O realizador dissidente iraniano Jafar Panahi começou uma greve de fome na quarta-feira para protestar por continuar detido apesar da sua sentença ter sido declarada nula pelo Supremo Tribunal do país.

Com uma filmografia que inclui "O Círculo", "Táxi" e "Três Faces", aquele que é um dos cineastas mais premiados do Irão está sob custódia na prisão de Evin, onde também estão outros dissidentes políticos", considerada uma das mais duras.

"Recusarei comer e beber qualquer alimento e remédio até ao momento da minha libertação. Permanecerei neste estado até que, talvez, o meu corpo sem vida seja libertado da prisão", disse o realizador em comunicado divulgado pela sua família nas redes sociais.

Panahi foi preso e condenado em 2010 a seis anos de prisão com 20 anos de proibição de dirigir ou escrever filmes, viajar ou até mesmo falar com a comunicação social, após ser declarado culpado de "propaganda contra o governo" por apoiar o movimento de protesto de 2009 contra a reeleição do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad como presidente da República Islâmica.

No entanto, continuou a trabalhar clandestinamente e a viver no seu país, até que, a 11 de julho de 2022, foi preso para cumprir a sua pena ao entrar na Procuradoria de Teerão para acompanhar o caso do seu colega Mohammad Rasoulof, detido uns dias antes.

A decisão de avançar com a greve de forma acontece após terem sido frustrada a expectativa de ser libertado sob fiança, após o seu advogado ter contestado com sucesso junto do Supremo Tribunal em outubro que a sentença de seis anos já não era aplicável pois passou o prazo de prescrição de 10 anos.

As autoridades iranianas têm avançado com várias explicações para protelar uma libertação que devia ser automática sob fiança enquanto aguardava um novo julgamento.

O realizador descreve o que se está a passar como uma "rendição negligente" do sistema judicial que mostra "mais uma vez" a implementação seletiva das leis.

“É apenas uma desculpa para a repressão. Sabia que o sistema judicial e as instituições de segurança não têm vontade de aplicar a lei (de que se gabam), mas por respeito aos meus advogados e amigos, recorri a todos os meios legais para lutar pelos meus direitos”, diz no comunicado.

"Hoje, como muitas pessoas presas no Irão, não tenho escolha a não ser protestar contra estes comportamentos desumanos com o meu bem mais querido, ou seja, a minha vida”, destacou.

A detenção de Panahi e outros realizadores antecedeu a onda de manifestações, geralmente descritas como "distúrbios" pelas autoridades, desde a morte da jovem curda-iraniana Mahsa Amini, a 16 de setembro, detida por alegadamente violar o código de vestuário que o país impõe às mulheres.

O regime da República Islâmica em Teerão acusa potências estrangeiras hostis e grupos de oposição de alimentar os protestos e aumentou a repressão: milhares de pessoas foram presas e pelo menos quatro jovens foram executados, enquanto outras 100 pessoas também foram condenadas à morte.

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