São duas noites de concertos no Parque Urbano do Seixal, no distrito de Setúbal, que têm como objetivo fomentar propostas artísticas que tenham como elemento central do seu discurso a intervenção: desde a política à crítica social, do ativismo ambiental às lutas contra a discriminação de raça e género, passando pelas questões relacionadas com a defesa das identidades culturais e dos direitos à autodeterminação, como sublinha a informação hoje divulgada pela organização.

O Festival do Maio é uma iniciativa da Câmara Municipal do Seixal com direção artística do músico Luís Varatojo e, segundo a sua organização, pretende dar continuidade a um legado de resistência e luta "que é marca identitária das gentes e da história do concelho".

"Numa altura em que se assiste ao avanço dos populismos e das derivas autoritárias um pouco por todo o mundo, e em que a ordem do dia é desinformar - sobretudo através da disseminação de notícias falsas - torna-se urgente intervir, informar e acordar consciências; como dizia o Zeca [Afonso]: 'O que faz falta é avisar a malta'”, refere a organização.

As artes, adianta, e sobretudo a música, têm um papel fundamental no esclarecimento e mobilização dos cidadãos e na persecução de ideais que conduzam a sociedades mais evoluídas e mais justas.

No primeiro dia do festival, a 26 de maio, atuará Peaches (Canadá), uma ativista dos direitos LGBT que é considerada uma figura de proa do movimento electroclash do início dos anos 2000.

O seu espetáculo foi já apresentado em diversos países da Europa, nos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia - em nome próprio em alguns grandes festivais. Em Portugal, Peaches passou em 2017 pelo Festival NOS Alive e mais recentemente pelo novo festival MEO Kalorama, em Lisboa, em setembro de 2022.

No mesmo dia atua também Moullinex, o alter ego do produtor português, DJ e multi instrumentista Luís Clara Gomes.

"Da ciência à arte, da espontaneidade ao formalismo, do orgânico ao artificial, do isolamento à comunidade, Moullinex prospera em interceções. É nelas que cria música que tanto vive dentro dos limites da pista de dança, como permite introspeção ao ser escutada na intimidade dos 'headphones'", explica a organização.

Ainda no dia 26, o programa conta com a atuação de Prétu Chullage, rapper, 'dizedor', produtor e 'sound designer' de origem cabo-verdiana e criado na margem sul de Lisboa (Seixal).

Tem três álbuns editados ("Rapresálias", 2001, "Rapensar", 2004 e "Rapressão", 2012) e várias colaborações com outros músicos.

Prétu é o mais recente projeto, um trabalho com base nas suas referências africanas e eletrónicas onde expressa o seu pensamento sobre o colonialismo, o Pan-africanismo e o contexto político de África e da sua diáspora.

No dia 27, o cartaz é composto por Gabriel o Pensador (Brasil) e Sam The Kid com Orelha Negra e Orquestra.

Pioneiro do movimento hip hop no Brasil, Gabriel o Pensador mostra no espetáculo que celebra os seus 25 anos de carreira que é muito mais do que rapper: é compositor, músico, contador de histórias e, acima de tudo, um comunicador, diz a organização.

No repertório está o novo sucesso "Tô feliz (matei o presidente 2)" e clássicos como “Retrato de um Playboy” (1993), “2345meia78” e “Cachimbo da paz” (1997), “Astronauta” (1999) e “Até Quando” (2001); além de canções do seu último trabalho “Sem Crise”, como ”Surfista Solitário” - versão para o sucesso de Jorge Ben Jor "1980" -, e “Linhas tortas”, música que conta a sua trajetória, das redações que escrevia nos tempos de escola até se tornar “O Pensador”.

Já Sam The Kid está de volta aos concertos em nome próprio apresentando-se ao lado da sua banda de sempre, os Orelha Negra (Fred Ferreira, Francisco Rebelo, João Gomes e DJ Cruzfader), e também com uma orquestra de 24 elementos lideradas pelo maestro Pedro Moreira.

À semelhança das edições anteriores, os vídeo poemas gravados por artistas de diferentes áreas - cantores, atores, escritores - pontuarão os espaços entre as atuações.