Inês Cabral é uma das oito artistas residentes em Berlim, integradas na exposição coletiva “Once Guarded”, que é inaugurada hoje, no KHBStudios Berlin. Já Carlos Noronha Feio apresenta uma instalação numa das principais ruas da cidade, a inaugurar no sábado.

A obra, que estará visível na Rosa-Luxemburg Platz pelo menos durante seis meses, é composta por dois conjuntos de texto em metal dourado, nas fachadas de edifícios opostos. Nelas podem ler-se as palavras "(sunclipse!)" e "(sunsight!)", dois neologismos sugeridos pelo arquiteto norte-americano Buckminster Fuller, que desenvolveu estudos teóricos sobre urbanismo e a vida quotidiana, como exemplos de menor expressão geocêntrica, em comparação com os usuais nascer e pôr-do-sol.

“É uma peça dividida em duas. São duas palavras (…) Uma está posta no lado oeste e outro no lado leste. São inventadas por um filósofo, pensador e arquiteto americano que, neste caso, estava a pensar sobre como a linguagem afeta a nossa própria perceção do nós em relação ao outro e ao espaço no nosso redor, em específico”, revelou Carlos Noronha Feio em declarações à Lusa.

“Por ‘sunsight’ ele sugere que seja uma substituição do nascer do sol, e por ‘sunclipse’ ele sugere que seja uma substituição de pôr-do-sol. Ele explica que, quando dizemos nascer ou pôr-do-sol, estamos a posicionar-nos a nós próprios como o centro do universo e que isso depois se reflete no nosso dia-a-dia”, acrescentou.

Para o artista plástico, se nas pequenas palavras que dizemos nos estamos sempre a focar no “nós”, temos muito mais dificuldade em ver as coisas numa perspetiva diferente.

“Para mim é muito importante chamar a atenção, tanto para as questões da linguagem - em português temos muitos problemas -, assim como para estas pequenas perceções, de quão banal é a ideia de ser o centro e posicionarmo-nos quase sempre em conflito com o outro”, rematou.

O convite ao artista, que já tinha sido feito antes da pandemia de covid-19, foi lançado pela Kunstverein am Rosa-Luxemburg-Platz com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

A instalação foi montada para estar seis meses, mas já foi conseguida a autorização que permitirá que permaneça durante um ano. O desejo, admite Carlos Noronha Feio, é que ali permaneça indeterminadamente.

“É mais importante mostrar este pensamento às pessoas que por ali passam, que são muitas, do que retirar a peça e montá-la noutro sítio”, sublinhou.

Além desta instalação em espaço público, outra peça do artista português, ("grow flowers!") poderá ser vista no 'foyer' da Verein zur Förderung von Kunst und Kultur am Rosa-Luxemburg-Platz, onde ficará patente até ao dia 10 de novembro.