"Surfing the Void", o segundo álbum dos Klaxons, é editado a 23 de Agosto mas quem esteve ontem em Paredes de Coura já ficou a conhecer muitas das suas canções. O quarteto britânico foi o cabeça de cartaz da noite embora essa mão cheia de inéditos nem sempre tenha jogado a seu favor, uma vez que grande parte dos espectadores celebrou muito mais os temas já conhecidos - os de "Myths of the Near Future", disco que atirou a banda para a extensa lista de promessas brit há três anos.

Intercalando canções novas e antigas, o concerto obteve reacções intermitentes e esteve, por isso, uns furos abaixo da festa imparável criada pelo grupo no Optimus Alive!09, em Oeiras. "Gravity's Rainbow", "Magick", "Golden Skans" ou "It's Not Over Yet" (versão de um tema dos Grace) serão para muitos clássicos da efémera nu rave e foram recebidos com claro entusiasmo. Já as canções novas, apesar de geralmente interessantes, parecem ter funcionado como compasso de espera onde alguns espectadores que saltaram momentos antes acabaram mesmo por se sentar.

Mas mesmo com este desequilíbrio palpável, no final nem a banda nem o público pareceram desapontados. "Vocês são loucos, Paredes de Coura", disse o vocalista Jamie Reynolds ao admirar as reacções animadas de muitos fãs. E a intensidade destas atingiu o pico em "Atlantis to Interzone", um dos singles mais populares dos Klaxons - muito aplaudido logo aos primeiros segundos, ao som de sirenes, e sobretudo no final, mais explosivo. Ao longo de uma (curta) hora, o concerto nunca chegou a aproximar-se de um nível arrebatador, mas serviu para deixar curiosidade de ouvir o disco.

Também longe de memorável, ainda que escorreita q.b., a estreia dos White Lies em Portugal deixou evidente que o trio londrino tem carta branca para regressar. Numa altura em que a banda já está a trabalhar num novo disco, o primeiro acabou por dominar o alinhamento (à excepção de "Bigger Than Us", um tema novo).
E para alguns milhares foi melhor assim, até porque a vontade de acompanhar o vocalista no refrão de canções como "To Lose My Life" ou "Farewell to the Fairground" parecia ser muita. Sem acrescentar grande coisa aos códigos do pós-punk, o grupo consegue tornar trauteáveis algumas canções de tom sombrio, o que explica o óptimo acolhimento do tema final, "Death", a roçar a histeria colectiva.

Ainda dentro do pós-punk, mas do grupo dos fundadores e não dos seguidores, Peter Hook resgatou as canções do grupo que o celebrizou, os Joy Division. O ex-baixista da banda de Ian Curtis trouxe os seus The Light para uma revisitação de "Unknown Pleasures", disco que 31 anos depois continua a acumular devotos. Se na noite anterior os Cult tinham vencido muitos pela nostalgia (e pouco mais), nesta foi a vez do britânico repetir o feito. Os últimos momentos do concerto não deixaram quaisquer dúvidas: "Transmission" e o inevitável "Love Will Tear Us Apart" terão aumentado os batimentos cardíacos de alguns milhares e originaram um alvoroço poucas vezes superado ao longo da noite.

Avessos a tentações de nostalgia, os PAUS mostraram porque é que são uma das melhores surpresas da música nacional recente. O EP "É Uma Água" não enganava ninguém e em palco o quarteto reforçou a pujança numa actuação eficientíssima, capaz de aliar criatividade, nervo e coesão.
Temas longos e quase sempre instrumentais provaram que, nos festivais, o melhor nem sempre se guarda para o final, e quem esteve no Palco Paredes de Coura neste fim de tarde terá ficado esclarecido. E assim a bateria siamesa tocada por Hélio Morais (dos Linda Martini) e Joaquim Albergaria (ex-Vicious Five) promete mesmo tornar-se num símbolo forte do (pós)rock que se faz por cá - e que os PAUS fazem muito bem.

Pelo Palco Paredes de Coura passaram ainda os britânicos The Courteeners e o sueco The Tallest Man on Earth. Este sábado, a 18ª edição de Paredes de Coura termina com um cartaz mais estimulante encabeçado pelos Prodigy e onde constam ainda os Dandy Warhols, The Specials, Mão Morta ou Dum Dum Girls.

Texto @Gonçalo Sá/ Fotos @Alice Barcellos