Mais reivindicativo do que nunca desde que arrancou na passada sexta-feira, o Rock in Rio Brasil viu várias bandeiras de causas políticas e sociais serem levantadas nos palcos. O evento regressa ao Rio de Janeiro de quinta-feira a domingo.

Pabllo Vittar desafia preconceitos

O 'efeito Vittar' não conhece limites, como já sugeria o título do seu disco de estreia, "Vai passar mal", lançado no final de 2016 e que rapidamente se tornou no segundo mais vendido no Itunes Brasil.

Embora o seu nome não tão conhecido fora de portas como o de outras estrelas do festival, o seu concerto foi até agora o mais comentado do Rock in Rio Brasil.

Com pernas vertiginosas, olhos felinos e lábios carnudos, Pabllo Vittar é a maior estrela pop 'drag' do Brasil e deveria aparecer durante alguns minutos no concerto de Lady Gaga.

Com o cancelamento do espetáculo norte-americana, Vittar foi convidada a cantar à última hora na noite de abertura num palco alternativo do festival, que se mostrou pequeno para os seus milhares de fãs.

Fergie, a ex-cantora dos Black Eyed Peas, voltou a convidar a artista no sábado para seu o concerto e competiu com ela nos movimentos de cabelos e quadris. A brasileira saiu vitoriosa, por aclamação popular.

Pabllo Vittar, a drag queen que fez festa no Rock in Rio Brasil

O facto de a atuação surpresa de Vittar ter ofuscado nomes como Alicia Keys e Ivete Sangalo diz muito sobre a programação do Rock in Rio e, sobretudo, sobre o Brasil e as suas contradições: um país homofóbico e líder no ranking de assassinatos de transexuais, mas que, ao mesmo tempo, venera Vittar, um culto com a aprovação da rainha do funk, Anitta, que a convidou para participar de seu último videoclip "Sua cara" e que ficou de fora da Cidade do Rock.

A causa da Amazónia

A modelo Gisele Bundchen deu início ao festival pedindo a união dos brasileiros com uma mensagem em defesa da Amazónia, face às polémicas pelo decreto presidencial para abrir uma área de reserva à exploração mineira privada.

"Sonho com o dia em que viveremos em total harmonia com a mãe terra, com gratidão por tudo que ela nos oferece. Sonho com um mundo de paz, de amor, de respeito e de igualdade", disse a modelo antes de chorar de emoção e de Ivete Sangalo começar a cantar "Imagine", de John Lennon.

No domingo, Alicia Keys chamou a palco a líder indígena Sônia Guajajara, com um grupo de samba como música de fundo.

"Há uma guerra conta a Amazónia. Os povos indígenas e o meio ambiente estão a ser brutalmente atacados. O governo quer colocar à venda uma gigantesca área de reserva mineral", disse Guajajara, vestida com trajes tradicionais.

Ivete Sangalo

"Fora Temer"

O grito que se repete noite após noite em cenários musicais mais alternativos da "Cidade Maravilhosa" invadiu os concertos do Rock in Rio no passado fim de semana.

"Fora Temer" é o 'hit' mais ouvido no Rock in Rio, ironizou um portal digital.

O grito de protesto durou quase um minuto no concerto de Elza Soares, de 80 anos, e ao longo das atuações de homenagem ao samba feitas Martinho da Vila, Alcione e Criolo ou por Evandro Mesquita, vocalista dos Blitz.

"O nosso dinheiro está a escorregar pelo ralo. Acredito nos brasileiros, mas não nos políticos", disse o cantor Samuel Rosa, dos Skank.

O beijo gay

A defesa dos direitos da comunidade LGBTI voltou a surgir em força no passado domingo.

Depois de cantar o hino gay do momento, "Flutua", Johnny Hooker deu um longo beijo ao cantor paulista transgénero Liniker.

"Baby, eu já cansei de me esconder/ Entre olhares, sussurros com você/ Somos dois homens/ E nada mais/ Eles não vão vencer/ Nada há de ser em vão... Ninguém vai poder/ Querer nos dizer como amar", diz a letra.

No ecrã com fundo preto atrás dos artistas lia-se a frase a vermelho com letras maiúsculas repetida ao longo da canção "Amar sem Temer".

"Eu acho que essa, com certeza, é a edição mais gay do Rock in Rio de todos os tempos (...) Eu acho que é uma geração que sonhou com tempos de liberdade, de tempos de afirmação. A gente está aqui pra dar o nosso grito hoje", disse Hooker, de 30 anos, à Rede Globo.