimos meses, fui assistindo calado a inúmeras tentativas de denegrir a minha imagem, o meu nome, o meu trabalho. Tentativas baixas, de gente mesquinha, completamente ignorante em matéria de humor e sem qualquer tipo de rigor profissional. Televisões, revistas, jornais, internet. Famosos e anónimos. Todos falaram de humor, de limites, de bom gosto, todos atiraram bitaites sobre a minha maneira de ser e de pensar", escreveu o humorista.

Sobre o post que deu origem à polémica, Cordes frisa que a piada "pode ser vista como nojenta, descabida, de mau gosto, que deu a volta ao estômago, que é demasiado cedo, que é cruel", mas que são estas a bases do humor negro. "É igualmente válido não acharem piada. Num país pródigo em incompetência, tornou-se habitual esperar que os humoristas tenham sempre piada. Como se por algum motivo, todos os males do mundo se abatessem nas costas do autor de uma graçola que bateu ao lado. Em Portugal, um gajo que destrói a vida de centenas de famílias é o “dono disto tudo”. Um humorista que falhou uma piada ou tocou num tema que não gostamos é um filho da puta que devia morrer", realça.

"Ofende-me chamarem-me homofóbico apenas porque fiz uma piada. Ofende-me porque é mentira e porque me caracteriza como um labrego, ignorante e preconceituoso", frisa o humorista, lembrando que apoiou publicamente o casamento e adoção gay. "E chateia-me que publicamente defenda o casamento e adoção gay, de micro na mão, com milhares de testemunhas a assistir – no humor não temos de dar a nossa opinião, mas no Je Suis Cordes, dei-a – mas se entretanto faço uma piada, sou homofóbico. É com esta estupidez que eu lido no meu dia-a-dia", escreveu.

"Não se preocupem, que eu se um dia tiver um filho e ele for homossexual vai ser muito amado", sublinha.

No texto, Sinel de Cordes explica que vai sair do Facebook por este ser "plataforma onde não é possível criar uma relação de interacção lógica, uma troca de ideias válida, um vislumbre de educação e abertura de espírito ou discussão".

"Neste lodo eu não vou brincar mais. Eu saí do manicómio. Mas vocês, fiquem. Fiquem com os humoristas on-demand. Fiquem com os plagiadores, com a baunilha. Fiquem com as músicas estéreis, fiquem com as piadas respeitosas. Fiquem com o standard, com o banal, com o igual. Fiquem com os humoristas moralistas. Vocês merecem-se", escreveu Rui Sinel de Cordes.