PP – A primeira faixa de “Perto Como”, "Ikari”, resulta de um sample retirado do filme “A Guerra do Fogo”, de Jean Jacques Annaud - um exercício que nos reporta aos primeiros tempos da era humana e da pura descoberta. A esta ideia pode aplicar-se algum tipo de paralelismo com a vossa música? Estão os Guta Naki em constante pesquisa (musical)?
Cátia Sá Pereira - Só não chamo paralelismo porque há uma tangência, queremos tocar no que nos toca, a descoberta dá-se no toque. Como fazer o fogo, como mantê-lo, como cuidá-lo. É o deslumbramento pela chama, o nosso processo é esse: chamamos a chama.
PP – Uma das maiores diferenças de “Perto Como” em relação ao vosso primeiro disco é a presença mais assídua da bateria, em detrimento da eletrónica. A Cátia também toca agora guitarra… Estas questões foram pensadas ou surgiram naturalmente?
CSP - Pensar é deixar surgir naturalmente, ir pensando, ir fazendo, vamos tendo desejos e concretizando as vontades. A parte rítmica foi sendo composta a partir de samples de bateria e beats programados, não houve propriamente uma intenção de substituição. A segunda guitarra surgiu como mais um processo de composição. Algumas canções nasceram assim, o esqueleto delas, voz e guitarra, mais como base para compor as melodias de voz e as letras.
PP – Ainda no que toca à “nova” sonoridade dos Guta Naki, notam-se alguns tiques “tropicais”, como por exemplo em “Onde Ela Mora”. Notam que evoluíram enquanto músicos e intérpretes, comparativamente ao vosso primeiro registo?
CSP - Notamos que tudo se desenrola, foi uma evolução no sentido da transformação se dar de forma gradual e progressiva, contínua.
PP – Depois de ouvir “Perto Como” sente-se que este é um disco de corpo inteiro, pensado e trabalhado meticulosamente. Em que e como basearam o seu processo criativo?
CSP - Um dos processos foi gravar todos os ensaios, fazíamos vídeos, temos registo de quase todos os começos das músicas.
PP – Não há dúvida que a internet é uma das formas mais imediatas e financeiramente mais atrativas de promover um trabalho. No final de janeiro deram um concerto através do vosso site. Como surgiu essa ideia? Pensam repetir a mesma?
CSP - Não me lembro como surgiu, tínhamos tido a ideia de um concerto online antes de lançarmos o primeiro disco, concretizámos agora. Repetir é uma hipótese, sim, gostámos da experiência, íamos conversando com o público pelo chat, foi interessante.
PP – De volta à vossa musicalidade... Os Guta Naki emanam uma atmosfera que mistura desejo e ingenuidade, através de uma poesia “literária” e complexa. Onde vão buscar a vossa inspiração?
CSP - Não sei se percebo bem em que sentido é que consideras ingénua, a arte é sempre uma construção. A inspiração vem de todo o lado, dos livros, dos sonhos, da música, das conversas, das pessoas, a vida faz a ficção e vice-versa.
PP – Sentem algum carinho particular por alguma das vossas composições?
CSP - Todas elas têm o seu lugar. Dependendo do dia, podemos ter alguma que preferimos ouvir... Hoje estou em dia de “Onde Ela Mora”.
PP – Ainda que estejamos sob o efeito de um novo lançamento, tivemos de esperar quase quatro anos para voltarmos a ter novidades dos Guta Naki. Não vos pareceu demasiado tempo?
CSP - Na verdade, foram três anos e pouco: o primeiro disco saiu em novembro de 2010, e este em fevereiro de 2014. Foi o tempo necessário para fazer o disco que queríamos fazer, não achámos muito. Em alguns momentos sentimos a pressão do tempo, mais pela ansiedade de mostrar as coisas novas, mas isso não interferiu para acelerar o processo.
PP – Têm certamente preparada uma série de eventos para apresentarem “Perto
Como”...
CSP - Temos algumas datas em agenda, vamos anunciando na nossa página do facebook. Passem lá!
Texto: Carlos Eugénio Augusto
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