"Eu não quero gozar com sotaques, bacalhau ou profissões. Os meus pais falam mal francês, tal como eu falo mal português. Para os meus pais, sei que isso era uma dificuldade, então eu prefiro falar da nova geração. Por exemplo, hoje como é que se reconhece um português? Tem tatuagens no corpo todo", brincou Mike de Sá, um dos humoristas que vai atuar no Jamel Comedy Club, em declarações à agência Lusa.

Mike de Sá tem 27 anos e lembra-se de ser gozado devido às suas origens, ter sofrido preconceito e mesmo de ter tido vergonha em dizer que era português. Hoje, com uma carreira de 10 anos como ator e mais de 15 mil seguidores no Instagram, Mike diz-se "muito feliz de ser português".

"Nunca houve ninguém que fosse um exemplo aqui em França. Não há portugueses que conseguiram vingar no mundo do espetáculo. Eu quero ser esse português a dar força à juventude", afirmou o humorista.

O Jamel Comedy Club é detido por Jamel Debbouze, um dos maiores comediantes franceses que protagonizou filmes como "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" ou "Astérix e Obélix". Tendo origens marroquinas, Jamel Debbouze conta durante as suas atuações de stand-up como foi crescer entre filhos de imigrantes, especialmente magrebinos, mas também espanhóis, italianos e portugueses.

"É uma forma de homenagem. Nesta primeira noite há quatro humoristas e a ideia é lançar esta iniciativa. Nas primeiras 24 horas já vendemos mais de metade dos bilhetes. É um evento muito esperado", explicou Anna Martins, presidente da associação Cap Magellan, que apoia a organização deste evento.

Assim, durante uma noite, este clube de comédia vai organizar "Portugal Comedy Club", com atuações de Mike de Sá, Jonathan da Silva, Jean Paul SP e P.V., todos humoristas de origem portuguesa. Caso a iniciativa tenha adesão, pode mesmo tornar-se um evento recorrente, segundo os organizadores.

Anna Martins referiu que a comunidade portuguesa foi durante muitos anos alvo de piadas que muitas vezes soavam aos portugueses como discriminação e mesmo racismo, compreendendo as reticências da comunidade face a um determinado humor francês.

"Eu acho que a comunidade é sensível a um determinado humor e tem razão de o ser, já que muitos de nós fomos alvo de uma forma de humor muito parecido com a discriminação ou até racismo. Pode-se rir de tudo, mas podemos também magoar as pessoas ao pensar que estamos só a fazer humor", constatou a líder associativa que dirige a maior associação de jovens lusodescendentes em França.

Na noite de 4 de março, Mike de Sá garante que os portugueses se vão sentir em casa, com o jovem a esperar ver mais pessoas da comunidade portuguesa nos clubes de comédia parisienses daqui para a frente.

"Entre nós, nós gozamos uns com os outros. O mais importante é as pessoas saberem que estão em casa e que não se vão passar certos limites. É importante habituar as pessoas a este tipo de humor e eles vão adorar", concluiu Mike de Sá.

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