A análise é feita à agência Lusa por João Matias, antropólogo e coordenador do Museu do Cante Alentejano, com base no inventário nacional realizado por este projeto da Câmara de Serpa, no distrito de Beja, e também em dados anteriores.
“O primeiro inventário sistemático foi feito em 2020 e, embora tivéssemos dados anteriores, percebemos, por exemplo, que o primeiro efeito da patrimonialização, do ponto de vista quantitativo, foi o aparecimento de muitos grupos corais e cantadores”, afirma.
João Matias estima que, em 2015, o ano a seguir à distinção como Património Cultural Imaterial da Humanidade, existiriam cerca de 150 grupos corais, realçando que o inventário nacional mostrou que, em fevereiro de 2020, antes do início da pandemia de covid-19, eram 189.
“Houve um grande entusiasmo, como é normal, e apareceram muitos grupos corais, sobretudo jovens”, mas, com a pandemia de COVID-19, “praticamente todos” foram obrigados a parar, o que “fez com que alguns tivessem sofrido bastante com isto. Alguns até desapareceram e outros fundiram-se”, assinala.
O inventário, salienta o coordenador do Museu do Cante Alentejano, foi atualizado este ano e os dados mostram que os grupos “reagiram relativamente bem”, ainda que haja “menos grupos e menos cantadores” do que em 2020.
“Mas isso também tem a ver com outros aspetos, nomeadamente com o despovoamento desta região”, ressalva.
Este ano, segundo o responsável, o inventário nacional registou 164 grupos corais ativos, com 3.105 cantadores, cuja maioria, cerca de 60%, está no distrito de Beja, seguindo-se Évora e Lisboa.
“É curioso porque estão a aparecer grupos em Lisboa. Havia muito poucos e, agora, começam a aparecer mesmo no ‘coração’ de Lisboa, por exemplo, em Alcântara e Benfica”, destaca.
A maioria dos grupos corais é constituída apenas por homens, à frente dos que são formados só por mulheres e dos mistos, havendo ainda coletivos de crianças e jovens, muitos ligados às escolas.
O inventário é uma das tarefas do museu, mas, em Serpa, o espaço museológico possui um centro interpretativo, onde os visitantes podem conhecer, através da exposição permanente, a história do cante alentejano e até ouvir ou cantar modas.
Um auditório, uma galeria de exposições temporárias, um centro de documentação e loja são outras valências do espaço, que, este ano, de acordo com João Matias, “aproxima-se muito dos 5.000” visitantes.
O público que procura o espaço “é muito diversificado, temos turistas um pouco de todas as nacionalidades, que visitam Serpa, e há muitos portugueses também”, refere.
Elementos dos próprios grupos corais também visitam o museu, assim como “cantores estrangeiros de outros géneros, muitos cantores clássicos, que querem comparar aquilo que fazem e são muito curiosos por este canto popular tradicional e procuram muitas pautas, por exemplo, e querem levar consigo”, acrescenta.
O cante alentejano foi classificado, em 27 de novembro de 2014, como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), na sequência de uma candidatura apresentada pela Câmara de Serpa e pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
Comentários