Ao fim de apenas três canções, um dos vocalistas e guitarristas reforçou o pedido do baterista. "Ninguém se levanta? Vocês é que perdem, depois não digam que nós não avisámos", provocou Jónatas Pires, apelando a uma mudança de atitude do público que não teve grande resposta imediata. Mas o pedido foi aceite por muitos pouco depois, quando Os Pontos Negros tocaram um dos seus novos (e melhores) temas, "Duro de Ouvido".

"Mas tenho alegria dentro do meu coração" foi o verso que então se cantou, disseminando-se rapidamente do palco para os balcões e funcionando quase como frase-síntese do concerto. E também reflecte muito do que se encontra no novo disco do jovem quarteto, "Pequeno-Almoço Continental", um conjunto de canções de evidente sabor estival.
Essa atmosfera descomprometida já dominava o registo anterior, "Magnífico Material Inútil" (2008), mas desta vez o grupo soube contornar a excessiva homogeneidade da estreia com uma paleta instrumental mais variada e um maior cuidado na composição.

Embora Os Pontos Negros tenham feito jus ao nome com uma indumentária onde o preto vingou como cor de eleição (condizente com uma iluminação pouco solarenga e muito eficaz), o que ofereceram foi um rock quase sempre espirituoso e dançável.
Durante pouco mais de uma hora o grupo despachou o novo álbum, revisitou alguns momentos do anterior (onde o single "Contos de Fadas de Sintra a Lisboa" foi especialmente bem acolhido), desacelerou com uma versão de "Esta Balada Que Te Dou", de Armando Gama (com Filipe Sousa a sair-se bem no número de cantor de charme) e não se esqueceu de incluir "Salomé", uma das suas canções mais aconselháveis (gravada entre o primeiro e o segundo disco).

Já "Glória", talvez o momento alto de "Pequeno-Almoço Continental", mostrou que Os Pontos Negros não perdem nada quando concedem aos teclados o habitual protagonismo das guitarras. "Morre a Canção", o tema "instrumentalmente mais difícil", segundo confessou Jónatas, contou com um dos maiores crescendos de intensidade, no final, e "Se o Variações Fosse Meu Barbeiro" confirmou ter o palco como habitat natural, num dos episódios mais explosivos.

Poderá dizer-se que é difícil falhar quando se joga em casa - como foi claramente o caso, uma vez que no público estavam muitos familiares (nem os avós faltaram) e amigos da banda (incluindo alguns nomes da Amor Fúria e Florcaveira). Mas a actuação não deixou de justificar aplausos, sublinhando ainda que "Pequeno-Almoço Continental" é um passo seguro. E se os próximos concertos mantiverem a coesão deste arranque, talvez se torne também no disco de Verão de muitos.

Texto @Gonçalo Sá

Fotos @Mónica Oliveira