![Mallu Magalhães no CCB: O Sambinha Bom de uma Velha e Louca](/assets/img/blank.png)
Batiam as 21h00 e uma sala já quase cheia ameaçava um concerto bem quente, com ares de um verão brasileiro em pleno inverno luso. Dez minutos depois, o concerto começou. “Cena”, um dos primeiros temas do álbum “Pitanga” a ser lançado, abriu o espetáculo. Uma tímida Mallu entra em palco, acompanhada por uma banda de luxo e bem portuguesa: Fred Ferreira, Martim, Alexandre Bernardo e Diogo Duque fizeram-se os homens da noite, num serão em que só a garota do samba importou. De preto e branco trajou-se o ensemble de músicos. Já Mallu apresentou-se com um top branco, saia comprida preta, descalça. Com o cabelo apanhado e de olhar doce e tímido avança para uma ritmada sequência, cheia de blues, composta por “Youhuhu”, “Ô, Ana” e “In The Morning”. Num intervalo para regular a fita da guitarra, uma Taylor cor mogno, aproveita para dar as boas noites ao público.
Seguiram-se “Olha só, moreno”, uma ode ao amor que acompanhou ao órgão, e “Porque Você Faz Assim Comigo?”. Tema após tema, a temperatura da sala foi aumentando, com uma menina tímida que se acabaria por soltar com a simpatia dos presentes. Sempre de sorriso na cara e olhos brilhantes, Mallu mistura o inglês com o português nos seus temas mais recentes mas também em “clássicos”. Do primaveril e anterior álbum ouve-se “Tchubaruba”, que remonta ao ano de 2008 e a uma jovem Mallu de cara de menina mas voz de mulher. A sua voz é madura e de uma doçura incomparável.
Por entre brincadeiras com o público e já com o cabelo e a alma soltos, sozinha com o violão nas mãos, apresenta três canções “que ainda não foram inauguradas, mas não são inéditas, porque já foram tocadas ao vivo”. “Não Se Apavore Não”, que termina com um riso baixinho e envergonhado, “Quando Você Olha Para Ela” e “Lost Appetite”, uma canção de Moçair Santos, na qual se engana, logo no início, para depois recomeçar, entre sorrisos e um "pera aí" bem disposto.
A banda volta, então, ao palco, para acompanhar a menina mulher, que aproveita para agradecer a presença de todos, principalmente dos músicos que aceitaram o convite de estarem com ela em palco.
Do público, durante um momento de silencio, surge um som quase que a imitar um pequeno pássaro. Mallu ri e provoca: “isso é uma competição de canarinho?”, retornando um chilrear que provocou um dos momentos mais descontraídos e divertidos da noite.
“Lonely” toca e segue-se o single de apresentação de “Pitanga” e um dos temas mais esperados da noite pelo público. “Velha e Louca” apresenta uma Mallu descontraída, sem instrumentos na mão, a dançar pelo palco numa celebração da vida e do amor. O público manifesta-se em força pela primeira vez na noite e, com palmas e assobios, acompanha a loucura da brasileira.
Respiração controlada novamente e apresenta-se a última da noite. O público lamenta, mas é avisado que pode sempre pedir mais uma. "Se pedirem, vêm mais três músicas. Se não pedirem, serão três músicas atiradas para o lixo, um mês e meio de trabalho”, confessa em tom de brincadeira, já entravam os primeiros acordes de “Highly Sensitive”.
O fim do concerto fez-se de cantorias conjuntas com o público, que acompanhou com “ohh ohh ohh”'s e palmas o ultimo tema da noite, antes do encore. Palmas, apupos, assobios e tudo mais. Não havia mais o que fazer para chamar a atenção de Mallu. O público chamava. Muito. E eis que a menina da noite volta. Sozinha, dirige-se ao órgão e confessa que sabia ter estragado a surpresa do encore, mas ninguém parece estar incomodado. Suspenses à parte, quer-se sempre mais de Mallu. “Fiquei nervosa quando me disseram que tinha estragado a surpresa”, admite enquanto pede para que o som dos seus in-ears seja aumentado. “Cais” surge logo de seguida, com uma introdução ao teclado e poucas palavras. Um música curtinha que acelera o retorno dos restantes músicos para o palco. Do público, uma voz brasileira, que lembrava casa, pede “Sambinha Bom”. Um sorriso por parte da artista revela que está para chegar, logo após mais um tema em inglês.
Do violão ouvem-se, por fim, os primeiros acordes de uma das mais esperadas da noite. A banda só entra no samba mais tarde, já o pé balança e bate no chão. Martim abandona o baixo para tocar uma espécie de badalos e ataca o órgão logo de seguida. O samba ganha outra vida e ritmo quando ao colectivo de músicos se junta Marcelo Camelo, o moreno do cabelo enroladinho de Mallu, para ajudar à festa. O samba termina e a festa também. A banda reúne-se na frente de palco, num abraço colectivo, onde o preto, o branco e a alegria imperam.
Um CCB lotado pede mais. Poucas eram as cadeiras que se viam vazias e as ocupadas estavam agora sem ninguém, com um público numa ovação em pé a pedir por mais calor. Mallu retorna a palco mas apenas para agradecer mais uma vez.
Texto e fotografia: Marta Ribeiro
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