Pegar em textos clássicos e transformá-los é uma prática da Companhia do Chapitô que já leva 25 anos de atividade e que, depois de “Édipo”, “Electra” e “Hamlet”, põe agora em palco a conhecida tragédia de Sófocles.

A atualidade das questões colocadas em “Antígona” foram um dos motivos por que a companhia optou por esta tragédia clássica, a terceira peça de uma sequência de três sobre o ciclo de Tebas.

Filha de Édipo e irmã de Etéocles e Polinices, os filhos varões que se mataram mutuamente no confronto pelo trono de Tebas, Antígona lutará pelo direito de Polinices aos rituais fúnebres sagrados e tivesse direito ao seu túmulo.

Enquanto Etéocles seria sepultado com todas as honras, Polinices, que procedera ao ataque, seria deixado à mercê de feras e das aves de rapina, de acordo com um édito de Creonte, que, com a morte dos irmãos, subiu ao poder já que era um parente próximo de Jocasta, a mãe de Édipo.

Enquanto Creonte personifica a autocracia, exercendo um poder centrado em si próprio e que deriva para a tirania, Antígona, personagem altruísta, defende os valores do sangue e da família.

Antígona, porém, encarna ainda uma personagem política, defensora dos valores da democracia, que pretende que o povo seja escutado face às leis impostas por Creonte e que considera injustas.

Numa peça que primeiro foi pensada para se passar num navio bacalhoeiro – daí que o cartaz tenha uma imagem de um bacalhau -, “Antígona” acaba por se ficar em palco no quadrado, que depois derivará para um retângulo, num teatro muito físico mas ligado ao humor, como a Companhia do Chapitô já habituou os seus espectadores.

Quanto saber cabe naquele espaço limitado - uma forma mais fechada, rígida, neutra, fria e impessoal, como o define Cláudia Nóvoa -, em que se fixa a peça é assim um dos temas que perpassa o espetáculo, que muitas vezes demonstra que nem tudo o que parece é.

E é neste quadrado inicial, que acaba num retângulo, que se vai desenvolvendo a tragédia numa mistura com comédia, em que a Companhia tenta encontrar pontos cómicos de situações muitas vezes altamente trágicas, mas que nascem de improvisações.

Num texto escrito pela Companhia, mas que vai buscar muito ao original de Sófocles, nesta “Antígona” o público é convidado a viajar com os atores numa viagem de imaginação, em que os objetos usados em palco são muito poucos, tal como os figurinos, e com os três atores, sem quaisquer recursos exteriores, como mudança de figurino, a desdobrarem-se em vários personagens.

Com interpretação de Pedro Diogo, Susana Nunes e Tiago Viegas, a encenação de “Antígona” é de Cláudia Nóvoa e de José Carlos Garcia, e vai estar em cena até 24 de abril, com sessões de quinta-feira a sábado, às 20h30, e, ao domingo, às 17h00.

A peça irá depois para digressão, contado já com espetáculos agendados em Mérida, em julho, e na Gran Canária, em setembro.