Nesta gravação, editada pela Artway Next, a OML é dirigida pelo seu maestro titular, Pedro Neves, e conta com a violinista Ana Pereira e com a violetista Joana Cipriano, como solistas.
O Concerto para violino e orquestra, composto em 2014-2015 em memória do violinista Gareguine Aroutionian, resulta de uma encomenda do Centro Cultural de Belém (CCB), onde foi estreado em 2016.
O Concerto para viola d'arco, concluído em 2016, foi composto a convite da violetista Diemut Poppen, que o estreou com a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Jan Wierzba.
A Sinfonia Subjetiva resultou de uma encomenda do CCB, onde foi estreada pela OML, em 2019, sob a direção do maestro Pedro Amaral.
Sobre a Sinfonia Subjetiva “entabula-se um diálogo com a tradição, que é sempre também a tradição do seu autor”, escreve a Artway no comunicado sobre a edição deste álbum.
António Pinho Vargas, citado pela discográfica, afirma que não lhe é fácil, nesta altura, falar destas três obras. "Cada uma destas composições tem uma motivação muito particular, muito íntima, no que respeita mais aos segredos da vida do que a quaisquer segredos de composição (inexistentes). Desse modo - depois da interrupção trágica e já quase esquecida da pandemia - que as tenha podido ouvir nos três dias das gravações no CCB tão admiravelmente tocadas, não deixou de me surgir como uma aparição quase miraculosa e muito comovente”.
Para António Pinho Vargas, nascido há 72 anos em Vila Nova de Gaia, “a música tem de se realizar em obra enquanto música”.
“Heidegger passa muitas páginas a tentar demonstrar, com a sua persistência circular, que antes de ser obra, uma obra de arte é uma coisa. Estamos tão habituados à expressão ‘obra de arte’, seja qual for o seu meio de expressão específico, que podemos muito bem esquecer esse caráter primordial e milenar: ‘coisas’ resultantes do trabalho humano na sua ânsia de tratar, de trabalhar, de enfrentar na obra, os seus medos, anseios, desejos, enfim, o seu desejo último de expressão, de dar uma razão de ser secreta à sua vida", afirma o compositor, citado na apresentação do novo álbum.
"Nesta ambivalência sempre presente reside tanto o lado mais maravilhoso como o mais duro", prossegue o compositor. "No longo tempo do fazer das obras, ‘os criadores’ – um termo que por si só exprime o inalcançável divino perfeito que paira por cima – fazem sempre o melhor que podem e quando acontece uma emoção estética somos obrigados a celebrar: a obra conseguiu existir, interpelar e tocar os ouvintes”.
Sobre o Concerto para viola d'arco, em particular, Pinho Varhas afirma que usou como metáfora fundadora "O Livro de Job". "Leituras" é assim o subtítulo da obra, que tem Fé, Dúvidas, Lamento, Dúvidas e Fúrias e, por fim, Coda: fé, como títulos dos quatro andamentos.
"A ligação [entre estas designações] é meramente especulativa, pessoal", diz Pinho Vargas, que acaba por descrever os andamentos um a um como "uma situação estável, uma turbulência inesperada, uma meditação perplexa (III-Lamento) e um desenlace próximo da grande intensidade quer das dores quer do vislumbre de uma pacificação final”.
António Pinho Vargas é licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Completou o Curso de Piano do Conservatório do Porto em 1987, e o Curso de Composição, no Conservatório de Roterdão, em 1990, onde estudou com Klaas de Vries, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1987 e 1990.
Pinho Vargas foi professor coordenador de Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, de 1991 a 2019, e investigador-colaborador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Em 1995, foi condecorado pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2012 recebeu o Prémio Universidade de Coimbra pelo conjunto da sua obra e, em 2014, o Prémio da Autores, da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), pela sua obra “Magnificat” para coro e orquestra. Em 2015, a SPA entregou-lhe a Medalha de Honra.
A informação da Artway recorda que António Pinho Vargas compôs quatro óperas, cinco oratórias, catorze peças para orquestra, oito obras para ensemble, 26 peças de música de câmara, 11 obras para solistas. Destacou-se igualmente como compositor e solista na área do jazz.
A sua discografia reúne álbuns como “Outros Lugares” (1983), “Cores e Aromas” (1985), “As folhas novas mudam de cor” (1987), “Os Jogos do Mundo” (1989), “Selos e Borboletas” (1991), “A Luz e a Escuridão” (1996), “Requiem & Judas” (2014), a ópera “Os Dias Levantados” (2004), com libreto do poeta Manuel Gusmão, “Verses and Nocturnes” ( 2015), “Monodia - Quase um Requiem” (1994), “Magnificat - De Profundis” (2017), "Six Portraits of Pain" (2008) e “Concerto para violino” (2017).
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