Uma nova festa "Rock em Stock" com Luís Filipe Barros foi pretexto para mais uma grande noite de rock. Depois do espetáculo memorável no Casino do Estoril, em julho de 2011, Ted Poley regressou a solo e foi rei da noite, em sábado de Carnaval.

A sala do BBC, em Belém, encheu-se de público proveniente de vários pontos do país (e de Espanha) para assistir à segunda passagem de Ted Poley por Portugal... e com menos de nove meses de distância. Poley tocou na sexta-feira, em Madrid, para muito menos público do que aquele que lhe deu as boas-vindas a Lisboa, e a receção calorosa foi devidamente recompensada com muita energia, suor e um alinhamento composto, precisamente, pelos temas que todos queriam ouvir: os maiores êxitos da sua carreira com os Danger Danger.

Acompanhado em palco por David Palau na guitarra, Jordi Vericat no baixo e Toni Mateos na bateria – elementos da banda Güru, projecto de rock melódico fundado em Barcelona no final da década passada por este grupo de músicos de sessão, bastante requisitados no país vizinho – Ted Poley abriu a sua atuação com "Monkey Business", já passava bastante da meia-noite. O hit single do álbum “Screw It”, de 1991, conseguiu pôr toda a gente a cantar a plenos pulmões desde o primeiro momento -situação que não veria alterações até ao final da atuação: novos e menos novos, rockers e avós (avós rockers, talvez?) constituíram um dos públicos mais heterogéneos e participativos de que nos lembramos, numa demonstração clara da forma como o rock melódico continua a marcar gerações.

Também desde o primeiro momento Ted Poley deixou claro que não lhe apetecia passar muito tempo no palco e desceu para perto dos fãs, onde distribuiu abraços e partilhou o microfone durante grande parte da noite. O som demasiado sobrecarregado de efeitos e uma banda inesperadamente estática e distante, à exceção do sempre sorridente David Palau, são os poucos contras a assinalar numa noite que continuou a fazer desfilar êxito após êxito, com“Don’t Walk Away”, “One Step From Paradise” (com Poley a comparar Lisboa ao Paraíso, depois de uma tarde em Belém, à beira Tejo...) e “I Still Think About You” a protagonizarem os momentos mais românticos – ou não fosse o hard rock melódico responsável por algumas das baladas mais bonitas de sempre – e “Beat the Bullet”, “Bang, Bang” ou “Crazy Nites” a elevarem a temperatura da sala.

Choveram palhetas e balões para a audiência, que respondeu sempre com grande entusiasmo e não deu mostras de cansaço, apesar do adiantado da hora. Poley, ao contrário do que seria de prever, não apresentou nenhum tema da sua extensa carreira a solo e optou pelos temas seguros dos dois primeiros álbuns dos Danger Danger. “Afraid of Love” foi a única exceção. O tema integra o disco “Cockroach” que, inicialmente previsto para sair em 1993, só viu a luz do dia muito mais tarde devido a uma batalha legal que deu origem à saída de Poley da banda. O regresso aconteceu apenas em 2004.

Já perto do fim, “Naughty Naughty” levou os fãs através de um trilho de memórias até ao momento em que ouviram falar da banda, provavelmente em 1989, quando o primeiro grande sucesso dos Danger Danger deu origem a um dos vídeos mais transmitidos nas emissões da, então recente, MTV. Ritmada, contagiante e atrevidamente divertida, “Naughty Naughty” continua a ser uma das principais imagens de marca da banda e do próprio Poley, sempre de gargalhada fácil e com a sua eterna melena loira a chegar à cintura.

Ao contrário do esperado, o cantor despediu-se dos fãs lusos, não com mais um dos temas dos D2, mas com uma supreendente versão de “Purple Rain”, de Prince, apenas porque gosta "muito do tema". Ficaram muitos álbuns por cobrir, e nem a banda nem o seu vocalista deram, ainda, uma oportunidade a “Revolve”, o último álbum, de 2009 – um dos melhores trabalhos que já compuseram e que demonstra a capacidade da banda para chegar aqui com um som fresco que combina, na perfeição, as raízes do rock melódico com uma produção atual.

No sábado à noite, como Poley afirmou em entrevista ao Palco Principal, o objetivo foi passar um bom bocado com o público português e pôr toda a gente a cantar os temas mais conhecidos. Não assistimos, por isso, a um concerto... Foi, antes, um convívio de velhos amigos, com muitos anos de história em comum.

E porque se tratava de uma noite “Rock em Stock”, a festa teve outros ingredientes. Para aquecer as hostes, os portugueses 27 Saints subiram ao palco antes de Poley com uma seleção de covers bem ao gosto do público presente. “Still in Love”, dos Stage Dolls, abriu a atuação da banda, que prestou, também, homenagem a Gun, Billy Idol e Bryan Adams, entre outros, até encerrar com “Sweet Chil O’Mine”, dos Guns n’ Roses.

Depois de Poley, que não teve direito a encore, Luís Filipe Barros tomou conta da cabine de som e distribuiu doses massivas de grandes êxitos dos universos pop-rock-metal dos anos 70 e 80, tal como os seus ouvintes fiéis desejavam. O samba ficou para outros carnavais.

O programa de rádio terminou há vários anos, mas a marca “Rock em Stock” tornou-se um ícone capaz de atrair muitas centenas de pessoas e os eventos vão continuar a surgir. O próximo já está agendado para 6 de Julho, novamente no Casino do Estoril, com os norte-americanos Firehouse como convidados. Ted Poley também afirmou que não está descartada a hipótese de os Danger Danger regressarem a Portugal este ano. Falta muito para o verão?

Confere o alinhamento do concerto:

Monkey Business
Horny S.O.B.
Beat the Bullet
Don’t Walk Away
Don’t Blame it on Love
One Step From Paradise
Feels Like Love
Afraid of Love
Bang Bang
I Still Think About You
Crazy Nites
Under the Gun
Naughty Naughty
Purple Rain (cover Prince)

Liliana Nascimento