O Palco Principal foi conhecer melhor o grupo, que vai andar por aí durante o Verão e que tem presençaassegurada no Optimus Alive!10.

Palco Principal - Començando pelo princípio, como surgiram?

Sean Riley -A banda surgiu um bocado por acaso (risos). Eu estava a escrever algumas canções e conheci o Bruno, que acabou por entrar para a banda, e começámos a tocar juntos. Depois, mais tarde, conheci o Filipe, que entrou para as teclas... Íamos gravando canções aqui e acolá, até que, de repente, convidaram-nos para fazer um concerto. Nós nem sequer tínhamos bem a noção de que tÍnhamos uma banda. Foi assim que a banda nasceu, em Março de 2007.

PP - E o nome? De onde é que veio?

SR - Como eu comecei a escrever canções sozinho, Sean Riley era o nome que eu tinha -uma espécie de alter-ego, porque não me sentia muito confortável a assinar as peças como Afonso Rodrigues. Até mesmo porque me parecia fazer pouco sentido cantar e escrever em inglês, e estar a assinar as músicas com o meu nome. E então, na altura, foi uma ideia que se foi formando na minha cabeça. Eu gostava, sempre gostei muito, do nome Sean. E depois, quando formámos a banda, mesmo banda, o nosso primeiro concerto ainda foi dado como Sean Riley, mas eu achava que não passava bem a mensagem de que éramos uma banda. Passava a mensagem de queéramos uma espécie de artista com amigos convidados, ou qualquer coisa desse género. E então, acabámos por juntar o nome Sean Riley e os Slowriders, que era uma imagem que eu já tinha na cabeça, que eles gostaram e que, de certa forma, descrevia na exactidão aquilo que nós faziamos naquele momento e o ponto em que estávamos nas nossas vidas.

PP - E o que é que mudou, desde o lançamento do primeiro disco até agora, que já têm um segundo registo de originais?

SR - Mudou muita coisa e, nasua essência, não mudou nada. Continuamos a ter a felicidade de fazer música, de fazermos música juntos. Antes da gravação do segundo álbum, entrou mais um elemento para a banda -o Filipe Rocha -e, sei lá... o tempo passa e o tempo passando, as coisas mudam, obrigatoriamente. E connosco, felizmente, a maioria das coisas mudou para melhor. Cada vez tocamos em melhores espaços, com melhores condições, com mais público. Portanto, basicamente, foram essas as coisas que mudaram. Não mudou propriamente a nossa forma de fazer música ou de encarar as coisas. Cada vez vamos tendo melhores oportunidades. Só isso é que mudou.

PP - Vocês foram uma das revelações dos talentos da FNAC. Entretanto vão tocar no Alive!10. Já estiveram em Espanha, Inglaterra, já tocaram com José Gonzales... Estavam à espera deste percurso, desta evolução tão rápida?

SR - Correndo o risco de parecer um pouco pretensioso, eu acho que deves sempre ambicionar algo, deves ter objectivos. Nós tinhamos, obviamente, objectivos, não no sentido editorial, mas no sentido em que queríamos que a nossa música fosse boa e estávamos a tentar fazer a melhor música que conseguíamos. E quando tu pões tanto de ti numa coisa e te empenhas tanto para que as coisas sejam boas, é obvio que estamos à espera, sempre, mesmo que seja de uma forma um pouco inconsciente, que isso dê algum fruto e que isso chegue a algum lado e que, pelo menos, algumas pessoas reparem no quanto investiste naquilo e no quanto tu acreditas naquilo. Portanto, dizer que não estava à espera seria um bocado ridículo e não seria verdadeiro da minha parte. Agora, o que posso dizer é que tivemos sorte. Não é só preciso ter talento. Há muita gente que tem talento e, infelizmente, não consegue passar a mensagem. Nós, felizmente, tivemos a sorte de conseguir passar a nossa mensagem e as coisas foram correndo bem.

PP - Vocês são de Coimbra, não é?

SR - A banda foi formada em Coimbra, sim.

PP - É um bom palco para formar projectos como o vosso?

SR - Eu acho que sim. Qualquer sítio é um bom sítio para tu partires. Coimbra foi um bom sítio, porque foi lá que nos conhecemos e nos encontrámos. Eles são de lá e eu não. Eu estava de passagem pela cidade. Mas sim, sem dúvida, é um bom ponto de partida. Para nós foi um bom ponto de partida.

PP - Este último CD conta com muitas participações especiais: o Tiger Man, o guitarrista do Palma...

SR - ... o Pedro Vidal.

PP - É importante ter esses nomes associados ao vosso trabalho?

SR - Só depois de nós gravarmos o disco e de começarmos a dar entrevistas é que tomámos conciência de que o facto de termos pessoas, que dentro do panorama musical português têm alguma visibilidade, a gravarem connosco, teria um significado. Optámos por fazer um primeiro disco totalmente sozinhos e sem qualquer tipo de músico exterior à banda e no segundo não queríamos fazer isso. Queríamos alterar a experiência, queríamos ter um som maior, e então precisávamos de instrumentos que não tínhamos ainda abordado, como o caso do banjo (tocado pelo Vidal), do violino (da Filipa Cortesão), ou dos coros que entraram no álbum. Todas as pessoas que entraram [no álbum], entraram porque são nossos amigos, que, numa fase ou noutra da banda, conhecemos. Pessoas com quem nos cruzámos, por exemplo,os Wraygunn. Nós fizemos uma digressão com eles cá em Portugal.Fazia sentido que aquelas pessoas entrassem no disco porque eram amigos nossos e tínhamos andado em tourné com eles. Fazia sentido ir buscar o Paulo Furtado [Legendary Tiger Man], que basicamente esteve ao nosso lado desde a formação da banda. Também alguns dos elementos do coro gospel, o Faith Gospel Choir, cantaram com os Wraygunn e, portanto, entraram no disco... Foi tudo uma coisa muito natural. Temos a felicidade de conhecer pessoas que tocavam aquilo que nós precisavamos para o som que nós tinhamos em mente.

PP - Cada um de vocês toca vários instrumentos, que vão trocando entre vocês. É uma necessidade de reinventarem o trabalho, de fazer diferente?

SR - Eu acho que é, simplesmente, uma vontade de que as coisas não sejam monótonas. Dentro de quatro pessoas, quando tu abordas uma canção, se cada um de nós fizer uma linha de baixo, cada um de nós vai fazer uma linha de baixo diferente. Ou, se eu for para a bateria, vou tocar de maneira diferente do Filipe. Portanto, nós achamos interessante, em algumas músicas,outras pessoas explorarem outros instrumentos, que acabam por dar uma visão completamente nova à canção. E é um bocado isso que nós fazemos. Quando estamos a tentar fazer os arranjos para as canções, não nos pomos nenhum tipo de restrição. Se me apetecer pegar numa flauta, pego; se tiver uma bateria à mão, o primeiro a lá sentar-se é o primeiro a tocar nela, portanto, as coisas são feitas assim e depois nós passamos, obviamente, isso para o palco, porque nos dá prazer ver as coisas assim.

PP - Fala-se muito das vossas influências norte-americanas... Existem, realmente, essas influências?

SR -Sim (risos). Eu acho que isso é uma coisa que não tem assim tanta importância, sinceramente. Mas é um facto que a maioria de nós gosta de alguns estilos que nasceram nos Estados Unidos. E, portanto, independentemente de hoje haver blues na Islândia ou onde quer que seja, estas influências são sempre norte-americanas, de uma certa estética cinematográfica ou da literatura até, que nós preferimos. Portanto, sim, há uma data de coisas que nos interessam do outro lado do Atlântico. Mas não é uma coisa que nos preocupe muito ou que façamos por ter uma detemrinada estética ou de uma forma consciente. Não. Tendes sempre, de certa forma, a espelhar um pouco as coisas de que tu gostas e as coisas que tu admiras e penso que é só isso que acontece connosco.

PP - E é nesse sentido que escrevem em inglês? Cá em Portugal há muito essa discussão, se os portugueses devem ou não escrever em língua estrangeira...

SR - Eu acho que toda a minha vida ouvi música cantada em inglês e toda a minha vida ouvi música cantada em português. Mas quando comecei a tentar cantar, comecei a cantar naturalmente em inglês e foi só por isso que segui esse caminho. Não ponho nenhum obstáculo sequer ao facto de um dia poder vir a cantar em português. Se isso me passar pela cabeça ou se chegar a uma altura da minha vida em que me pareça que é isso que é correcto, é isso que eu irei fazer. Neste momento, sinto-me bem assim.

PP - Vocês têm alguma formação musical ou são auto-didatas?

SR - O Filipe Costa (teclas) teve alguma formação, em novo. Eu acho que tivecerca detrês meses, portanto vou-me enquadrar nos auto-didatas. O Bruno (o baixista) também e, depois, tens o Filipe Rocha, que normalmente toca bateria, contrabaixo e baixo eléctrico. Esse, sim, é um verdadeiro homem dos sete-instrumentos, teve formação musical, acabou o Hot Club da Escola de Jazz e, inclusivamente, dá aulas de música, portanto, ele tem créditos que cheguem para distribuir por todos nós (risos).

PP - No processo de criação, são todos colaborantes ou o Afonso é que é o mentor?

SR - Toda a gente colabora e toda a gente acaba por ter um papel muito importante. Mas a forma como as coisas funcionam é: normalmente escrevo uma canção e, depois, a uma determinada altura, no palco, num soundcheck ou num ensaio, acabo por lhes apresentar essa canção e depois começamos a trabalhá-la.Aí,cada um é livre de dar o input que quer à canção. Normalmente, em algumas canções, eu posso ter mais ou menos uma ou direcção, mas acontece, às vezes,que essa direcção vai acabar depois num sítio completamente diferente daquele que eu teria imaginado. Portanto, toda a gente é livre de dar o input que quer e de tocar as coisas da forma que quer, e isso acaba por ser muito importante, porque normalmente o melhor sai quando tu fazes aquilo que queres e não quando és obrigado a fazer alguma coisa, ou quando alguém te restringe de certa forma a liberdade criativa. Portanto, é bom que as pessoas possam fazer aquilo que querem.

PP - Quem é o vosso público? Vocês têm noção de ter um grupo de pessoas que vos segue, ou varia?

SR - Sinceramente, neste momento, não consigo identificar uma faixa etária, nem uma faixa económica nem um género sexual - o que eu acho extremamente interessante, porque nos nossos concertos cada vez mais aparece, literalmente, aquele cliché dos 8 aos 80. Aparecem pessoas de todas as idades, de todas as camadas sociais. Não temos qualquer tipo de target: quem quiser ouvir a nossa música, é bem vindo, de braços abertos.

PP - Isso é positivo...

SR - Sim, é óptimo.

PP - No panorama actual, em Portugal, é fácil ser-se músico?

SR - Fácil é, ser músicoé fácil...

PP - E ser-se reconhecido?

SR - Ser-se reconhecido... O que é ser-se reconhecido? É quando consegues ter música a passar na rádio? Ouquando conseguesentrevistas com jornais? Ou vídeos a passar na televisão? Eu acho que isso tudo é relativamente fácil de conseguir. Na forma como as coisas hoje estão organizadas na nossa sociedade, através dos media, tu trabalhando com determinadas estruturas por detrás de ti consegues fazer isso. Mas o que importa verdadeiramente équetipo de música tu fazes, se te diz alguma coisa, e se, fazendo a música em que tu acreditas, consegues chegar ao público, se consegues que haja pessoas que se identifiquem com aquilo. Isso é que me preocupa verdadeiramente e isso é que já não é tão fácil de atingir. Agora, para uma banda que esteja a começar, pode ter alguns problemas, mas isso é tão difícil em Portugal como noutro sítio qualquer. Como é que tu chegas a uma rádio, como é que tu chegas a uma editora (principalmente na altura em que vivemos,em quea indústria musical não está propriamente a passar uma grande fase, e,portanto, a disponibilidade das pessoas para investirem, quer capital, quer tempo, é menor)? Penso que não há-de ser fácil, neste momento, em muitos sítios.

PP - E as redes sociais são um contributo positivo para a divulgação do trabalho dos músicos e para poderem tomar contacto com trabalhos de outros colegas?

SR - Eu acho que sim, embora neste momento estejamos já a passar para o outro lado, que é: as redes sociais tiveram uma fase de arranque que foi muito importante para uma data de bandas, para as bandas que se movimentaram bem dentro dessas redes sociais.Há casos de bandas a terem notoriedade astronómica através, quase que única e exclusivamente, das redes sociais. Hoje em dia, acho que começamos a ter um pequeno problema, que é: movimentas tanta informação nas redes sociais, que começas a não ter tempo para dar atenção às coisas. Se calhar tens um myspace, chegas a casa às23h00, e recebeste 20 invites de bandas diferentes, que querem contactar contigo para te pedir queouças as músicas delas. O que acontece é que tu já não tens tempo para ouvir essas músicas. Acaba por ser demasiada informação. Não sei se é muito benéfico. Eu estou a regredir e a fazer completamente o percurso inverso e cada vez mais volto a fazer as coisas como fazia antes, na minha adolescência, comprar um disco e andar a ouvir esse disco um mês, que é uma coisa que acho que hoje em dia poucas pessoas fazem. Ouves três músicas do myspace daqui, ouves um link do youtube através do facebook, descarregas três singles para o teu ipod e está feito. Mas eu não sei se isso, sinceramente, é muito interessante.

PP - Neste momento, qual o objectivo como projecto e como músico?

SR - Os objectivos são vários. Neste momento, nós estamos a trabalhar no nosso novo disco. Vamos gravar, em principio, ainda antes do fim do ano. Será talvez o plano maior que nós temos em mãos. Temos de acabar o disco, temos de o gravar lá para Outubro, Novembro, para que ele saia no próximo ano. A par disso, temos outros, como por exemplo, internacionalizar um pouco mais a banda e conseguir dar seguimento a processos que estão em curso, nomeadamente, em alguns países como a Bélgica, o Luxemburgo, Holanda. Vamos ter discos em breve em todos esses países e estamos a ver se conseguimos, também até ao fim do ano, fazer uma digressão por alguns desses países, que, em princípio, irá alargar-se à Alemanha também, onde teremos o nosso disco à venda. Vamos passar por Espanha também ainda antes do fim do ano. Portanto, acho que, resumindo um pouco a coisa, neste momento, até ao fim do ano, temos que passar aí por uma data de países na Europa e gravar um disco.

PP - E já tem nome o disco?

SR - Já, mas isso não vou dizer. Temos tempo.

Ágata Ricca