O lendário autor Frederick Forsyth descreveu como "fascismo" as intenções recentemente conhecidas de reescrever Roald Dahl ou os livros de Ian Fleming sobre James Bond.

Aquele que é um dos grandes nomes do 'thriller' internacional, famoso logo com o primeiro livro "O Chacal" em 1969, arrasou a decisão de chamar “leitores de sensibilidade” para rever e tornar menos ofensivos e mais inclusivos, eliminando termos como "gordo", "doido" e "feio" de populares livros infanto-juvenis de Roald Dahl como "Charlie e a Fábrica de Chocolate" ou "James e o Pêssego Gigante".

“Leitores de sensibilidade” também fizeram a revisão dos livros de Ian Fleming dedicados James Bond antes de um relançamento comemorativo dos 70 anos de "Casino Royale", mas focando-se em termos considerados racistas, principalmente em "Vive e Deixa Morrer", editado originalmente em 1954, mas também cortando a palavra "striptease" da descrição de uma visita do agente secreto a um clube noturno de Nova Iorque.

Em comunicado, a Ian Fleming Publications alega que o próprio autor aprovou as alterações ao original 'Live and Let Die' antes de falecer em 1964.

Mas para o autor de 84 anos de "O Chacal", isto "faz tudo parte desta coisa nova chamada 'wokeism'. Sim, é a nova ditadura".

"Sim, é uma espécie de fascismo. Diz 'Vais pensar da forma como nós pensamos, vais falar da forma como nós falamos e vais acreditar naquilo que nós acreditamos. E nós vamos controlar-te", reforçou durante uma entrevista no programa "Piers Morgan Uncensored" o autor de 84 anos.

"Não gosto disso, não gosto de ser controlado", reiterou o autor, que aos 19 anos se tornou o piloto mais jovem da Royal Air Force antes de seguir uma carreira no jornalismo, chegando a correspondente de guerra.

Após uma onda de fortes críticas, a editora britânica dos livros de Dahl anunciou que iria manter disponíveis em livro os "textos clássicos" e os leitores poderiam escolher a versão que queriam ler.

Salman Rushdie classificou a operação que levou a centenas de mudanças a personagens e à linguagem dos livros como “censura absurda” que devia "envergonhar" os responsáveis, não obstante o autor ser "um anti-semita assumido e com fortes inclinações racistas" que estava longe de ser um "anjo" e se juntou à vaga de ataques contra ele após publicar "Os Versículos Satânicos" em 1988.

Também a rainha consorte Camilla abordou indiretamente a controvérsia num discurso ao seu clube do leitura 'online', apelando aos escritores presentes para "por favor, mantenham-se verdadeiros à vossa vocação, independentemente daqueles que possam querer restringir a vossa liberdade de expressão ou impor limites à vossa imaginação", acrescentando um "disse o suficiente".