Nota: Prince proibiu a captação de quaisquer imagens, por isso a foto não é do concerto no Meco.

Era, claramente, "o" artista do terceiro e último dia do Super Bock Super Rock, que este ano, na sua 16ª edição, assentou arraiais na Herdade do Cabeço da Flauta, no Meco, em Sesimbra.
Prince motivou a maior enchente do festival, convocando a presença de 32 mil pessoas (mais duas mil do que as que a organização esperava e bem mais do que as cerca de 20 mil que estiveram nos dois dias anteriores). E neste seu regresso a palcos nacionais - depois de actuar no Estádio de Alvalade, em 1993, e no Pavilhão Atlântico, em 1998 - o cantor norte-americano mostrou que, apesar da longevidade da carreira, ainda está muito longe da reforma.

Bem disposto, enérgico e comunicativo, Prince não demorou muito a conseguir a adesão de grande parte (para não dizer a totalidade) dos que o aguardavam. Os seus New Power Generation ajudaram à festa e as cores que emanaram dos ecrãs laterais e central também. Mas, como não podia deixar de ser, a estrela foi mesmo Prince. "Amo este país. Também me amam?", perguntou numa das muitas vezes em que se dirigiu a uma multidão movida por um frenesim palpável.

"O meu nome é Prince e sou o vosso DJ esta noite", acrescentou noutro momento. E do seu set tornado concerto saiu um alinhamento que, em vez de incidir no recente "20Ten" (o seu 29º álbum), preferiu um formato quase best of. E assim não faltaram clássicos de sempre como "1999", "Nothing Compares 2 U", "Kiss", "Delirious" ou, claro, "Purple Rain" (já no final, numa versão longa, arrastada e complementada com muitos isqueiros e telemóveis).

Artista caleidoscópico, apresentou um concerto à altura das fusões que o notabilizaram. Nesta hora e meia houve espaço para o funk ("Get funky" foi mesmo o lema da noite), rock, R&B, soul ou disco. E até mesmo para o fado, nos dois momentos em que partilhou o palco com Ana Moura, dando-lhe espaço para brilhar mas conjugando a voz da fadista com uma guitarra... eléctrica - também por isso, "A Casa da Mariquinhas" resultou num dos pontos altos da noite.

E assim, num dos concertos mais esperados deste Verão, Prince divertiu e pareceu divertir-se - até porque não se cansou de elogiar Portugal. No final, fica a dúvida - será preciso esperar novamente mais de dez anos para que um momento destes se repita?

O concerto de Prince foi um dos últimos da noite mas não o derradeiro. Logo a seguir, os australianos Empire of the Sun estrearam-se em palcos nacionais numa actuação que também deixava alguma expectativa - era uma das apostas mais fortes da organização, que destacou a espectacularidade da vertente visual e o facto do grupo raramente actuar ao vivo.
O que se viu, contudo, foi um espectáculo com algumas boas ideias (uma ou outra coreografia dos bailarinos) mas pobre na oferta de canções a reter. E isso nem o melhor guarda-roupa do mundo é capaz de disfarçar. O disco de estreia da banda, "Walking on a Dream" (2008), já o sugeria e o concerto veio confirmá-lo, embora os singles até cheguem a cativar. Uma voz onde o falsete tem quase sempre carta branca juntou-se a elementos electrónicos funcionais, mas pouco arrojados, e o resultado foi algo cansativo. E mesmo a nível visual, os Pet Shop Boys mostraram, no mesmo local dois dias antes, maiores doses de requinte e surpresa. Mas deixa-se a sugestão de outra dupla australiana e electrónica: os Presets, que também nunca actuaram por cá e cujos álbuns são bem mais estimulantes.

Também adeptos do falsete, ainda que em doses mais moderadas e apenas entregue a um dos dois vocalistas, os Wild Beasts assinaram um dos bons concertos no Palco EDP - espaço que, ao longo de todo o festival, raramente teve falta de público e só pela dimensão poderá ser considerado secundário.
Os britânicos, que já tinham deixado boa impressão no Super Bock em Stock, em Dezembro de 2009, voltaram a cativar e já mereciam uma actuação em nome próprio em palcos nacionais. Adeptos não lhes faltam, como se viu neste concerto, onde grande parte dos temas teve eco imediato em muitos espectadores.
Canções barrocas, intrigantes e por vezes vertiginosas - capazes de aceitar heranças pós-punk mas deitando fora os clichés - esvoaçaram num entardecer com alguns momentos memoráveis. Foi o caso de "We Still Got The Taste Dancin On Our Tongues", uma das mais belas canções que passou pelo festival. O terceiro disco do grupo ainda deve tardar, mas aguarda-se com curiosidade.

Além dos Wild Beasts, o Palco EDP contou com John Butler Trio, Sharon & The Dap Kings ou Morning Benders. Pelo Palco Super Rock passaram os regressados Palma's Gang, Stereophonics, Spoon e The National. Já o @Meco, o espaço mais electrónico, fechou com Laurent Garnier.

Um fim-de-semana com muitos bons concertos... e alguns contratempos

Se em três dias de festival Prince pode ter sido, para muitos, o rei, houve outros concertos de boa memória no Meco: Pet Shop Boys, Cut Copy, Hot Chip, Vampire Weekend ou Leftfield foram alguns dos seus autores.

Menos boas são as memórias de alguns aspectos da organização. E no último dia houve mesmo um caso flagrante, com demoradas filas de trânsito até ao recinto e, pior, com um parque de estacionamento sobrelotado, obrigando parte do público a estacionar a uma distância considerável (até mais de dois quilómetros). E no final do concerto de Prince a situação não foi muito melhor, pelo menos para quem estacionou perto da zona de campismo e demorou mais de duas horas a percorrer poucos metros.
Outro aspecto a ter em conta noutra eventual edição no Meco é o do acesso da imprensa. O facto de os jornalistas terem de entrar pela mesma área que o público já é, por si só, pouco prático (e bem mais demorado). Mas quando se chega ao ponto de proibir a entrada de canetas, um dos mais básicos instrumentos de trabalho, há decididamente algo a corrigir - se é por uma questão de segurança, não serão as muitas pedras que se encontram no recinto mais nocivas? Ou a falta de iluminação em vários pontos? Um bom cartaz é sempre de elogiar, mas não compensa tudo.

Texto @Gonçalo Sá/ Fotos @Vera Moutinho