O primeiro de quatro espetáculos na Super Bock Arena, no Porto, no dia 7 de novembro, com uma casa completamente cheia, foi, como era suposto, uma noite de celebração. Comemorar 30 anos de uma linda viagem é ímpar. Corremos, num frenesim, entre as lembranças do passado e as memórias do futuro, com a certeza que, ali, naquele instante, recebemos o maior de todos os presentes. A vida vale por momentos assim, mais de duas horas e meia de (muito boa) música! Obrigada, Pedro! Obrigada, Bandemónio! Obrigada, “Viagens”!
O espetáculo começa por volta das 21h45, com o ecrã do cenário a encher-se de imagens e mensagens, com 30 anos de história, de Nelson Mandela até uma entrevista de Pedro Abrunhosa. Estamos no século passado e ouvimo-lo dizer «para se viver é preciso tempo». Eis-nos, depois de tanta vida, depois de tanto tempo, prontos para celebrar 30 anos de “Viagens”.
Começamos, exatamente, ao som de “Viagens”, seguimos para o tema “Lua”, num rearranjo que dá voz ao instrumental. Serão vários os momentos da noite em que a letra dará espaço ao instrumento, onde cada acorde nos resgata, nos inebria e nos arrepia, em minutos que valem horas, numa viagem sem hora marcada. Segue-se a canção “Estrada”.
De uma assentada, três temas do álbum que - magicamente - celebramos, até ouvir-se «Boa noite, Porto». Esse instante marca a incrível empatia que haveria de perdurar até ao fim do espetáculo, onde os monólogos de Pedro, ao longo das canções, são testemunhos potentes do mundo onde queremos viver: das recentes eleições americanas, à guerra no Médio Oriente, da Paz que importa salvar, do fim da hegemonia e da xenofobia, o músico defende, como sempre o fez, uma estável harmonia que teima em escapar-nos entre os dedos.
No alinhamento, segue-se “Fantasia”, com a participação especial de Cláudia Pascoal, para seguir ao “Não tenho mão em mim”. Mas a noite, não é “apenas” uma ode aos 3.0 de “Viagens”. Há novas canções a celebrar, novos temas que o público haverá de entoar de fio a pavio, em próximos espetáculos, como o faz agora, com as canções que conhece de cor. Começamos com “Glória aos vencidos por Amor”, tema do próximo álbum a ser lançado no início do próximo ano.
De 2025, voamos para Longe, de 2010, com os temas “Fazer o que ainda não foi feito” e “O Rei do Bairro Alto”. Recuamos, um pouco mais, e paramos em 2003, no palco, com “Talvez Foder”. Nas voltas do Tempo (1996), celebrado e entoado com “Se eu fosse um dia o teu olhar” e o sussurrado magnífico tema “Será”.
Tempo para o novo poderosíssimo “Não te ausentes de mim”. “É sempre escuro antes de amanhecer” é outra nova canção, que há de fazer-se ouvir entre uma nova versão de “É preciso ter calma” ou “Mais Perto do Céu”.
Uma nota muito especial para a brilhante interpretação de Paulo Praça a solo, no corredor central que une o palco, do magnífico tema “Balada de Gisberta”.
A noite segue, entre o público que se levanta para poder dançar, para ter os braços bem no ar, para saltar ao som da música. Passamos “Mais perto do Céu”, a pensar que “Não posso mais”, mas seguimos “Acima & Abaixo”, como se o amanhã fosse palavra sem lugar no dicionário. O Agora é muito para se deixar passar…
A fechar “Ilumina-me”, num momento arrepiante, onde as lanternas dos telemóveis se elevam e criam um ambiente mais-que-perfeito, porque «Enquanto não há amanhã/ Ilumina-me, Ilumina-me»
No encore, Pedro Abrunhosa volta ao palco, com o figurino de 1994, e ocupa o centro do corredor central, sentado ao piano, para que se faça ouvir “Eu não sei quem te perdeu” e “Os braços da minha mãe”. No final, Cláudia Pascoal volta ao palco para interpretar com Pedro “Tudo o que eu te dou”.
«Mata-me de amor ou dá-me liberdade
Deixa-me voar, cantar e adormecer»
Pedro Abrunhosa - “Viagens 3.0” é morrer de amor e voar em liberdade, é cantar, dançar e voltar a casa. A casa feita de música. A casa onde «Tudo o que eu te dou / Tu me dás a mim / E tudo o que eu sonhei / Tu serás assim».
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