
Falar de rock 'n roll é falar de músicos como Bo Diddley, Little Richard ou Chuck Berry. Mas também é falar de artistas contemporâneos como Cheap Time, Dex Romweber, The Black Belles e, consequentemente, Willy Moon. Existe um elo que interliga todos estes nomes mais recentes aqui apresentados. Esse elo chama-se Jack White, ou, por outras palavras, Third Man Records - editora pertencente ao artista norte-americano que reúne grandes nomes da música, como Alabama Shakes, Seasick Steve e, claro, os seus próprios projetos, como The Raconteurs, The Dead Weather ou os já extintos The White Stripes.
Willy Moon aparece associado a este cardápio por ter lançado um parelha de singles do seu EP através da Third Man Records. Facto é que o artista neozelandês ainda não editou o seu primeiro álbum de longa duração, mas já colocou uma expetativa muito elevada em torno do mesmo. No passado sábado, Willy Moon esteve presente no Musicbox, em Lisboa,para então dar a conhecer alguns dos temas que farão parte do seu disco. A casa encheu pouco mais de metade, numa noite que seria também completada pela atuação de Paulo Furtado (Legendary Tigerman) e Sean Riley, em formato DJ.
O relógio marcava as 00h15 quando as luzes se apagaram, dando lugar a um logotipo com o nome do artista projetado na tela sobre um fundo lunar. Subiram ao palco três elementos, dois do coletivo feminino The Black Belles, que ocuparam as posições na bateria e na guitarra, e um DJ. Willy Moon nutre enorme fascínio pela cultura hip hop e isso esteve patente no recurso constante ao scratch em todo o espetáculo. Nos primeiros acordes de “Shakin”, o artista deu entrada no palco brindando os presentes com uma performance extasiante. Quem não esteja familiarizado com o músico, ou ainda não tenha assistido a nenhum concerto deste (normal...), poderá ficar com uma ligeira imagem do mesmo se dissermos que Willy Moon mistura algum do perfil esguio de David Bowie, um tanto ou quanto da expressividade de Mick Jagger e uma colocação vocal que busca, constantemente, os nomes clássicos do rock como muleta.
A banda que o acompanha não lhe fica atrás. É incrível a forma como a dupla feminina se comporta em palco, quer no jeitofervoroso em que a bateria é atacada, quer na forma sensual com que a guitarrista se movimenta em palco, contrastando o seu glamour com os riffs secos e pujantes da guitarra. Desfilaram temas originais de Willy Moon, alguns presentes no seu EP de estreia, outros parte integrante do álbum que ainda está para vir. Sobrou ainda espaço para repescar a canção “I Put A Spell On You”, da lenda do rock Screamin’ Jay Hawkins.
Entre as músicas interpretadas, destaque para “Company” e “I Wanna Be You Man”, que sublinharam todo o groove clássico do rock 'n roll dos anos 50, e “Railroad Track”, que assentou numa base sinistra, mais ambiental. Apesar de “Yeah Yeah” ter colocado o Musicbox todo a dançar, a música em si perdeu, ao vivo,alguma da força, por não utilizar os samples de coros que estão vigentes na versão de estúdio. Este é mais um dos temas onde é colocada a nu a paixão de Willy Moon pelo hip hop, com o artista afazer uso de excertos de músicas do coletivo Wu-Tang Clan.
Numa despedida algo seca e acompanhada de parcos agradecimentos, Willy Moon abandonou o palco do Musicbox sob uma salva de aplausos e o desejo de um regresso para mais um conjunto de músicas por parte de alguns presentes. Infelizmente, tal não aconteceu e a meia hora de concerto que o artista deu despoletou, previsivelmente,alguns comentários na plateia. De qualquer forma, Willy esteve à altura. A sua estreia em solo nacional fez-se de forma eletrizante. Rezemos para um regresso breve a Portugal, desta vez já com o álbum editado.
Manuel Rodrigues
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