Intitulado “A minha história não é igual à tua”, com direção artística de Olga Roriz, e Catarina Câmara como assistente de direção, o espetáculo insere-se no projeto de arte participativa desenvolvido pela companhia da coreógrafa, e chega hoje ao espaço CriArte em Carcavelos, no concelho de Cascais, cerca de um mês após a estreia no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, ocorrida a 10 de julho.

O projeto também envolveu a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e o Instituto Gestalt de Florença, com o apoio do programa Partis - Práticas Artísticas para a Inclusão Social, da Gulbenkian.

Em julho, a agência Lusa assistiu a um dos ensaios do espetáculo, no Estabelecimento Prisional do Linhó, poucos dias antes da estreia.

Sob a orientação de Olga Roriz e da bailarina e coordenadora do projeto, Catarina Câmara, os jovens intérpretes, entre os 20 e os 30 anos, dançavam os vários momentos de uma coreografia e de um trabalho que lhes pode “mudar o pensamento e a vida”.

Essa era a expectativa de Catarina Câmara, bailarina da Companhia Olga Roriz, durante vinte anos, e professora de dança, com formação na terapia psicológica Gestalt, que envolve o corpo: “O espetáculo final é importante, mas não vamos ficar por aqui. Queremos criar um momento seguinte de reflexão”, com os reclusos participantes, para que busquem respostas a algumas questões.

“O que é o 'Corpo em Cadeia' para mim? Como posso transformar a minha vida? O que levo daqui, o que me falta?” são algumas das perguntas que vão “criar uma espécie de coreografia para a vida, com os recursos criativos”, disse a bailarina à Lusa, durante o ensaio, acrescentando: “Porque a liberdade é a possibilidade de fazer diferente, e fazer diferente tem a ver com imaginação”.

O projeto “Corpo em Cadeia” foi desenvolvido desde 2019 no Estabelecimento Prisional do Linhó, e, pelos ensaios, passaram vários reclusos que, entretanto, saíram da prisão, mobilizando, o espetáculo final, bailarinos, psicólogos e voluntários.

Durante meses, os participantes fizeram um “trabalho de consciência do corpo e do movimento, através da linguagem da dança”, e apenas um deles tinha alguma experiência.

Um dos momentos mais intensos do espetáculo acontece quando começam a desenhar as suas celas a giz no chão, num retângulo exíguo que contém uma cama, uma lavatório e sanita, e aí se movem, contando a sua história.

Noutro momento, com um saco de plástico de roupas pessoais na mão, fazem fila e falam do que sentem.

Olga Roriz contou à agência Lusa, em julho, que espera que o projeto tenha continuidade por mais dois anos, pelo menos, mesmo sem o apoio Partis da Gulbenkian, porque espera apoio público dos concursos da Direção-Geral das Artes.

Roriz afirmou na altura que “há muito trabalho a fazer”, nesta área, também noutras cadeias.

“Sentimos cada vez mais que não chega a parte artística, tem de haver um trabalho coeso de junção da parte psicológica e da parte artística que tem de ser feito. São homens com grandes problemas. Para além de desvitalizados fisicamente, também estão desvitalizados mentalmente”, descreveu a criadora.

A coreógrafa considera que o projeto lhes provoca uma “reorganização física e mental”: “Reorganização de pensar o passado, como estão no presente e como alcançar um futuro que não seja só do sonho, que seja mais concreto e este tipo de projetos ajuda imenso as pessoas a encontrarem-se. A própria direção da cadeia sentiu isso”, disse à Lusa.

“Corpo em Cadeia” “dá-nos a oportunidade de usar a nossa voz, de mostrar que estamos presos, mas conseguimos estar livres quando nos podemos expressar através da dança”, disse então um dos reclusos à Lusa.

Olga Roriz fica sempre surpreendida quando vê “pessoas que não tinham apetência para serem bailarinos [que] conseguiram chegar aqui e apresentar um espetáculo”.

Este projeto de arte participativa desenvolvido pela Companhia Olga Roriz, pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e pelo Instituto Gestalt de Florença, com o apoio do programa PARTIS - Práticas Artísticas para a Inclusão Social, visa criar condições para o desenvolvimento artístico e humano de pessoas em situação de privação de liberdade.

A ideia principal é “potenciar a experiência transformadora da dança junto de uma comunidade quase invisível aos olhos da sociedade, ajudando a capacitá-la na construção de projetos de vida assentes em escolhas mais preparadas, livres e conscientes”.

“A minha história não é igual à tua” fica no espaço CriArte em Carcavelos, no concelho de Cascais, hoje e sábado, sempre com início marcado para as 19:00.

Os intérpretes são Fábio Tavares, Jackson Teixeira, Jeferson Silva, Juvelino Moreira, Manuel Antunes, Nelson Varela, Paulo Barbosa, Rui Tiquina e Wilson Ribeiro.

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