Num final de tarde, com os termómetros a rondarem os 35 graus, o presidente da autarquia, Ricardo Rio, também ele um jogador "com algum empenho", deu início a um périplo pela cidade que incluía paragens nos Jardins de Santa Bárbara, no GNRation, nos Congregados, na Casa dos Crivos, no Theatro Circo, no Palácio do Raio, na Sé e, por fim, no Arco da Porta Nova, onde estariam pokémon à espera dos jogadores.

Sozinhos ou em grupo, jogadores de várias idades, atenderam ao chamamento do "lure", uma espécie de incenso virtual usado para atrair pokémon, lançado pela autarquia, num jogo que divide opiniões.

"O objetivo desta ‘Lure Party’ é utilizar este jogo para dar um sinal da vitalidade em termos de juventude e tecnologia da cidade de Braga e a propiciar a estas centenas de participantes um momento lúdico de contacto com o património", explicou o autarca.

Entre os participantes, um grupo chama a atenção pelo tamanho, baixinhos, e pelo barulho que vão fazendo enquanto esperam pelo início da atividade.

"Está a demorar muito e daqui a pouco fico sem bateria", queixou-se à Lusa André Pinto, 6 anos, caçador de Pokémon, que, acompanhado de seis outras crianças, olha ansiosamente para o telemóvel.

"Eu só vim para os vigiar. Não percebo nada disto mas os miúdos não podiam vir sozinhos. Sobrou aqui para o avô", explicou assim, Rui Pinto, a presença no meio daquele grupo.

Um pouco mais ao lado, Joana Pacheco e Ana Freitas, adolescentes, levantam, por poucos segundos, o olhar do telemóvel.

"Viemos porque tínhamos que vir. Se há uma oportunidade de apanhar, nós vimos", disse Ana, novamente fixa no telemóvel.

"Fazemos isto para nos divertirmos e porque toda a gente da nossa idade faz. Às vezes cansa um pouco porque acabamos por ter que andar muito a pé", admitiu Joana.

Do outro lado da rua, Pedro Silva, Carlos António e Filipe Soares, 65, 68 e 76 anos respetivamente, observam a movimentação frente à sede da autarquia.

"Não percebemos nada disto", confessa o mais velho, com um folheto do jogo na mão.

"Os miúdos dizem que vão apanhar não sei que bichos mas não param de olhar para os telemóveis. São uma praga, aquelas coisas. Em vez de jogarem à bola, ao pião ou à apanhada ficam a olhar para aquilo. Até lhes faz mal à coluna", comentou Carlos António.

"No meu tempo sabíamos o que era brincar. Agora os miúdos nem se sujam a brincar", disse Filipe Soares.

Pedro Silva continuou calado, questionado pelo porquê do silêncio, o reformado abanou a cabeça e deu conta de uma constatação.

"O meu neto está ali no meio. E o puto que até tem jeito para a bola anda a perder tempo com isto", lamentou.