
O relógio marca 23h30. A fila de espera para entrar no Meo Spot já dá a volta ao edifício. Centenas de pessoas, de várias idades e géneros, aguardam pacientemente a abertura de portas para ver os Rudimental (DJ set) em ação. Esta não é a primeira vez que o coletivo britânico pisa solo português. No passado mês de maio, fizeram a sua estreia na semana académica de Lisboa; uns meses depois, passaram pela feira Expofacic. No entanto, a julgar pela afluência, há sempre razões de sobra para ver a dupla a fazer a festa por detrás dos decks de CDs.
O exercício de aquecimento é garantido por Henry Josh, DJ residente do Meo Spot. Nas suas escolhas para a noite é possível ouvir remisturas e originais de temas como “Dark Horse” (Katy Perry), “Safe and Sound” (Capital Cities), “Beautiful”, (Pharrell Williams e Snoop Dogg), “I Need Your Love” (Calvin Harris) e o megahit “A Sky Full of Stars” (Coldplay), um êxito que começa a ser, cada vez mais, a marca deste verão.
À medida que as horas passam, a discoteca Meo Spot vai ganhando novos contornos. Na zona da plateia geral, quase à pinha, o público acompanha o set de Henry Josh, que por esta hora arrisca sonoridades mais aceleradas e estimulantes; na zona VIP, os habituais desfiles de glamour e moda duvidosa intercalam-se com a postura daqueles que se sentem no direito de reclamar a verdadeira denominação de VIP. O rum é bom, o gin tónico aconselha-se (o Palco Principal teve acesso a esta área e comprova-o. Mas de forma moderada, sempre). Ao nosso lado, um grupo de jovens franceses, a passar férias em Albufeira, vai abrindo garrafas de whysky e vodka e vai fazendo a festa. Dizem não conhecer Rudimental, mas demonstram curiosidade no assunto. Na pista, os bailarinos sobem aos estrados e esboçam as suas primeiras coreografias. O clima começa a aquecer.
Por volta das 03h00, Leon Rolle, mais conhecido por DJ Locksmith, e Piers Agget entram em cena, sob uma tremenda chuva de aplausos, e marcam as suas posições na cabine. Agget dispara a primeira música, Locksmith agarra-se ao microfone. Não perdem tempo e lançam-se a uma remistura de Bump & Grind (R. Kelly). Do alto do seu estrado, Locksmith vai pedindo a colaboração da audiência. “Estão prontos para Rudimental?”, pergunta. Enquanto o público responde, recorrendo a gritos e linguagem gestual, o duo introduz o primeiro tema do seu repertório, “Baby”, seguindo-se “Boy Boy Boy” (Andhim) e “Knas” (Steve Angello).
O drum & bass é um dos ingredientes principais da receita dos Rudimental, e pode ser facilmente encontrado nas linhas e entrelinhas de “Home”, o disco de estreia que catapultou o quarteto para a ribalta. Por isso mesmo, é normal que os seus sets se inspirem no estilo, como serve de exemplo a sequência “Original Nuttah” (Shy FX & UK Apache), “Do You Rock?” (TC) e “Right Here” (Rudimental), intercalada com remisturas de “Hit The Road Jack” (Ray Charles), “Bam Bam” (Sister Nancy) e “Welcome to Jamrock” (Damian Marley).
Com mérito, o duo vai levando os presentes à euforia. Em “Nobody to Love” (Sigma), Locksmith pede ao público para subir ao palco. “Nesta próxima, quero toda a gente cá em cima”, ordena à audiência, que, numa demonstração de lealdade, trata de encher a cabine, trazendo à memória experiências no Metro de Lisboa à hora de ponta. Porém, o músico arrepende-se e, no final do tema, pede a todos para regressarem ordeiramente aos seus lugares, “por uma questão de segurança”. Afinal de contas, não queremos que esta passagem pela discoteca portimonense se torne numa catástrofe.
A caminho da reta final, Locksmith, por esta altura sem t-shirt e completamente possuído pelo demónio, vai correndo de um lado para o outro, puxando pelo público, enquanto Agget vai assegurando as passagens. Do lado de cá, as pessoas fazem a festa e aproveitam o ambiente para encomendar mais garrafas e experimentar novos paladares. O nossos vizinhos franceses separam-se. Três deles arrancam em direção à pista para sentir a música – e o ambiente feminino – de perto, deixando o quarto elemento na zona VIP entregue às consequências das misturas de bebidas. Nos estrados, os bailarinos dão o tudo por tudo para acompanhar o ritmo. Locksmith e Agget aproveitam a ebulição geral e encerram o set com “Waiting All Night” e “Feel The Love”, os seus temas mais populares, acompanhados por jatos de fumo e euforia desmedida. A casa vai abaixo.
Manuel Rodrigues
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