O espetáculo teve início com a apresentação da equipa de músicos que acompanha o carioca, à qual deve ser dada mérito pela magnífica prestação e entrega de corpo e alma. A energia e boa disposição dos músicos inundou desde logo o palco, transbordando para o público.
Seu Jorge surgiu em palco cantando “Bom Senso”, logo seguida por "Carne", a tocar as sonoridades do reggae, e, depois, por uma das músicas mais esperadas - "Amiga da minha mulher" -, que provocou grande euforia entre os presentes. O artista não precisou de muitas palavras para cativar e envolver instantaneamente a plateia, que parecia sedenta de calor tropical, neste verão que se tem apresentado pouco ousado.
Entre canções, os fãs iam servindo-se das refrescantes caipirinhas, à boa maneira brasileira, crescendo a agitação nos corpos suados. As canções iam surgindo em catadupa, quase não dando tempo para respirar ou repousar os músculos. “Pessoal Particular”, “Quem não quer sou eu”, “A doida”, “Mangueira”, “Dois beijinhos” e “Zé do caroço” foram igualmente acompanhadas de pulmões cheios pela plateia.
O momento mais pungente da noite foi quando Seu Jorge recitou, com grande pesar, “Negro drama”, poema do grupo de rap Racionais, proferindo cada palavra com uma intensa emoção na voz e no olhar, que não pôde deixar de arrepiar o público que o ouvia atentamente: “Me vê, pobre, preso ou morto/ Já é cultural… Eu era a carne/ Agora sou a própria navalha… Eu visto preto/ Por dentro e por fora/ Guerreiro/ Poeta entre o tempo e a memória… A multidão é um monstro/ Sem rosto e coração… De onde vem o diamante?/ Da lama”. O momento foi acompanhado por sons de tiros que ajudaram Seu Jorge a recriar o cenário típico de favela, passando a sua mensagem de igualdade e esperança.
Seguiu-se um momento instrumental dirigido pelo artista, que encarnou um verdadeiro maestro, conjugando as sonoridades dos sopros com a percussão e até com a eletrónica. Depois disto, deu lugar à apresentação de algumas das canções que farão parte do novo álbum, “Músicas para churrasco 2”, que estará à venda já no mês de outubro. Entre elas, “Bipolar”, já conhecida por todos, e “Papo certo”.
Logo de seguida irromperam “Meu Mundo é hoje”, “Mina do Condomínio”, “Carolina” e “Burguesinha”, que fizeram o público rejubilar. A multidão não queria deixar arredar pé, fazendo-se ouvir por longos minutos, enquanto os artistas se ausentaram do palco. Seu Jorge voltou sozinho e envergando a sua guitarra, com a melodia de “ ’S Wonderful”, que impeliu os casais aos longos e carinhosos abraços. Pouco tempo depois, um dos grandes hits românticos do artista, “É isso aí”, foi acompanhado pelo público com imensa ternura e dedicado à soberba Ana Carolina. O Queimódromo do Porto testemunhou ainda as sonoridades de “Pretinha”, “Mas que nada” e alguns riffs dos lendários Led Zeppelin.
“Muito obrigado, muita paz! Portugal inteiro tem alma de guerreiro!”, clamou Seu Jorge enquanto mostrava ter samba no pé. O espetáculo terminou com disco music, com toda a equipa de artistas a dançar de forma coreografada, como se acabados de sair de um filme dos anos 80. Mesmo após quase três horas de exaustiva agitação, a energia continuava a contagiar o público que, aparentando extrema satisfação, não queria aceitar o fim.
Texto: Sara Ralha
Fotografias: Mariana Vasconcelos
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