Às 22 em pornto, arrancaram os primeiros acordes de “Intro”, o tema que abre o álbum homónimo. O palco está vazio e, só passados alguns momentos, as quatro - Emily Kohal (voz, guitarra, sintetizador), Theresa Wayman (voz, guitarra, teclas), Jenny Lee Lindberg (baixo, voz de apoio) e Stella Mozgawa – sobem ao palco para prosseguir com “Keep it Healthy”. Ao terceiro tema, Emily passa a vez a Theresa, que acaba por ser a principal voz deste concerto, com as restantes a assumirem a voz de apoio. “Hi”, ainda do mais recente trabalho, foi a canção que lhe coube apresentar, para passar imediatamente para “Composure”, retirada do álbum de estreia, lançado em 2010, “The Fool”.

“É bom vê-los aí, sentados, mas eu gostava que não estivessem sentados”, diz Theresa, com Emily a acrescentar: “Se quiserem levantar-se para dançar, não deixem de o fazer porque há pessoas sentadas atrás de vocês". Houve pessoas a aproveitar a deixa mas, ainda assim, a maioria permaneceu sentada.

Seguiram-se os acordes de “Felling Alright”, novamente de volta ao recente “Warpaint”, para entrar de seguida o single de apresentação deste trabalho, “Love is to Die”. Os últimos resistentes acabaram por se levantar e aplaudir entusiasticamente esta escolha, com Emily a agradecer em português.

Sem muita conversa, mas visivelmente satisfeitas com o público que assistia a este concerto, as Warpaint foram apresentando, muitas vezes passando de umas canções para outras sem pausas, os seus trabalhos de forma irrepreensível. Nota-se o amadurecimento musical do primeiro para este trabalho, nomeadamente a nível de instrumentos e de vozes. De lamentar apenas as condições de som, que distorciam as palavras das vocalistas e que fizeram com que, em grande parte do espetáculo, as palavras não se percebessem.

Depois de “Biggy”, tivemos novamente o regresso ao álbum de 2010, com o tema “Undertown”, um dos mais reconhecidos e acarinhados da noite, com o público a cantar em coro com a banda. Se “Warpaint” apresentava uma energia que se colava ao corpo, ao vivo, a banda consegue produzir o mesmo efeito. Há uma energia na música da banda norte-americana que faz as pessoas entrarem numa espécie de transe. Os últimos acordes deste tema foram entregue à ‘divagação’, com a banda a fazer um pouco de jam session com as guitarras, o público a aplaudir com uma alegria contagiante e Emily a exclamar, no final: “Uau!”

Depois de “No Way Out”, que não está inserido em nenhum dos trabalhos gravados, mas que as Warpaint costumam apresentar ao vivo, Theresa anunciou uma “sweet song”: “A canção que vamos cantar agora é muito doce e queremos que soe doce. Chama-se 'Welcome to the Jungle'”, ri-se Theresa.

Um dos momentos mais bonitos do concerto ficou a cargo de “Billie Holiday”, do EP de 2009, “Exquisite Corpse”, com as quatro vozes a misturaram-se e a confundirem-se numa harmonia perfeita. A baixista Jenny Lee Lindberg deixou o seu instrumento de lado e juntou a sua voz a Theresa e Emily. Ficaram apenas as guitarras e a bateria a acompanhar.

Depois, Theresa anunciou “Drive”, de “Warpaint”, antes de passar ao último tema da noite, “Disco//Very”. Depois da tranquilidade dos temas anteriores, as Warpaint voltaram à carga com mais uma daquelas canções que consegue envolver o público numa névoa de prazer.
Foi o último tema de um concerto que fechou sete semanas de espetáculos de apresentação do mais recente trabalho, lançado no final de janeiro.

O regresso ao palco foi feito apenas por Emily Kohal, a cantar o lindíssimo “Baby”, do álbum “The Fool”. Um tema que serviu para acalmar a audiência, que ainda conseguiu ouvir alguns versos de “Because the Night”, de Patti Smith.

Já com o resto da banda em palco, foi tempo de ouvir “Bees”, de Fool” – um tema que revela muito da influência punk rock da banda – e “Elephant”, de “Exquisite Corpse”, depois de Emily afirmar: “Esta é a nossa última canção e vocês são espetaculares".

Ficou a memória de um concerto que não foi o mais participativo, em termos de diálogo da banda com o público, mas em que o público conseguiu sentir que estavam ali para aproveitar e viver um bom momento musical. E, nisso, as Warpaint foram infalíveis. Resta esperar pelo seu concerto no festival Optimus Primavera Sound, no Porto, para perceber se este amadurecimento musical foi fruto de sete semanas em estrada, quando já não há muito mais espaço para aperfeiçoamento; ou se as meninas californianas alcançaram, realmente, o seu ponto rebuçado.

A primeira parte ficou a cargo do projeto de Ana Miró, Sequin, que soube aquecer o público que estava aqui principalmente pelo quarteto norte-americano. Além dos temas já conhecidos, como “Beijing”, Sequin levantou já o véu do seu álbum de estreia, que será lançado em abril. A pop eletrónica está em boas mãos.

Texto: Helena Ales Pereira

Fotografias: Rita Bernardo