Foram só dois em palco mas tanto Johnny Jewel como Ida No cumpriram bem o seu papel. Ele, mais concentrado mas ainda assim irrequieto, ocupou-se das texturas das canções, disparando algumas combinações irresistíveis de teclados e sintetizadores. Ela, quase sempre saltitante, não só cantou como tratou das apresentações e dos contactos mais próximos com o público. O que disse nem sempre foi muito perceptível - "Ela está a falar com a língua enrolada, completamente!", comentou uma espectadora já no encore -, o que não se tornou propriamente um problema. Num alinhamento com uma componente dançável tão vincada, a linguagem corporal foi mais determinante e aí a vocalista comunicou sem entraves, acendendo o rastilho para uma actuação com alguns picos de adrenalina.

Se na capa do primeiro álbum dos Glass Candy, "Love Love Love" (2003), Ida No lembrava uma jovem Debbie Harry (dos Blondie), ao vivo fez a ponte entre a vertente mais rude de Karen O (dos Yeah Yeah Yeahs) e a carga intrigante de Kate Bush, nos temas menos acelerados. Quase incansável - ainda parou para recuperar durante alguns segundos, atirando depois as toalhas ao público -, vestiu a pele de diva disco sound (em "Miss Broadway" ou "Beatific") num concerto que passou também pelo italo-disco (em momentos mais nebulosos mas ainda frenéticos, caso do excelente "Life After Sundown", forte candidato a medalha de ouro da actuação).

Dificilmente alguém reclamaria caso o concerto se tivesse alargado mais alguns minutos, até porque uma hora de duração soube a pouco. Seja como for, numa altura em que quem quiser revisitar o início dos anos 80 numa pista de dança conta apenas com os singles da praxe ou, por vezes, com as homenagens pós-punk feitas por bandas dos anos 00, reapropriações como as dos Glass Candy são sempre um bálsamo para os ouvidos. Mesmo que a duração das actuações não vá muito além dos mínimos olímpicos.

@Gonçalo Sá

Videoclip de "Feeling Without Touching":

Videoclip de "Life After Sundown":

Videoclip de "Digital Versicolor":