Escrita pelo dramaturgo italiano em 1948, a peça fala de um homem que é levado a acreditar, por um mágico, que a mulher se encontra fechada numa caixa e nunca faz qualquer tentativa para a abrir.

A ação centra-se num grupo de pessoas, num grande hotel à beira-mar, a aguardar a atuação do mágico Otto Marvuglia.

Num truque de magia, Otto faz então desaparecer Marta, mulher do ciumento Calogero.

O truque é, porém, um artifício, já que Marta foge com o amante. Como Otto não consegue trazer Marta de volta, recorre ao poder da ilusão fazendo Calogero acreditar que a sua mulher está fechada dentro duma caixa.

O ator e encenador Tónan Quito, que encena o espetáculo, disse à agência Lusa ter escolhido esta comédia, por achar que “calhava muito bem para o momento que estamos a passar”.

“Nomeadamente com as ilusões, não só por causa da pandemia, mas também por todos os movimentos políticos e do momento muito conturbado que estamos a viver”, acrescentou.

Apesar de o mágico também fazer crer a Calogero que, para ter a mulher de volta, basta que abra a caixa, este nunca o faz, porque não quer acreditar que a mulher tenha fugido com o amante.

Calogero prefere acreditar na ilusão de que a mulher se encontra fechada. E, mesmo depois de a mulher reaparecer, opta por continuar a viver a ilusão de ela nunca ter fugido.

“Num momento em que já todos vivemos muito desconfiados uns dos outros e daquilo que nos contam, esta peça pareceu-me perfeita para ser feita agora”, frisou Tónan Quito à Lusa, acrescentando que o texto “tem muitas camadas, além da ilusão inicial”.

Apesar de ser uma comédia, disse, “também é um texto triste”, porque se assiste à decadência de um homem que prefere acreditar numa ilusão, por ser a única hipótese que encontra para conseguir viver, afirmou.

O texto é ainda uma reflexão sobre quem manipula e quem é manipulado, num tempo “em que somos confrontados por 'fake news', e em que o aumento vertiginoso das redes sociais deu a cada um de nós capacidade de comunicar com todo o mundo”, frisou.

E se as redes sociais abriram a possibilidade de diálogo e colaboração entre as pessoas, “não é menos verdade que também criaram um terreno fértil para a mentira e manipulação”.

Daí que a verdade já “não seja a versão dos factos mais plausível, atestada pela imprensa, pela ciência ou por observadores imparciais, mas o resultado imprevisível de um 'caldo' de opiniões e narrativas contraditórias. Ou seja, a 'verdade' de uns tornou-se no 'fake news' de outros”, concluiu.

“A grande magia” fica em cena no anfiteatro da Culturgest ao ar livre, de quinta-feira a sábado, de 30 de junho a 3 de julho, e de 7 a 10 de julho, com representações sempre às 20h30.

O texto que é posto em cena tem tradução de José Colaço Barreiros.

Com direção de Tónan Quito, a interpretar estão Álvaro Correia, Ana Brandão, Gonçalo Waddington, João Pedro Vaz, Lia Carvalho, Rita Rocha Silva, Sílvia Filipe o próprio encenador.

A cenografia é de F. Ribeiro, o desenho de luz, de Daniel Worm, os figurinos, de José António Tenente, e o consultor de ilusionismo é Andrély.

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