Aos 29 anos, com a edição hoje de “Fim do Mundo”, Mizzy Miles cumpre parte do plano que traçou quando decidiu desistir do curso superior de Gestão para cumprir o sonho de trabalhar na indústria musical.

“Todos os meus passos, todas as minhas decisões e todas as minhas escolhas e atitudes levaram-me precisamente a este momento, que é o lançamento deste álbum, que é para mim a consagração e a materialização de todos os meus passos, de todos os meus sonhos, de todas as minhas visões”, disse o DJ e produtor, em entrevista à Lusa.

Criado entre Lisboa e o Rio de Janeiro, na adolescência ponderou ser rapper, mas como não gostava de ouvir-se, acabou por dedicar-se ao skate, a “segunda paixão de vida”.

Os primeiros passos enquanto DJ e produtor foram dados em 2017. E tudo o que sabe aprendeu sozinho: “A minha escola foi o YouTube”, partilhou.

Quando começou sabia qual era o caminho a seguir para tornar-se num DJ Khaled ou Metro Boomin, os seus ídolos, produtores que também são artistas, “não estão só na sombra”.

“Aquilo que queria fazer quando comecei era tornar-me exatamente na pessoa que sou hoje. O produtor, DJ, que é artista, dá a cara, que faz música com os melhores artistas do momento, que consegue juntar vários estilos diferentes, várias nacionalidades diferentes, culturas diferentes. Ser uma pessoa que representa a união e a diversidade e que consegue fazer coisas acontecer, de uma maneira diferente e diferenciada”, disse.

Quando em 2020 editou o primeiro single, “Safe”, com a participação Lon3r Johny, Lhast e 9 Miller, já tinha na mente um álbum, que sairia no ano seguinte.

“Estava ‘delusional’ [delirante, em português], sem noção de nada do que era necessário para um projeto como este [álbum ‘Fim do nada’] acontecer”.

Dos singles que foi editando desde então, que registam milhões de audições na plataforma de streaming Spotify, cinco acabariam por ficar fora do álbum, “porque não fazia sentido [estarem lá], já tinham muitos anos”.

O mais antigo é “Europa”, editado em 2022 e que conta com a participação de Deejay Télio, Gson e Teto. Mizzy Miles decidiu inclui-lo, porque “foi um marco, que mudou a vida” do DJ e produtor, assim como a sua “perspetiva de tudo”.

Além de Deejay Télio, Gson e Teto, o álbum conta também com a participação dos Wet Bed Gang, Julinho KSD, Slow J, Ivandro, WIU, Nenny, MC PH, Agir, Zara G, Diogo Piçarra, SleepyThePrince, Profjam, Bispo e Van Zee.

Muitos, à semelhança de Mizzy Miles, são representantes da nova geração do hip-hop em Portugal, que contabiliza milhões de audições e visualizações online e esgota salas de espetáculos como os coliseus ou a MEO Arena, algo impensável há uma década.

O quarto tema do álbum, “18-09-2023”, remete para isso. Trata-se de um ‘áudio’ enviado por Slow J a Mizzy Miles, a 18 de setembro de 2023, no qual o rapper passa ao DJ e produtor “a vivência dos MEO Arena”. Slow J encheu a maior sala de espetáculos portuguesa em setembro do ano passado dois dias seguidos.

“O Slow J encheu dois MEO Arena, o Plutónio também esgotou dois [os espetáculos estão marcados para 28 de fevereiro e 03 de março]. Temos o [Van] Zee a esgotar o Coliseu [dos Recreios, marcado para 07 de fevereiro], o Bispo a esgotar dois Coliseus [29 de março no Coliseu dos Recreios está esgotado, mas ainda há alguns bilhetes para 29 de março e há um espetáculo no Coliseu do Porto em 22 de março]. Isto é uma coisa que já não há como fugir, é inevitável. Não é só quando vem alguém de fora que enche o MEO Arena. Nós também conseguimos. Claro que não é uma coisa simples, há todo um trabalho por trás que tem que ser feito. Ele [Slow J] foi dos primeiros a tomar esse risco e daqui a cinco anos vai ser uma coisa normal”, referiu.

Atuar na maior sala portuguesa também está nos planos de Mizzy Miles, “como é óbvio”. Só não sabe quando, “mas a altura certa vai chegar e quando chegar ‘everybody will know’ [toda a gente vai saber, em português]”.

Embora ainda não tenha chegado à MEO Arena, Mizzy Miles já atuou no Rock in Rio Brasil, no ano passado, “um privilégio absurdo”, que “nem dá para pôr em palavras”.

Nos últimos dois anos tem “semeado e regado bastante” a relação com o Brasil, mercado que também quer “explorar bastante” e do qual quer aproximar-se “cada vez mais”.

“No álbum tenho quatro temas com a presença do Brasil [com os rappers WIU, MC PH e Teto], a unir a ponte entre Portugal e Brasil, estas duas culturas que falam a mesma língua, mas que são tão distantes às vezes em tantas coisas”, lembrou.

Com “Fim do Nada” quer mostrar a quem o ouvir “que tudo é possível”.

“O som 'Fim do Nada', que deu o nome ao projeto, no refrão diz ‘o importante é fazer acontecer, esse é o PIN do fim do nada’. O PIN que desbloqueia o fim do nada é fazer acontecer. E o que é fim do nada? É o momento em que o nada deixa de existir. Em que o não ter, não ser, não haver desaparece e nós atingimos aquilo que sempre desejámos. Tornámo-nos a pessoa que sempre desejámos ser, materializámos uma visão, materializámos um sonho”, explicou.

A materialização do sonho de Mizzy Miles inclui também uma editora, a Make More, que já criou, e uma, que espera de muitas, digressão que está a ser marcada para este ano, além de um espetáculo “numa sala grande, a anunciar em breve”, no qual quer juntar todos aqueles com quem “foi um privilégio” o álbum “Fim do Nada”, “um legado que vai viver para sempre”.