Na noite de domingo, diante de 111,9 milhões de telespectadores nos Estados Unidos - a terceira maior audiência da história da TV norte-americana -, a estrela cantou o seu novo tema, "Formation", lançada na véspera.
As suas dançarinas usaram boinas pretas e ergueram o punho, como membros dos "Black Panthers", e fizeram uma coreografia na qual formavam um X, possível referência ao líder negro Malcom X, no relvado do Levi's Stadium de Santa Monica, palco da finalíssima do futebol americano.
Beyoncé deveria ter sido apenas a coadjuvante do espetáculo comandado pela banda britânica Coldplay, aparecendo nos minutos finais ao lado de Bruno Mars, mas acabou por roubar a cena, usando uma indumentária inspirada em Michael Jackson.
Divulgado na internet, o videoclip da nova canção denuncia a forma como a população negra de Nova Orleães sofreu com as consequências do furacão Katrina, em 2005. As letras também criticam a violência policial e enaltecem a beleza negra e a cultura afro-americana.
A estrela pop de 34 anos nunca tinha ido tão longe no engajamento político. Nos últimos anos, chegou a ter uma postura feminista, mas sua carreira foi construída com singles mais comerciais, que celebram o amor, o glamour e a ostentação.
'Bill Gates negra'
Em "Formation", Beyoncé descreve-se como uma "futura Bill Gates negra", referindo-se ao bilionário fundador da Microsoft, que doa parte de sua fortuna a causas solidárias.
"Ganhei este dinheiro todo, mas nunca abandonei as minhas raízes", continua a letra, que relata a origem da cantora, nascida em Houston, no Texas, de pais oriundos de Louisiana e do Alabama, dois estados do sul marcados pela escravatura.
O videoclip também alude aos protestos do movimento "Black Lives Matter", que agita o país há um ano e meio, desde a morte do adolescente Michael Brown. Desarmado, o jovem foi morto a tiros por agentes policiais em Ferguson, no Missouri, episódio seguido por vários casos semelhantes em outras cidades norte-americanas.
"Parem de atirar em nós", diz uma mensagem escrita no videoclip, enquanto uma criança dança à frente de polícias.
Noutro segmento do vídeo, gravado em Nova Orleães por Milana Matsoukas, um homem lê um jornal onde aparece na capa uma foto de Martin Luther King, com o título "Mais do que um sonhador", em referência ao famoso discurso "I Have a Dream" (Eu tenho um sonho).
O videoclip também mostra a filha de Beyoncé, Blue Ivy, de quatro anos, com cabelo black power, no momento em que a cantora defende a beleza negra: "gosto do meu nariz negro, com narinas tipo Jackson Five".
Reações divididas
A atuação de Beyoncé no Superbowl foi bastante elogiada nas redes sociais, mas a estrela também sofreu críticas.
No Facebook, membros da Associação Nacional dos Xerifes disseram ter baixado o volume e virado as costas para a televisão durante o espetáculo do intervalo, em sinal de protesto.
O ex-mayor republicano de Nova Iorque, Rudy Giuliani, conhecido por ter reduzido a violência na cidade ao reforçar o esquema policial, lamentou o facto de a cantora não ter passado uma mensagem de unidade. Também fez um apelo para que a comunidade negra respeite mais as autoridades.
Já a cofundadora do "Black Lives Matter", Opal Tometi, fez questão de homenagear a cantora no Twitter.
Beyoncé e Jay Z nunca esconderam suas orientações políticas. Ambos apoiaram o presidente Barack Obama desde o início e até organizaram eventos para arrecadar fundos para a sua campanha para a reeleição, em 2012. A iniciativa foi retribuída com um convite para cantar o hino americano durante a posse do segundo mandato de Obama.
No passado, porém, o casal já foi criticado pela falta de engajamento. Conhecido por ser um militante de longa data dos direitos civis, o cantor Harry Belafonte afirmava em 2012 que a dupla tinha "virado costas às suas responsabilidades sociais".
Face à controvérsia, Beyoncé mostrou que não perdeu o talento com os negócios: minutos depois do Superbowl, a cantora anunciou uma nova digressão de 40 datas na América do Norte e na Europa.
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