“Esta história está tão triste e ao mesmo tempo conta-se tão rapidamente”, afirmou João Meireles, dos Artistas Unidos à agência Lusa, lamentando a situação com que a companhia se confronta há mais de dois anos.
“Estamos há 27 meses a saber que isto ia acontecer e a 25 dias de acontecer realmente, de [termos de] entregar a chave da Politécnica”, observou, acrescentando que nestes dois anos “não aconteceu absolutamente nada” no sentido de se conseguir arranjar uma alternativa de espaço de trabalho para os Artistas Unidos.
Em março de 2022, a companhia foi informada pela Universidade de Lisboa de que não seria renovado o contrato de arrendamento do Teatro da Politécnica, onde os Artistas Unidos estavam instalados desde 2011.
A situação entristece e deixa frustrado o ator e encenador que está na companhia desde que esta foi fundada por Jorge Silva Melo, em 1995, por ver que não conseguiram “ir mais além do que esta tentativa tardia da Câmara de Lisboa de encontrar uma solução”.
“Tardia porque ideias e propostas só começaram a surgir há um mês”, frisou João Meireles, acrescentando “só há um mês é que nós estamos a sentir realmente o empenho que tem sido afirmado pela Câmara desde há dois anos”.
Todavia, não é “num momento” que se encontra uma solução para os Artistas Unidos, até porque “não há teatros vazios em Lisboa”.
A Câmara Municipal de Lisboa continua empenhada na resolução deste processo e em encontrar uma solução, consensualizada com os Artistas Unidos, que permita a continuidade do seu trabalho.
Questionada pela Lusa sobre a situação, a assessoria de imprensa da autarquia de Lisboa disse que a edilidade “mantém o edifício A Capital como uma possibilidade para acolher os Artistas Unidos”.
“Mas, encontrando-se o projeto para este imóvel ainda em execução, tem procurado soluções, ainda que temporárias, para acolhimento da companhia”, refere uma nota escrita da autarquia, enviada à agência Lusa.
A autarquia “tem procurado uma solução em auditórios – municipais e não só –, mas até ao momento não foi possível encontrar um espaço que reúna as características necessárias para o acolhimento dos projetos que os Artistas Unidos têm em curso”, conclui a nota.
João Meireles explicou que têm procurado e visitado vários espaços, entre os quais auditórios de juntas de freguesia que têm programações próprias e que “não estão vazios”.
Há poucos dias, o ator foi ver outro auditório, que fica num polo empresarial mas que também tem uma programação definida e intensa, indicou.
A companhia tem pedido, reiteradamente, à Câmara de Lisboa que o seu objetivo “não é um teatro, mas um espaço onde se possa construir um", à semelhança do que fez no Teatro da Politécnica, no Convento das Mónicas ou n'A Capital, há 23 anos, referiu.
Questionado sobre a hipótese de regressarem a este espaço no Bairro Alto, João Meireles acrescenta tratar-se de uma ideia que a companhia colocou em março de 2022, mas que “é apenas uma ideia”.
“Ainda nem há certeza de que a obra que está prevista para aqueles edifícios permita que se instale uma sala de espectáculos”, disse, acrescentando não existirem projetos de engenharia nem de arquitetura completos “para se conseguir perceber” que espaço estaria disponível para instalar um equipamento do género.
E mesmo que seja uma “ideia concretizável”, só o será “daqui a uns anos”, frisou, já que a obra não está feita e depois disso há que instalar todos os equipamentos.
A preocupação mais urgente da companhia consiste em ter um lugar onde a equipa possa trabalhar.
Os Artistas Unidos partem na segunda-feira para o Festival de Almada, com a peça “Remédio”, de Enda Walsh, e no dia 18, para o Citemor, em Montemor-o-Velho, onde estrearão “Búfalos”, a terceira peça da trilogia de Pau Miró, que já não será representada no Teatro da Politécnica.
A companhia não sabe sequer onde poderá apresentá-la em Lisboa, apesar da boa vontade e solidariedade de outras companhias e agentes que têm estado disponíveis para os ajudar.
Além desta urgência, há ainda o início da nova temporada, em setembro, sem que a companhia saiba onde vai instalar-se. “Temos metade da Politécnica em caixotes e sacos para ir e não sabemos para onde”, lamentou.
João Meireles mostrou-se ainda preocupado com os trabalhadores da companhia por desconhecer onde irão trabalhar quando regressarem das férias de verão.
“Temo o pior, que é convidar estas pessoas que até gostam de trabalhar juntas, a estarmos todos em teletrabalho. É uma coisa que não me passa pela cabeça”, observou.
Apesar de conseguirem cumprir o acordo que têm com a Direção-Geral das Artes ao nível da programação, João Meireles não sabe, enquanto estrutura, “onde ou como” vão funcionar, onde vão por as pessoas a trabalhar.
No início de setembro, a companhia vai começar uma coprodução com o Teatro Aveirense, onde, em novembro, estrearão “1984”.
Enquanto coprodutor do espectáculo, o Centro Cultural de Belém disponibilizou-lhes uma pequena sala para ensaios. Todavia, essa sala não permite todo o trabalho e a companhia ainda não sabe onde irá depois ensaiar.
A Câmara de Lisboa está a procurar tudo, desde há quatro ou cinco semanas, enquanto os Artistas Unidos começam a ver a “companhia e toda a estrutura a esboroar-se”, frisou.
“Nem quando saímos d'A Capital, há 22 ou 23 anos, estávamos assim. Pelo menos aí sabíamos para onde ir”, concluiu.
Os Artistas Unidos estão a convidar os espectadores e a comunicação social para, no dia 16, às 17:00, se juntarem à companhia no despejo do Teatro da Politécnica.
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