Foi um Josh Haden mais falador o que se apresentou ontem à noite, no palco do Cinema São Jorge, com os Spain, depois de terem estado entre nós, em maio de 2012, no Lux-Frágil.

Na altura, fizeram uma retrospetiva dos seus quatro álbuns – “Blue Moods of Spain” (1995), “She Haunts My Dreams” (1999), “I Believe” (2001) e “The Soul of Spain” (2012) – e marcaram a noite sobretudo pela atitude low profile: muito bons em palco, mas sem criar qualquer espécie de ligação com o público, a quem dirigiram a palavra apenas três vezes: “good evening”, “we are going to do a short break” e “thank you for coming”.

Foi com um simples “Hi!” que os Spain se apresentarem, antes de entrarem no primeiro tema da noite, “Ten Nights”, do primeiro álbum. Perante uma sala quase vazia, mas composta por bons apreciadores da música da banda norte-americana, os Spain trouxeram temas dos anteriores álbuns e levantaram já o véu daquele que será o seu próximo trabalho, a ser lançado em fevereiro.

Daquilo que ousaram revelar, parece que os Spain deixaram de lado o seu som mais smoky blues, para entrarem num campo de músicas mais ritmadas, com uma bateria mais presente.Depois do segundo tema, “I Lied”, ainda de “The Blue Moods of Spain”, Josh Haden afirma que os Spain têm um novo álbum a caminho. “As próximas duas canções são desse trabalho. A primeira chama-se “Love at First Sight".” “I gotta know your name/ I gotta hear your voice/ If I could hold your hand/ If I could kiss your lips”, são as palavras que se fazem ouvir deste novo tema que apresenta uma batida mais forte, notória na guitarra de Daniel Brummel e na bateria de Matt Mayhall. Depois há “In My Soul”, com Josh Haden a soltar mais a voz, e a ousar mais do que o tom meio sussurrado dos seus álbuns anteriores. Novamente a guitarra de Daniel Brummel a marcar uma presença mais forte, enquanto Randy Kirk oscila entre guitarra e teclas. “Obrigado”, diz Daniel Brummel, no fim, em português.

Depois, os Spain tocam mais três temas anteriores – “I’m Still Free” e “Walked On The Water”, ambos de “The Soul Of Spain”; e “Ray of Light”, do primeiro trabalho –, antes de apresentarem mais uma novidade: “Sunday Morning”, com Randy Kirk a assumir novamente as teclas e a batida a subir novamente de tom. Se pudermos antecipar já o novo álbum, pelos três temas apresentados, podemos afirmar que os Spain entraram num universo mais próximo do rock.

Segue-se “Oh, That Feeling”, de “I Believe”, e “Every Time I Try”, de “She Haunts My Dreams”, altura em que Josh Haden anuncia terem "andado em viagem a promover o mais recente álbum, 'The Morning Become Eclectic Session'. O disco soa muito melhor, porque as minhas três irmãs, Petra, Rachel e Tanya, participam nele, a tocar violino, violoncelo e a cantar”.

“Nobody Has To Know”, do álbum “She Haunts My Dreams”, “She Haunts My Dreams”, de “I Believe”, e “Untitled 1”, de “Blue Moods Of Spain”, são os últimos temas a fechar o concerto, não sem antes Josh Haden apresentar os seus companheiros de palco: Daniel Brummel, guitarra; Matt Mayhall, bateria; Randy Kirk, guitarra e teclas; “and me”.

Demoraria apenas alguns segundos o regresso dos Spain ao palco, onde voltariam a interpretar um tema do novo trabalho, “Fighter” - este, sim, com uma sonoridade mais próxima dos álbuns anteriores.E, finalmente, houve lugar a uma das mais aguardadas da noite, um dos raros momentos em que o público aplaudiu no início da canção, “Spiritual”, outra vez o primeiro álbum em destaque.

“Boa noite, obrigada”, novamente Brummel em português a despedir-se do público que insistia num novo encore.“Obrigada, Lisboa, vocês são de mais!”, dizia Matt Mayhall no novo regresso ao palco.“Quero agradecer ao Fabrizio Cammarata, que abriu o concerto, esta noite. Gosto muito da música dele”, afirmou, por sua vez, Josh Haden. “Gosto muito de vocês. Sinto-me como se estivesse na minha sala de estar”, acrescentou ainda. Para último, mais um tema do primeiro álbum, “Her Used-To-Been”.

A abrir a noite apresentou-se o italiano Fabrizio Cammarata, que tocou, com guitarra acústica e pandeireta, cinco temas: “Down Down”, “Misery”, “Miriam”, uma versão de uma canção tradicional mexicana, “La Llorona”, e, finalmente, “Safira”, esta interpretada sem microfone e amplificador na guitarra. O músico italiano, que tem conquistado a imprensa estrangeira com o seu segundo trabalho, “Rooms”, foi uma boa forma de aquecer a noite e preparar o público para o excelente espetáculo que os Spain proporcionaram. Mais uma vez, a prova de que não é necessário uma grande produção em palco para se conquistar uma audiência. E quando esta é composta por apreciadores de boa música, é só disto que precisam para ganhar a noite. E esta foi bem ganha.

Por Helena Ales Pereira