O álbum, gravado em 1981, foi originalmente publicado com a chancela Orfeu, dirigida por Arnaldo Trindade, e “é uma homenagem e também uma referência histórica que releva a forma original e autêntica de José Afonso perante uma tradição que permanentemente inovou e recriou”, lê-se na apresentação da Mais 5.

O disco conta com as colaborações dos músicos Octávio Sérgio, Durval Moreirinhas, Júlio Pereira e Janita Salomé, e é dedicado ao pai de José Afonso, o juiz José Nepomuceno Afonso dos Santos, e a Edmundo de Bettencourt, que o criador de "Venham mais cinco" apontou como “o maior cantor de Fados de todos os tempos” e “um grande poeta”, numa entrevista citada pela Mais 5.

Neste disco estão incluídos vários temas com assinatura do madeirense Edmundo Bettencourt (1899-1973), entre eles “Saudades de Coimbra”, um poema de Mário Faria Fonseca que Bettencourt musicou, e poemas de Bettencourt, como “Mar Alto”, musicado por Faria Fonseca, e “Fado da Sugestão”, musicado por Alexandre Rezende.

A discográfica sublinha que “José Afonso afastava qualquer intenção revivalista da conceção canónica do Fado de Coimbra e de tradições folclóricas estudantis que renasciam em ambientes conservadores na Academia, para reforçar a importância de inovar na tradição, um processo que Edmundo Bettencourt iniciou na forma de cantar e na introdução de cantigas populares no fado”.

O alinhamento do álbum inclui ainda o “Fado D'anto”, de António Nobre, musicado por Francisco Menano, “Balada de Outono”, letra e música de José Afonso, “Inquietação” (E.Bettencourt/A.Rezende), “Fado dos Olhos Claros” (E. Bettencourt/M.F. Fonseca), a canção tradicional da Beira Baixa “Senhora do Almortão” e, também do cancioneiro tradicional, o “Vira de Coimbra”.

José Afonso, nascido em Aveiro, iniciou as lides musicais ainda estudante liceal em Coimbra, “tornou-se, através da canção e da energia militante, numa figura de referência da luta política [contra o regime de ditadura anterior ao 25 de Abril de 1974] e num dos expoentes públicos da vida musical portuguesa da segunda metade do século XX”, afirma a “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (2010).

José Afonso iniciou publicamente a sua carreira de cantor em 1953, tendo feito as primeiras gravações no Emissor Regional de Coimbra da então Emissora Nacional.

O seu repertório é variado, das baladas aos fados de Coimbra, passando pelas cantigas populares e por composições próprias, que marcaram a música portuguesa, como "Maio, maduro Maio" e "Era um um redondo vocábulo".

“Em 1952, a revista Via Latina referia a sua ‘voz suave e branda’ que contrastava com a tradicional forma ‘esgoelada e gritada’ de cantar o fado de Coimbra”, recorda a discográfica Mais 5.

Autor de “Grândola, Vila Morena”, uma das canções escolhidas para senha do avanço das tropas, na Revolução de Abril de 1974, José Afonso morreu em 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada cinco anos antes.

Para a Mais 5, a discografia de José Afonso “constitui um marco fundamental do nosso património cultural”.

A editora iniciou a reedição da obra discográfica do criador de “Galinhas do Mato” em outubro de 2021, com o álbum “Cantares do Andarilho”.

Em agosto de 2020, o Ministério da Cultura ordenou a abertura de um processo de classificação da obra fonográfica do músico José Afonso, como "conjunto de bens móveis de interesse nacional", iniciado pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), um mês mais tarde.

Em novembro de 2021, a DGPC deu o trabalho preliminar do processo por concluído com a verificação das 'masters' e cópias autênticas da obra fonográfica do músico, como disse então à agência Lusa.

A decisão de classificação foi tomada um ano depois de o parlamento ter aprovado um projeto de resolução do Partido Comunista Português, que recomendava ao Governo a classificação da obra de José Afonso como de interesse nacional, com vista à sua reedição e divulgação, e de a Associação José Afonso ter reunido mais de 11 mil assinaturas numa petição pública que apelava à mesma decisão.

Quano o processo teve início, em nota divulgada à Lusa, a família de José Afonso, detentora dos direitos da obra musical, manifestava o apoio à classificação e recordava que estava a "colaborar diretamente com o Ministério da Cultura, desde 2018", para que se desenvolvesse o processo.