Tal como "Always Outnumbered, Never Outgunned", o álbum anterior dos Prodigy, "Invaders Must Die" (2009) poderá desiludir aqueles que (ainda) esperam que a banda se mantenha na vanguarda dos cruzamentos de rock e electrónica, tarefa em que deu provas na primeira fase da sua discografia e cujo nível não têm conseguido igualar.
Nada que tenha impedido, contudo, que o disco entrasse directamente para a primeira posição do top de vendas britânico na semana do seu lançamento, o que comprova que a banda poderá já ter passado a sua fase áurea mas não pode queixar-se de falta de seguidores.

Entre estes contam-se os muitos fãs, que não se esqueceram do grupo apesar dos longos hiatos entre as últimas edições, e alguns projectos desta década claramente influenciados pelos autores de "Voodoo People" ou "Poison".
O resgate da energia e mesmo da iconografia que dominou os ambientes mais dançáveis de inícios de 90, para os quais os Prodigy foram referência incontornável, tem sido o ponto de partida para muitos discos da geração 00 (facção electrónica com doses generosas de pirotecnia).

E face a estes, "Invaders Must Die" não se sai nada mal na comparação, pois se não possui a inspiração da estreia de uns Crystal Castles resulta mais coeso do que as dos Klaxons, Hadouken!, Shitdisco ou Does It Offend You, Yeah?. James Rushent, elemento destes últimos, surge aqui como co-produtor, e a faixa-título do álbum quase poderia estar no disco da sua banda.
Mas quase todas as outras soam quase indiscutivelmente aos Prodigy, tanto para melhor (a identidade da banda é mais uma vez garantida) como para pior (os detractores têm muitos argumentos para acusar a falta de renovação).

O álbum é praticamente um cruzamento da electrónica mais lúdica e artesanal de "Experience" com o desvario punk incendiário de "The Fat of the Land" e serve para deixar claro que os Prodigy continuam a ser os melhores imitadores deles próprios.
Basta conferir o tempero reggae de "Thunder", a remeter para o já clássico "Out of Space", ou a vertente apocalíptica de "World's on Fire", pastiche de "Firestarter" (de boa colheita).

Outro ponto alto, "Omen" é um single portentoso com refrão forte que não envergonha a memória dos anteriores e "Omen (Reprise)" aprimora-o com uma irresistível combinação de teclados e sintetizadores.

"Invaders Must Die" só dá tréguas a ambientes nervosos em "Stand Up", um incaracterístico tema final que está mais próximo dos instrumentais dos Go! Team do que da fúria de sirenes, Keith Flint e Maxim registada nas canções anteriores.
Mas acaba por resultar enquanto momento de descompressão após tamanha descarga de adrenalina, fechando bem um disco que demonstra que os Prodigy, mesmo em modo old school - ou talvez por causa disso -, continuam a impor respeito dentro da electrónica mais agressiva.

Os Prodigy actuam a 31 de Julho, como cabeças de cartaz, no Palco Principal do Festival Paredes de Coura.

@Gonçalo Sá

Videoclip de "Take me to the Hospital":

Videoclip de "Omen":