O cineasta canadiano Paul Haggis, vencedor de dois Óscares por “Colisão” (2005), foi condenando a pagar 2,5 milhões de dólares por danos punitivos a uma mulher que o acusou de abusos sexuais em 2013, decretou um júri numa ação cível num tribunal de Nova Iorque na segunda-feira.

A este valor juntam-se 7,5 milhões de dólares em danos compensatórios decididos na quinta-feira da semana passada: 10 milhões ao todo (9,61 milhões de euros, ao câmbio atual).

A saída do tribunal, o cineasta disse não ter dinheiro para pagar e prometeu continuar a lutar pela sua inocência: "“Hoje o júri soube o que o advogado do lado oposto sabe há anos, que gastei todo o dinheiro que tinha à minha disposição. Esvaziei o meu plano de pensão. Vivi de empréstimos para pagar este caso, numa convicção muito ingénua na justiça. Veremos agora o que dirá o tribunal de recurso. Porque iremos sem dúvida recorrer. Não posso viver com mentiras como esta; vou morrer a limpar o meu nome".

Representantes da vítima lançaram mais tarde um comunicado, elogiando o júri: "A sua decisão envia uma mensagem poderosa de que o comportamento repreensível do senhor Haggis não será tolerado de forma alguma. Estamos orgulhosos da nossa cliente, Haleigh Breest, pela coragem que demonstrou ao apresentar este caso e partilhar publicamente a verdade sobre o que aconteceu com ela. Esperamos que esta decisão do júri estabeleça um precedente para como outros casos #MeToo são decididos no futuro”.

Paul Haggis, de 69 anos, é acusado desde dezembro de 2017 pela publicitária Haleigh Breest de a ter violado em janeiro de 2013, quando a visada tinha 26 anos.

Breest, de 36 anos, disse que Haggis a submeteu a avanços indesejados e a obrigou a fazer sexo oral e a violou, apesar de suplicar para parar.

Por seu turno, o realizador testemunhou que era "um ser humano com muitas falhas", mas desmentiu algumas vez abusado de mulheres e que havia sido a publicitária a iniciar o sexo oral numa interação totalmente consensual, referindo que não se lembrava de ter tido relações sexuais.

Os jurados ficaram do lado de Breest, que indicou que sofreu danos psicológicos e profissionais após o encontro com Haggis.

“Pensei que ia de boleia para casa. Concordei em tomar um copo. O que aconteceu nunca deveria ter acontecido. E não tinha nada a ver comigo, e tudo a ver com ele e as suas ações”, disse a queixosa.

O também argumentista de “Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos” (2004) e de “007 - Casino Royale” (2006) começou a ser julgado no mês passado em Nova Iorque.

Nesta ação cível, o cineasta só respondeu pelas três acusações, embora tenham testemunhado outras mulheres que o acusaram de agressão sexual, ou de tentativas, entre 1996 e 2015.

Os seus advogados sugeriram que a queixa havia sido orientada pela Igreja da Cientologia, com a qual o cineasta se separou e que desde então vem criticando. Uma tese contestada pela defesa da queixosa.

Entre as testemunhas a favor de Haggis figurou a ex-mulher, a atriz e cantora Deborah Rennard, que declarou que ele foi infiel mais de 20 vezes durante o casamento, mas nunca violento.

Na sua denúncia, Haleigh Breest disse que na noite de 31 de janeiro de 2013, após a exibição de um filme em Manhattan, o realizador insistiu que a mulher fosse beber um copo na sua casa, quando a mesma tinha dito que preferia ir a um bar. No apartamento, Paul Haggis fez muitos avanços antes de a forçar a fazer sexo oral e a violá-la.

Conhecido por ser um dos criadores da série de televisão “Walker, o Ranger do Texas”, que foi transmitida em Portugal nos anos de 1990, Paul Haggis recebeu os Óscares de Melhor Realização e de Melhor Argumento Original por “Colisão”, em 2006.

O realizador foi ainda argumentista de Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos” (2004) e “As Bandeiras dos Nossos Pais” (2006), de Clint Eastwood, e de “007 - Casino Royale” (2006), de Martin Campbell, “007 - Quantum of Solace” (2008), de Marc Forster.

Em junho, Haggis foi detido no sul de Itália, durante a estadia para um festival, por suspeita de agredir sexualmente uma jovem.

Uma juíza italiana decidiu que não existiam indícios e libertou-o após três semanas em prisão domiciliária.